Aptidão cardiovascular é fundamental para saúde do idoso.
O envelhecimento humano é inevitável. Contudo, nossas escolhas podem impactar diretamente em como passaremos por esse processo. Atualmente, a Medicina do Estilo de Vida, a Geriatria e a Medicina Integrativa apresentam abordagens muito eficientes relacionadas ao estilo de vida, que resultam em grande benefício na saúde e autonomia do idoso.
Dr. José Renato G. Amaral, experiente geriatra do Hospital das Clínicas da FMUSP, e adepto da abordagem da Medicina do Estilo de Vida, sintetiza nessa matéria os benefícios e impactos positivos do padrão de estilo de vida saudável na maior idade. Confira!
Uma queixa recorrente que ouvimos quando alguém reclama da idade é que “tudo dói”. Muita gente que nem velha é diz que se sente como tal por ter dores musculares ou nas juntas, como se a idade dependesse da quantidade de sofrimento que experimentamos. Ora, se há idosos que não se queixam de quaisquer dores e têm um desempenho funcional excelente, não dá mesmo para achar que é a passagem do tempo a sua causa.
As pessoas de mais idade têm mais dores esqueléticas por dois principais motivos: o primeiro, de ordem estrutural (a alteração da composição do corpo e o desgaste das estruturas do aparelho locomotor) e o segundo é o descondicionamento físico. As alterações estruturais são parcialmente modificáveis, discutiremos isso mais adiante, o descondicionamento é bem simples de se entender, pois depende fundamentalmente do comportamento do indivíduo. Uma pessoa que se comprometa com o condicionamento físico durante toda a vida envelhecerá com suas aptidões motoras preservadas e terá uma vida cotidiana semelhante à dos adultos.
A principal alteração da composição corporal com o envelhecimento é a substituição do tecido muscular por gordura. É uma alteração inexorável, porém não é impossível de ser contrabalançada: um indivíduo sedentário perderá massa muscular até um ponto em que as atividades diárias como carregar as compras do mercado ou mesmo levantar-se do vaso sanitário passam a parecer exercícios extenuantes (aí o sujeito começa a falar que tem dores porque está velho), o praticante de exercícios resistidos compensa essas alterações com os treinos.
O desgaste de articulações, tendões e outras estruturas também é, em certa medida, inevitável, mas não é irremediável. Por exemplo, é até curioso quando alguém diz “tenho uma hérnia de disco”, porque, procurando bem, quase todo adulto tem alguma degeneração de disco intervertebral, o que não equivale a uma sentença de incapacidade. O treinamento adequado leva a compensação e mesmo regeneração de algumas estruturas, o exercício tem efeito anti-inflamatório, já o sedentarismo, associa-se a inflamação e, portanto, mais dores. Ou seja, o condicionamento físico compensa as alterações estruturais do envelhecimento e previne as complicações do sedentarismo, de modo que a saúde do aparelho locomotor do adulto e do idoso passa necessariamente pelas atividades que o promovam.
Quando se discute qualidade de vida na velhice, alguns dos itens que os idosos mais valorizam são a saúde e a independência, virtualmente não dá para tê-los sem um mínimo condicionamento. O condicionamento físico inclui capacidades como força, equilíbrio, coordenação motora, flexibilidade e resistência aeróbia. Todas elas são importantes, mas provavelmente é a força que mais faz falta no dia-a-dia do idoso sedentário, porque precisamos dela para tudo. O problema é que boa parte das pessoas só dá valor à força muscular quando a perde! A essa altura, já é muito mais difícil recuperar a musculatura que teria sido simplesmente mantê-la.
Chamamos de “sarcopenia” a perda de massa muscular acentuada que é comum em idosos sedentários (do grego “sarcos”, carne + “penia”, pouco). A avaliação clínica com técnicas como aferição de medidas do corpo (antropometria), além de exames laboratoriais, como a bioimpedância, permite uma análise mais acurada da composição corpórea e avaliação da sarcopenia.
Seu tratamento baseia-se em adequação nutricional e treinamento de reabilitação. Como enfatizamos, prevenir a sarcopenia é muito mais fácil que tratá-la. A preservação da massa muscular passa pela prática de exercícios resistidos (musculação). Muita gente acha que musculação é para jovens ou fisiculturistas, mas se esquece que o corpo humano não foi feito para passar horas a fio sentado ou deitado, o corpo precisa de movimento. Observe uma criança, veja tudo o que ela consegue fazer. Você também já teve essa capacidade, se já não consegue fazer alguma coisa (agachar-se, dar cambalhotas, correr) é porque deixou de praticar. A prática supervisionada de exercícios corrige os vícios adquiridos com nosso estilo de vida confortável e recupera habilidades, além de ter efeito protetor na saúde mental e cognição. Não há remédio que faça nada semelhante a isso!
Dr. José Renato do Amaral em sua brilhante matéria, reforça um ponto de atenção com o fenômeno de Sarcopenia que impacta diretamente na autonomia e independência do idoso. Atualmente, já se sabe que existe associação entre fragilidade motora e demência na idade avançada, potencializando os prejuízos e a necessidade de maiores cuidados neste perfil de paciente. Assim, a recomendação de treino de força, hipertrofia muscular como as atividades de aptidão cardiovascular está na lista das maiores prioridades no manejo do paciente idoso
Bom treino!
Dr. Bruno Sthefan
Cardiologista e Médico do Esporte
Perfeito , muito bom artigo, apesar de eu ser suspeito pois é o meu médico cardiologista a anos, parabéns,
Obrigado João, faço com muito entusiasmo e alegria!