Tenho por Tite a maior estima e respeito, como ser humano e como treinador de futebol. Mas, não dá pra aceitar a ausência de Gérson nesse meio-campo convocado por Tite para a Seleção Brasileira.

Se o Flamengo é esse fenômeno de desempenho e resultados no mesquinho futebol brasileiro, deve isso muito à presença desse meia-armador típico que quebrou o tabu dos dois volantes e deu ritmo e fluência ao time, apesar da excelência técnica de todos os demais companheiros. Tabu a que Tite segue reverenciando na última chamada da Seleção, com quatro volantes (Fabinho, Casemiro, Bruno Guimarães e Artur) e apenas dois meias – um de ligação, outro ofensivo – (Everton Ribeiro e Coutinho).

Ah, mas esses volantes todos sabem atacar, fazer o tal box in to box, nova modinha pra denominar o velho de área à área, como manda o figurino idiomático do Império cada vez mais aninhado nas cabecinhas tapuias.

Meu amigo, minha amiga, volante, desde que o médio apoiador passou a ser assim chamado lá pelos anos 70, sempre foi de área à área, por isso mesmo chamado de volante, aquele que vola (voa). Só deixou de ser a partir do instante em que se criou a figura nefasta do cabeça-de-área ou leão-de-chácara, aquele terceiro beque disfarçado de volante que fica plantado à frente da zaga como escudeiro. E ganhou o parceiro mais hábil quando Minelli, no Inter de 75, plantou o genial Falcão um tanto mais à frente de Caçapava, invertendo o triângulo do meio de campo: dois volantes e um meia (Carpeggiani).

Esse dogma tem atravessado essas últimas décadas, quando não reforçado por mais um ou dois meio-campistas com essas características por este ou aquela time.

Jorge Jesus rompeu com essa fixação e devolveu ao futebol brasileiro sua essência: um jogo leve e fluente sempre em direção ao ataque, o que embelezou o espetáculo e obteve todos os resultados possíveis, a não ser a perda da Copa do Mundo de Clubes para o Liverpool, igualmente adepto desse estilo de jogo.

Na verdade, o mais sábio seria convocar todo esse Flamengo, do meio de campo pra frente, com exceção de Arrascaeta, por ser uruguaio, colocando em seu lugar o incomparável Neymar, claro, com Casemiro ou Bruno Guimarães no lugar de Arão.

Nesse caso, Tite teria perdido o entrosamento de uma equipe que ele vem cultivando desde praticamente as Eliminatórias da última Copa? Sim, e daí? Afinal, desde então o Brasil vem jogando um futebol medíocre, até mesmo quando conquistou a Copa América,.

Ora, ora, entrosamento por entrosamento, quem está mais entrosado, o Flamengo de Jesus ou a Seleção de Tite?

Como sempre há pouco tempo de treinamento para a Seleção, quando esse entrosamento virá e de que forma? Não seria maislúcido imprtá-lo do Ninho do Urubu onde ele foi cevado com tempo e apuro?

E, partindo do pressuposto óbvio, de que Tite tentará, mais uma vez, obter esse entrosamento com os convocados habituais, nem mesmo os três rubro-negros chamados (Gabigol, Bruno Henrique e Everton Ribeiro) terão a chance de entrar na equipe, a não ser numa eventualidade, quando o certo, pelo menos, era aproveitar desde o início o trio que vem arrebentando desde o ano passado.

Claro que as Eliminatórias anteriores e a Copa América sugerem que, diante dos demais sul-americanos, mesmo com a repetição do esquema e dos jogadores de sempre, o Brasil tem largas chances de se classificar para o próximo Mundial.

Mas, a que preço?