As lições dos três meninos

Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

O meio de campo é o cerne, o centro nervoso, o cérebro que determina o ritmo e o equilíbrio de uma equipe de futebol. Era assim no passado mais remoto, quando o centromédio (volante, hoje em dia) era chamado de Eixo, porque em torno dele girava o jogo do time, a partir da defesa em direção ao ataque. Esse Eixo era assessorado por dois meias de ligação que impulsionavam os três atacantes (dois pontas e um centroavante).

Como não há registro em imagens dessa época, sugiro ao amigo dar um salto no tempo e no espaço ligando a TV e vendo o City de Guardiola jogar. Nada mais antigo e mais novo do que isso, porque é basicamente a essência do jogo da bola desde que foi estruturado pelos ingleses há mais de século.

Mas, se não quiser ir tão longe, reveja o jogo do São Paulo no último domingo.

Fala-se muito na juventude do trio de meiocampistas do Tricolor, o que é um fato louvável, pois revela que ainda há uma luz no fim do túnel escuro em que nossos treinadores enfiaram o futebol brasileiro nas duas últimas décadas.

Mas, o mais significativo nessa história é o estilo, as características técnicas e físicas dos três meninos – Luan, Liziero e Igor Gomes, justamente o que permitiu a bola fluir da defesa ao ataque com ciência e rapidez.

Não se trata de medir a dimensão técnica dos três, se são craques ou não e tal e cousa e lousa e maripousa.

Por exemplo: Hudson é também jovem, criado no mesmo berço de onde emergiram os três meninos do domingo mágico tricolor. Mas, Hudson, apesar de tantos elogios que cercaram sua carreira até aqui, pertence a outra estirpe de meiocampista. É aquele volante típico dos dias atuais no Brasil: esforçado, preocupado mais em marcar do que em armar e de técnica reduzida. Estivesse lá entre Luan e Igor Gomes e toda a dinâmica apresentada domingo recairia na modorra que foi contra o São Caetano, não tenha dúvidas.

Bem fez Mancini em deslocá-lo para a lateral-direita, um defeito crônico dessa equipe desde os tempos de Cafu.

São essas sutilezas que faltam aos treinadores brasileiros em geral e em grande parte da mídia esportiva: a fina percepção entre, por exemplo, um volante que ataca, um meia-armador e um meia avançado. São funções que exigem certas peculiaridades de estilo para que a bola role da defesa ao ataque, naturalmente e com eficácia.

Se bem escalados esses três meiocampistas cada um dentro da característica para a função, então teremos um desenho diferente e mais progressivo desse setor.

Normalmente, nos dias atuais, os nossos times jogam com dois ou três volantes em linha, mais um meia avançado. Ou, um volante e dois meias em paralelo, o que é raro.

Mas, na formação em que cada um guarde suas características mais apropriadas, teremos em vez um triângulo, alo próximo da representação do próprio DNA humano, uma espécie de parafuso – atrás, o volante, mais à frente o meia-armador e adiante deste o meia avançado. Isso permite a troca de passe sempre no sentido vertical e não horizontal como se costuma ver por aqui: aquela sucessão de toques laterais que mantém o adversário bem postado na defesa e o seu ataque isolado lá na frente.

Quer dize: nem Mancini descobriu a pólvora, nem que, com essa formação, o Tricolor será imbatível, campeão disto o u daquilo.

É apenas um passo modesto em busca do reencontro com nossas tradições e ao encontro da modernidade da qual estamos desvinculados há muito tempo. Isso, claro se seguir nessa toada e se os nossos treinadores e a mídia esportiva captarem a mensagem. Demora, mas uma hora a ficha cai.

6 comentários

  1. Caro Mestre Helena, acidentalmente , ontem, achei um vídeo que mostrava jogadas e gols do Zizou. Dois desses gols resultados de cruzamentos feitos pelo alto e com ele pegando de sem pulo(de fora da área) e ainda tirando do goleiro. Tudo isso de prima como sabem fazer os verdadeiros craques. Isso dito pergunto-vos mestre: qual era a posição de Zidane? Volante? Meia? Meia Atacante? atacante? na minha lauta modéstia futebolística, diria que tudo e mais um pouco. Tinha ele um conhecimento, intuitivo certamente, da física envolvida na ação. Nos nossos sofridos gramados, o que vemos são jogadores tidos como “craques” que mesmo com a bola à feição erram chute de poucos metros, distantes do gol, porque querem chutar de trivela e acabam pondo a bola para fora. Trivela é o nome dessa ação da física chamado de efeito, certo? e só deve ser usada tendo conhecimento(teórico ou intuitivo) da física envolvida.
    Saudações newtonianas
    R.R.Siuzudra

