Maradona, quase deus

Foto: DANIEL GARCIA / AFP

No campo, Maradona era simplesmente imarcável: aquela perninha esquerda mágica varava defesas em dribles desnorteantes, desvendava espaços onde só havia congestionamento e disparava tiros mortais que iam deixando goleiros caídos ao longo de sua longa trajetória.

Na vida, Maradona só encontrou um marcador implacável, que lhe subtraiu títulos e feitos que ainda mais engrandeceriam sua carreira. Seu nome: Diego Armando, a identidade social de Maradona, que o levou  fora dos gramados a tragédias e comédias típicas das letras dos mais dramático tango às mais pícaras rimas da milonga.

Sua silhueta contrariava a figura do atleta de qualquer modalidade: baixo, sem pescoço nem cintura num torso quadrado que flertava com a obesidade, era quase uma caricatura. Mas, em campo, a destreza e a inventividade o elevavam à condição de um deus grego.

Aliás, virou mesmo deus para muitos argentinos que fundaram uma religião, mistura de fé e gozação, duas vertentes da alma portenha: a Igreja Maradonista, com altar e tudo o mais.

Foto: AFP

Quando o vi, ainda menino disputando um Mundial da categoria, lá pela segunda metade dos anos 70, extasiei-me. O garoto era um portento. Saindo das camadas mais pobres de Buenos Aires, era claro, já então, que se tornaria uma celebridade, rica e poderosa.

E assim foi: do Argentino Juniors ao Boca; do Boca ao Barça; do Barça, ao Napoli, onde viveu seu esplendor como futebolista. E onde chafurdou no mundo das drogas, o que resultou na sua eliminação da Copa de 90, justamente no seu maior momento.

Foi desses raros exemplos de um jogador que ganhou sozinho uma Copa do Mundo, a de 86, deixando no seu rastro dois momentos eternos contra a Inglaterra: o gol em que driblou o time todo adversário a partir do meio do campo e aquele que ele mesmo batizou de La Mano de Diós, feito descaradamente com a mão, picardia milonguera, típica herança do miserável Forte Apache onde viveu sua infância.

Não, Maradona não foi melhor do que Pelé, ninguém, aliás, foi. Mas, quase chega lá, o que já é suficiente para que todos nós rendamos nossa homenagem a essa figura única na história do futebol mundial de todos os tempos.

 

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