Síndrome do Overtraining (Quando o mais vira menos)

A síndrome do overtraining (excesso de treinamento) é um distúrbio complexo identificado na população atlética que representa uma resposta mal adaptativa ao treinamento. Ocorre em ambas atividades, seja aeróbica ou anaeróbica. É Importante ressaltar que não é exclusiva de atletas de elite, esportistas recreativos também podem ser acometidos.

Uma teoria defendida para justificar esta síndrome, é um desequilíbrio entre os sistemas autônomos (simpático e parassimpático) levando à manifestações sistêmicas como fadiga, cansaço excessivo, sonolência, irritabilidade, falta de foco, queda de desempenho e depressão.

O Aleta passa e não ter ânimo de treinar

O Overtraining também afeta o sistema imunológico deixando o indivíduo mais propenso à infecções, aumentado quadros gripais. Distúrbios gastrointestinais também podem ocorrer, como episódios de diarréias, cólicas e sintomas de queimação.

Também está presente alteração do limiar de dor, aumentado a fadiga e as dores musculares pós treino, com perda de interesse no treinamento de alto nível e assim desencadeando uma  espiral de perda de desempenho.

Não há diretrizes amplamente aceitas para estabelecer o diagnóstico da síndrome do overtraining (OTS).  A avaliação do atleta fatigado geralmente requer várias visitas clínicas durante as quais o médico considera cuidadosamente um diagnóstico diferencial.

Na  avaliação o médico do esporte obtém um histórico completo com foco na queixa principal, programa de treinamento, sono, estressores da vida, dieta, medicamentos e doença recente ou crônica muitos casos, é comum o relato do atleta recentemente ter aumentado sua carga de treinamento em preparação para uma competição.

Retornar aos níveis pré Síndrome passa a ser um desafio

A avaliação laboratorial costuma fazer  parte da investigação e  inclui um hemograma completo, ferritina, painel metabólico e bioquímico básico, função hepática, avaliação hormonal da tireoide e hormônios sexuais. Outros estudos laboratoriais podem ser indicados com base na história e evolução.

Feita a suspeita de Overtraining com base na avaliação inicial, orienta-se  que o atleta diminua substancialmente a intensidade de seu treinamento.  De um modo geral, o descanso completo não é recomendado, pois isso pode causar destreinamento e aumento do estresse psicológico.  Durante esse período, os atletas podem participar de algum tipo de exercício recreativo leve (ou seja, não extenuante) para manter um nível básico de condicionamento físico enquanto o trabalho é realizado.

Para alguns atletas, as recomendações gerais para “desacelerar” podem não ser suficientes.  Nesses casos, o médico pode prescrever no máximo 30 minutos por dia de exercícios aeróbicos leves usando um aparelho elíptico ou bicicleta, ou nadar em intensidade leve (aproximadamente não mais que 65 a 70% da frequência cardíaca máxima), os  exercícios com pesos só orientados para serem feitos em dias alternados, com séries de 12 a 15 repetições com pesos leves (40 a 50 por cento da carga máxima de uma repetição)

O retorno às atividades deve ser bem orientado.

Assim como a etiologia da síndrome do overtraining não é totalmente compreendida, também é a abordagem ideal para o gerenciamento.  O tratamento  é baseado em grande parte na experiência clínica e na intuição.  É importante perceber que não há “solução rápida”.  Em última análise, o descanso e sempre abordagem essencial e pode ser curativo.

Se um atleta apresentar sinais de fadiga e desempenho em declínio, apenas diminuir a intensidade do treinamento em 50 a 75% por uma a duas semanas pode resultar em melhor desempenho no treinamento e na competição.  Se os sintomas forem mais graves, de maior duração ou não responderem à diminuição da intensidade do treinamento, é provável que sejam necessárias restrições mais significativas, incluindo redução significativa em todos os treinamentos de alta intensidade e no número de sessões de treinamento por semana, com apenas intensidade leve.

O médico do esporte também deve buscar possíveis fontes de estresse emocional, uma revisão cuidadosa da dieta e do horário de sono do atleta é tão importante quanto uma revisão dos horários de treinamento e competição.  A consulta precoce com um nutricionista e psicólogo pode ser benéfica.  A vigilância contínua de sinais e sintomas de outras causas de fadiga é importante.

A fadiga e dores musculares são comuns no Overtraining

Uma vez que um atleta tenha sido diagnosticado com overtraining, as decisões sobre o tratamento e os planos de retorno à atividade são mais bem tomadas como uma equipe multidisciplinar que inclui o clínico, geralmente médico do esporte, que gerencia os cuidados e envolve no circuito outras especialidades médicas, treinadores esportivos e profissionais envolvidos com o paciente.  A comunicação estreita entre esta equipe é importante.  Além disso, incluir o atleta no processo de tomada de decisão com essa equipe pode ser importante para garantir o cumprimento das modificações do treinamento.

O treinamento para atletas em recuperação de overtraining deve ser gradual e sequencial.  Inicialmente, o atleta deve se concentrar em aumentar gradativamente a frequência do treinamento, seguido pela duração de cada sessão de treinamento e, por fim, a intensidade das sessões de treinamento.  Aumentos bruscos no volume ou intensidade do treinamento devem ser evitados.

O retorno pleno de um atleta ao treinamento e competição não deve prosseguir até que os sintomas e sinais fisiológicos e psicológicos associados  tenham sido resolvidos e o desempenho do atleta esteja se aproximando do alcançado antes do diagnóstico. Ao retornar ao treinamento e competição completos, o atleta deve ficar mais vigilante com o sono, nutrição, carga de trabalho e estresse relacionado à competição. A chance de novo episódio de overtraining é maior nos atletas com histórico de episódio prévio.

Bom treino!

 

Dr Bruno Sthefan Médico do Esporte

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