  2. Há um fato que poucos ou talvez ninguém leve em conta a respeito da seleção. o jogador de hoje não pensa na torcida nem a ela deve satisfações. O compromisso deles por conveniência e até subserviência é o respeito intransigente ao treinador e isso faz toda diferença na sua performance em campo. A torcida liberta, encoraja, desperta no jogador sua criatividade. Enquanto que o treinador inibe, bitola, limita. Aqueles que ousam furar esse bloqueio são deixados à margem quando não esquecidos.

  3. Alberto Helena Jr.

    O meio de campo num time de futebol equivaleria ao nosso cerebro domina todas as funções do corpo (time), se o meio de campo não funciona adequadamente o resto do time não corresponde ao que se espera dele em campo, parece que o São Paulo através da garotada vai encontrando seu caminho……o que se espera é que não amarelem em jogos maiores. Saudações palmeirenses.

  4. Acordei depois de quase dois anos de um sono profundo. Esse sono foi causado por um erro na administração de um sonífero para dormir. O médico me recomendou tomar um caixa com 15 comprimidos. Um por noite. Me equivoquei e tomei a caixa de uma só vez. Quando finalmente acordei, minha mulher estava ao meu lado e sorriu alegremente. Me contou o ocorrido e juntos agradecemos a Deus não ter dormido para sempre. A primeira coisa que pedi foi um café bem forte e um pão com manteiga. Ah! em seguida perguntei se o Lula ainda estava preso e ela levantando as mãos pros céus confirmou que o STF tinha lhe negado o centésimo habeas corpus. Por pouco não pedi novo sonífero para dormir.Mais bola pra frente. E o futebol como vai?Perguntei! Ah Bem! agora quem dá a bola não é mais o Santos é o mercado, Muita grana tá rolando. Tô com muita saudades das tardes futebolísticas dos domingos. A propósito hoje é domingo e tem muita bola rolando pelo Brasil afora querido. Hoje por exemplo no Morumbi jogam Coca Cola x Velho Barreiro. No Pacaembu Novalgina x Red Bul no Maracanã McDonalds x Pizza Hut e finalmente no Beira Rio Colgate x OMO. Mais querida que time são esses? É o mercado meu bem! Liga a tv os jogos já vão começar. Põe ai no jogo do Morumbi. Coca Cola x Velho Barreiro. Amigas e amigos do futebol as equipes já estão escaladas mais o show mesmo vem das arquibancadas completamente lotadas. Os cocacolenses não param de arrotar um minuto sequer, latinhas do refrigerante são vendidas a preço de custo ao seu fiel torcedor que se empanturra com o nobre líquido. Meu caro PVC infelizmente é uma vergonha observar o comportamento da torcida barreirense. Todos bêbados de matar de lenço numa briga generalizada entre eles. Alô meu caro Paulo aqui no Pacaembu também a torcida faz a festa. Na realidade meu caro, só uma faz a festa pois a maioria dos novalgineiros dormem profundamente na arquibancada enquanto uma minoria geme de dor. Por seu turno meu caro, os redbulenses fazem tremenda algazarra e parece não prestar atenção nem nos times que acabam de entrar em campo. Aqui meu caro Paulo no Maraca, os dois times usando de toda criatividade resolveram doar um carro zero km ao torcedor que pesar menos de 80 kg. Até o momento não apareceu nenhum ganhador e olha que o estádio está lotado. Milhares de pizzas e hamburguers são distribuidos gratuitamente pelos dois times. Segundo PVC o comentarista do mercado o jogo é equilibradíssimo, mais ainda segundo PVC a lucratividade e o controle do desperdício faz do McDonalds o favorito do jogo. Alô Brasil! aqui direto do Beira Rio creio que a torcida é a nota maior do jogo. Milhares de torcedores todos de branco representando o OMO animam a festa na arquibancada portando baldinhos com água e sabão lançando milhares de bolinhas ao ar. Um verdadeiro espetáculo. A torcida do Colgate não fica atrás não. Milhares de torcedores escovam seus dentes mostrando a força do creme dental. Oh Bem! desliga essa merda ai e me providencia outra cartela de sonífero.

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