Os jovens estudiosos do futebol – comunicadores ou treinadores, não importa – vivem, tirando do bolsinho de seus coletes imaginários a fórmula “moderna” de se armar um time: fechar os espaços, tirar os espaços do adversários, espaço, espaço, espaço, essa palavrinha ao mesmo tempo etérea e dimensionável.
Eis, então, que vejo pela tv Salah recolher a bola entre três adversários, no bico da pequena área inimiga, e, em alguns centímetros quadrados, com quatro movimentos rápidos e indecifráveis, limpa, e bate de canhota pras redes.
Fiquei, então, aqui lembrando de uma frase do Armando Nogueira, o mais refinado texto da crônica esportiva brasileira de todos os tempos, que dizia o seguinte: “Para o craque, a superfície de um lenço é um latifúndio”.
Foi justamente o que fez o Mago do Egito. E é o que fazem Neymar, Messi e alguns outros, a exemplo do que faziam Ronaldinho Gaúcho, Zico, Garrincha, Canhoteiro, uma legião de craques que nem se dignavam a olhar pra cara do marcador, tampouco do espaço de que dispunham. Seu papo era com a bola, o objeto sagrado do jogo.
E se quisermos amplificar esse conceito incluindo o time como um todo, na forma de organização de jogo, basta espiar o City de Guardiola, por exemplo.
O espaço do jogo, para o catalão anos-luz à frente dos demais técnicos, se reduz ao retângulo que vai do círculo central à linha de fundo adversária. E, na largura extrema, com dois jogadores, no mínimo, correndo sobre as linhas laterais do campo. E todos de olho na bola, não especificamente neste ou naquele oponente.
Assim, o adversário até pode passar, mas a bola não. Ela ficará na imensa maioria das vezes nos pés dos azuis, agrupados ali na intermediária inimiga.
Com Guardiola sempre foi assim, fosse no Barça ou no Bayern. Resultado: não há outro treinador no mundo com tantos títulos conquistados nos últimos dez anos, se a questão se resume ao resultado como é cultuado hoje em dia.
Ah, mas o clube dele tem grana pra lhe oferecer o melhor elenco possível. É verdade. mas, no universo dele, há mais uns cinco ou seis que dispõem de tais recursos. E, alguns deles também praticam um futebol semelhante, como, o Liverpool de Klop.
Transportando pra cá, o nivelamento é mais pra baixo, claro, mas ainda assim parelho, e, nenhum tenta mudar o braço da viola, a não ser o Flamengo do Jesus e, agora, do Renato. Cada macaco no seu galho, meu.
Bem fariam nossos estudiosos treinadores se mandassem o tal “espaço” para as estrelas e passassem a olhar mais para a bola, o sol do jogo.