CrossFit: treinamento físico, esporte ou estilo de vida?

Rennan Matsen, atleta de CrossFit

O CrossFit tornou-se uma das maiores práticas esportivas do mundo, motivando as pessoas a competir consigo mesmas e com outras em uma variedade de testes de condicionamento físico.  Embora inicialmente focado no levantamento de peso olímpico e na ginástica, o mundo do CrossFit se transformou em uma variedade de exercícios de desempenho atlético, tornando-se um esporte em si.

CrossFit é um regime ou metodologia de treinamento que  foi desenvolvida em 2000, por Greg Glassman, que fundou a CrossFit, com Lauren Jenai, tendo sua marca registrada  e que gerou mais de 15.000 franquias espalhadas pelo mundo, sendo que a maioria delas está  localizada nos Estados Unidos.

Nas capacidades de condicionamento, o CrossFit envolve programa de força, além de condicionamento físico geral, através da combinação de exercícios aeróbicos, calistenia, exercícios com peso corporal e levantamento de peso olímpico contemplando movimentos funcionais variados executados em alta intensidade agregando controle temporal. Assim, pode-se  dizer que o CrossFit abrange os principais componentes do condicionamento físico: resistência cardiovascular/respiratória, resistência, força, flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão.

As academias de CrossFit usam equipamentos de várias disciplinas, incluindo halteres, anéis de ginástica, escaladas de corda, barras de pull-up, cordas de pular,  kettlebells, bolas, caixas de pliometria, faixas de resistência, maquinas de remo e vários tapetes. 

Com a evolução do movimento, surgiu o  CrossFit Games, criado e dirigido por Dave Castro, que acontece todos os verões desde 2007. Atletas competem em treinos que aprendem apenas algumas horas antes.

Em 2011, os Jogos adotaram um formato de qualificação online, facilitando a participação de atletas de todo o mundo. Durante o conhecido  “CrossFit Open” de cinco semanas de duração, um novo treino é lançado a cada semana. Os atletas têm vários dias para concluir o treino e enviar suas pontuações online, com um vídeo ou validação por um afiliado do CrossFit.

Como o Open está disponível para qualquer nível de atleta, muitos afiliados incentivam a participação dos membros e o número de participantes em todo o mundo pode chegar a centenas de milhares. Os Jogos incluem divisões para indivíduos de cada gênero, equipes mistas e várias faixas etárias de Masters e Teenagers.

Rennan Matsen, argola com peso extra

Para Rennan Matsen, atual atleta da categoria elite e em preparação para o próximo TCB (maior competição do país), CrossFit é mais do que um esporte, é um estilo de vida, pois reúne aspectos de nutrição, treino, sono e conexão social.

“Minha vida mudou drasticamente com o CrossFit. Encontrei o equilíbrio de valores importantes à minha saúde, entendi a importância de um bom estilo de vida para performance, além de formar grandes amizades e uma forte conexão positiva que corrobora para um estilo de vida pleno e saudável”, comenta Matsen. “O acompanhamento com personal habilitado na metodologia e com um médico do esporte, fizeram  grande diferença na minha evolução. Hoje me sinto bem seguro e preparado para as competições deste ano”, relata o atleta.

Um ponto ainda controverso é o risco de lesão associado ao treinamento de CrossFit. Este tema levantou muitos questionamentos relacionados a movimentos perigosos e níveis inadequados de intensidade.

Treino com colete de peso

O CrossFit tem sido acusado  de provocar mais lesões do que outras atividades esportivas, como o levantamento de peso tradicional.  Contudo, uma revisão da literatura científica encontrou taxa de lesões com o CrossFit comparável ou menor do que outros esportes, incluindo o levantamento de peso olímpico. Existe, no entanto, preocupação de que sua metodologia possa causar rabdomiólise por esforço, que é uma lesão  muscular com risco de vida devido ao esforço extremo. Ainda não temos evidências de que realmente exista este risco aumentado.

Outra revisão da literatura científica de 2018 também sugeriu que “a taxa de lesões com CrossFit era comparável ou inferior às taxas de lesões com levantamento de peso olímpico, corrida de distância, condicionamento militar, atletismo, rúgbi ou ginástica”. O estudo indica que mais homens do que mulheres sofreram lesões, com lesões no ombro mais comuns (25%) do que na região lombar (14,3%) e na do joelho (13,1%), e lesões podem ocorrer onde a supervisão nem sempre estava disponível para os atletas.

Desta forma, no quesito saúde, o CrossFit, assim como todas as modalidades competitivas e de alta intensidade, necessita de acompanhamento especializado, profissional com habilitação na metodologia, nivelamento do exercício com o condicionamento físico e adequada avaliação médica pré-participação, conforme a indicação.

Feitas as devidas observações, com as devidas precauções, o CrossFit deve ser encarado como um excelente treinamento, esporte ou mesmo estilo vida no seu contexto mais amplo com potencial de gerar saúde e bem estar.

“Não é sobre enviar atletas para as competições, e sim sobre salvar vidas. Cada box de CrossFit existe como um barco salva-vidas contra um tsunami de doenças crônicas que está vindo em nossa direção.” Greg Glassman – Fundador da CrossFit.

Bom treino!

Dr. Bruno Sthefan
Cardiologista e Médico do Esporte

 

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