A Ciranda

O que Renato Gaúcho tem a ver com Renato Augusto, além do primeiro nome de batismo?

Ah, aqui começa a estranha ciranda em que técnicos e jogadores passam a girar em torno de um ponto invisível no futebol  brasileiro das duas últimas décadas, embora essencial.

Foi assistindo à lúcida exibição de Renato Augusto pelo Corinthians neste fim de semana e a inevitável queda de Renato Gaúcho no Flamengo que essa ciranda começou a girar na  minha cabecinha.

E, aos primeiros acordes da banda de pífaros que dá início à dança silenciosa, como as que se reproduzem todas as manhãs de domingo em frente à matriz próxima do porto de Barcelona, a que assisti hipnotizado em 1982,  vão dando as mãos outros nomes sem similaridade: Maicon, Jorge Jesus, Gérson, Diego e Rogério Ceni.

Pronto. Está fechado o círculo. Resta agora revelar os  segredos dessa relação entre nomes tão díspares de técnicos e craques.

Comecemos por Renato Gaúcho, um treinador que desdenha da necessidade de “estudar” futebol, por tudo saber a respeito, segundo sua declaração quando vivia seus dias de glória no Grêmio.

Só parece não saber que todas aquelas conquistas no Sul se deveram basicamente a um jogador: Maicon, seu meia-armador que os comentaristas preferiam chamar de segundo volante por absoluta falta de sintonia fina pra distinguir funções específicas do meio de campo, setor nevrálgico de qualquer time de futebol no mundo, hoje e sempre.

Bastou Maicon acumular contusões até se despedir dos campos, e o Grêmio de Renato despencou ladeira abaixo, a ponto de o treinador ser demitido e assumir o Flamengo.

No Ninho do Urubu herdou um Flamengo sob fogo disparado contra seus três antecessores. O último deles, Ceni, que não só havia conquistado três expressivos títulos – o Carioca, a Supercopa e o Brasileirão – como tivera um ato de extrema ousadia, ao escalar Arão de zagueiro e Diego como volante, pra afinar o passe do time desde lá detrás.

Ceni não resistiu à absurda pressão e foi defenestrado, abrindo espaço para Renato, que chegou nos ombros da torcida, por seu passado rubro-negro e pelas goleadas que se sucederam após sua chegada, tisnadas, em seguida, pelas perdas de títulos disputados. durante uma maratona em que ficou sem sete ou oito titulares em sequência.

Mas, a sombra de Jorge Jesus continua a pairar sobre o Ninho do Urubu, sem que a turma perceba a sutileza de seu ilustre parceiro nessa ciranda infernal: Gérson, o meia-armador da cabeça aos pés, que foi a base daquela magnífica campanha do Fla há dois anos.

Não foi Jesus o autor da grande proeza, foi Gérson, meu! Vale lembrar que essa foi praticamente a diferença entre o trabalho do português e do nosso Abel Braga, seu antecessor: a chegada de Gérson ao  Flamengo.

Bastou o meia sair e o Fla entrou na rota comum de um time grande no atual futebol brasileiro.

Da mesma forma que, se Renato Augusto sair do Corinthians, a dinâmica do seu time cairá pela metade, no mínimo.

E aqui, esta ciranda vai girando cada vez mais devagar até estancar e, aos poucos, evanescer-se como a figura do meia-armador autêntico, que já foi o maestro da sinfônica brasileira no passado, e que hoje não passa de um acorde divino perdido nesse funk dissonante executado por um bando de robôs.

 

 

 

2 comentários

  1. Meu caro Alberto Helena, concordo em 90% em tudo que disse, mas apenas vou fazer uma ressalva entre sua comparação com o Gérson e o Renato Augusto. Enquanto o Gerson desfilou seu extraordinário futebol em TODAS AS ARENAS em que o Fla jogou, até sua venda, o Renato Augusto tem mostrado seu futebol apenas na Neo Quimica Arena, apoiado por mais de 40 mil corintianos, mas quando o timão joga fora, seu futebol não aparece. Mas sem dúvidas trata-se de um grande jogador. E quanto ao Renato Gaúcho, foi “estrangulado” pela sua própria arrogância, já se achando o “rei” do mundo e contando com os ovos antes da galinha nessa Libertadores. Lembro-me que sua esposa, que nem me lembro o nome, declarou, após o Fla se classificar para a final contra o Palmeiras, que já estava se vendo nos Emirados Árabes para o mundial interclubes. Bem, claro que ela poderá estar lá porque grana tem de sobra, mas tera que pagar sua passagem e o ingresso para ver o verdão desfilar sua gloriosa camisa verde nos gramados Árabes. Como vê, a presunção é familiar, mas a derrota para o Palmeiras os colocou no devido lugar…será?

  2. Helena bom dia, o título da Libertadores caiu no colo do Flamengo após duas falhas absurdas de Lucas Prato e do zagueiro Pinolli, até então o River tinha o comando do jogo faltando poucos minutos para o término da partida, esse badalado treinador Português foi bafejado pela sorte e virou o papa pra mídia esportiva, no Benfica não apresentou nada de especial até o momento

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *