Os meios também são um fim

O sábado amanheceu por aqui com aquela luminosa goleada do Bayern sobre o Bochum, por 7 a 0, fora as tantas chances criadas pelos bávaros pra ainda mais ampliar o placar. E se encerrou com os holofotes focados na dupla de líderes do Brasileirão: Palmeiras, que, à tarde, bateu a Chape por 2 a 0, e, à noite, com o Galo bicando três vezes o Sport.

A diferença, porém, em favor do Galo frente ao Verdão ainda é muito significativa. Fruto do estilo de jogo adotado por ambos.

Enquanto o Palmeiras, num primeiro tempo exemplar, meteu 2 a 0 no adversário, gols de Veiga e de Luís Adriano, e, no segundo, arrecuou os arfos, numa retranca atroz, o Galo, que também havia marcado dois gols na etapa inicial, com Diego Costa, de cabeça, e Hulk (que dupla, meu!), apesar de tantas alterações feitas por Cuca, seguiu atacando o Sport até chegar ao terceiro já no finzinho, em pênalti cobrado por Vargas,

Eis a grande diferença entre esses dois grandões brasileiros: a disposição de jogar bola, pra reduzir toda aquela parafernália pretensamente estratégica dos nossos bravos analistas. Jogar bola, passá-la de pé em pé, sempre em direção à meta adversária, e, quando a perder, atacá-la de imediato seja lá na frente ou no meio de campo. e não olhar para o placar, a não ser pra considerá-lo sempre abaixo do desejável.

Sacar um ponta driblador e insinuante como Wesley pra colocar em seu lugar mais um zagueiro entre os já protegidos por dois volantes de ofício, é justamente andar pra trás na busca do essencial: a fluência seguida do gol.

Pois, foi o que fez Abel Ferreira neste sábado diante de um dos lanterninhas do campeonato que só não chegou ao empate porque lhe falta o mínimo de qualidade técnica, já que chances criou.

Sei bem que, para o torcedor fanático, só o resultado interessa, ainda mais em tempos como os atuais, o que me fez saltar, de repente, para a Atenas dos pensadores da Antiguidade, ao reler um trecho do livro de ficção do historiador francês Gerlald Messadié, no qual Sócrates (o filósofo, não o nosso saudoso Dr.) explica seu ponto de vista a Crítias, defensor do tirano Alcibíades, que alcançara a aprovação de seus conterrâneos, apesar de ter cometido toda espécie de barbárie:

– Eu estaria de acordo com você, Crítias, se meu julgamento se ativesse aos resultados. Mas, não posso distinguir, como você, entre os fins e os meios. Para um homem preocupado com a virtude, os meios também são um fim.

 

1 comentários

  1. Prezado Alberto Helena, como os alemães dizem (“man muss die Kirche im Dorf lassen”), para analisar a situação dos resultados de Atlético e Palmeiras (cada um no seu jogo) temos que deixar a igreja no lugarejo em que se encontra e ver tudo objetivamente. No momento o Atlético está (no que te dou razão) apresentando uma dupla no ataque que tira muita faísca, enquanto o Palmeiras tem também bons atacantes, mas os tem revezado, inclusive com o Luís Adriano vindo de uma longa recuperação, o Dudu se enquadrando pouco a pouco e o Roni negando fogo. O Palmeiras de agora não está esbanjando craques (como na temporada passada), porém os está tendo que dosar, enquanto o Atlético tem uma tropa de combate que está em ponto de bala bem ajustada. Por isso as partidas deste sábado não dizem muito sobre a condição de cada time ao longo do campeonato todo. Tanto o Abel Ferreira como o Cuca cozinham com água, apenas que a água do Cuca, no momento, está fervendo mais. Eu penso que o desempenho dos times candidatos ao título deve ser julgado de jogo a jogo. Esta minha opinião não altera que acho também que este ano o Atlético, independentemente da posição na tabela, tem boas oportunidades de defender a “pole position” até o final do campeonato, o que seria um prêmio merecido para o Cuca. Naturalmente o Verdão tem material para se recuperar, o problema é que dançando em dois casamentos a recuperação tem que ser dupla e o tempo vai passando, estamos já na segunda parte da corrida.

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