Neymar e a Camisa 10

Foto: Wander Roberto/Gazeta Press

Neymar deixou o treino reclamando de dores no tornozelo, alvo da grossa pancadaria a que foi submetido ao longo de toda a partida contra a Suíça. Há quem diga que Neymar é também responsável por isso, já que, embora ainda longe de sua melhor forma física, insistiu nas jogadas pessoais que lhe são tão peculiares. Por isso mesmo, deveria jogar mais recuado como um verdadeiro Camisa 10, o número que ostenta em suas costas, mesmo sendo mais um atacante nato que atua ali pela esquerda da nossa linha de frente.

Aliás, na véspera do jogo, aqui mesmo, este velhote defendia essa tese, mas por outras razões. Simplesmente, porque acho que Neymar tem mais recursos para exercer essa função do que  Coutinho, embora a solução justa seja Renato Augusto, este, sim, de perfil exato para a função de armador.

O fato é que o dogma dos dois volantes conduziu a um outro grande equívoco simbólico no futebol brasileiro: o da Camisa 10.

O Camisa 10 virou nas últimas duas, três décadas, como o signo do meia que tanto articula as jogadas de ataque como se transforma de imediato no artilheiro da equipe.

Isso, porque a turma desconhece seu real significado, por desconhecer a história das táticas e dos números colados às camisas dos jogadores.

No Brasil, os números foram impregnados nas camisas a partir de 1948, por determinação da Fifa com vistas à Copa de 50, a ser disputada aqui.

Nessa época, o futebol brasileiro, que tardiamente havia adotado o sistema WM, começava a se bandear para a Diagonal de Flávio Costa, que, quando apresentado em Portugal por um cartola lusitano do Vasco, mereceu o desprezo de ninguém menos do que Cândido de Oliveira, não o filólogo brasileiro,  mas o técnico do Benfica e da Seleção Portuguesa, jornalista fundador da mais importante publicação esportiva de seu país – A Bola -, que considerou a novidade mera variação do consagrado WM de Herbert Chapman.

E era mesmo. Chamava-se Diagonal, porque o quarteto de meio de meio de campo (dois médios e dois meias) ganhava o desenho de uma diagonal, com um dos médios mais recuado, outro, mais avançado; um meia, mais recuado e outro mais avançado.

Quando esse sistema passou a ser moda entre nossos clubes, a partir da virada dos anos 40 para os 50, ela tanto podia ser desenhada pela direita quanto pela esquerda.

Exemplo: o Corinthians do início dos anos 50, optava pela formação em que o  médio direito recuava e o esquerdo avançava, assim como o meia-direita recuava para a armação e o meia-esquerda avançava em direção ao ataque. Idário era o médio recuado; Roberto Belangero era  o médio-apoiador, como se dizia na época (o volante atual); Luisinho era o armador e Carbone o meia-avançado ou ponta de lança, de acordo com a nomenclatura da época.

Assim, naquele Corinthians, Luisinho era o 8, armador, e Carbone, o 10, o artilheiro.

Mas, no São Paulo, por exemplo, era o inverso: o apoiador era pela direita (Bauer) e o armador (Negri), pela esquerda.

O mesmo princípio valia para os demais clubes, que variavam a Diagonal pela direita ou pela esquerda.

De qualquer forma, até o aparecimento de Pelé, em 56, o número simbólico, mesmo antes da numeração específica dos jogadores, era o 5, o centromédio, ou Eixo, na formação anterior ao WM, o sistema clássico 2-3-5: Rubens Sales, Lagreca, Amilcar  Barbuhy, Fausto, a Maravilha Negra etc.

A partir da Diagonal, os grandes craques, os pensadores, os armadores da equipe tanto podiam usar o número 8 quanto o 10. É o caso de Jair da Rosa Pinto, no Palmeiras (10) e no Santos (8), mais tarde, Gérson, 8 no Botafogo e 10 no São Paulo, assim por diante.

A simbologia da Camisa 10 nasce com Pelé e as magníficas fotos perpetrados pelos fotógrafos da época – Alberto Jacob, no Jornal do Brasil, e Domício Pinheiro, no Jornal da Tarde – o Negão saltando de braço esticado e a camisa 10 fulgurando às suas costas.

Pelé, no entanto, era um meia-atacante, o maior artilheiro da história, não um armador. Assim como o foi outro camisa 10 histórico, Zico. Nenhum dos dois era um autêntico articulador de meio de campo, como o haviam sido Zizinho, Didi e seriam Gérson, Rivellino, Carpegiani etc.

Assim, com a consagração dos dois volantes, os dois meias – o 8 e o 10 -, em qualquer formação, se fundiram no imaginário dos comentaristas, técnicos e público num só – o 10. O que empobreceu fatalmente o sistema de criação do nosso futebol e fundiu a mente de todos.

 

9 comentários

  1. Meio de campo e ataque, eis a questão.
    Tite tem como prioridade a armação da defesa e posteriormente o meio de campo.
    O ataque?…bom, o bom Adenor nunca contou com um bom ou excelente ataque nos clubes que defendeu, embora não seja desculpa de um futebol mal jogado por jogadores de sua confiança.
    Ontem (18/06), fiquei entristecido vendo na imprensa os jogadores com os familiares, tomando banho de “sol” ou coisa que o valha, um bom “pique-nique”.
    Isso desconsola qualquer torcedor lúcido pela seleção.
    Porque o Brasil, simplesmente, está passeando na Rússia e não está nem aí para com seu povo, pobre, sofredor e sempre solidário com esses meninos.
    Quem sabe ainda exista tempo para mudanças, principalmente de mentalidades?
    Grande abraço e saudações.

  2. Alberto Helena Jr.

    Não sei o que dizer sobre o camisa 10 da seleção amarelada do Brasil de cabelos fios de ovos, sei que hoje em dia não existe mais aquele armador clássico, eram jogadores de pensar o jogo e não só de jogar o jogo, viravam uma bola com lançamentos de mais de 40 metros que eu acho nunca mais vou ver acontecer, pensar o jogo significa ao receber a bola roubada por seu volante já encaminhar a pelota ao ataque quer as vezes pelas pontas quer as vezes pelo centro dependendo do posicionamento de sua linha de atacantes, hoje parecem aqueles jogos de fliperama antigos em que a bola vai que vai de qualquer jeito sendo tocada até que pela falha da defesa adversária sobre um espaço que resulte em gol, não é jogada pensada é jogada meio que acontecida por acaso e não por ter sido pensada na sua origem, hoje “camisas temos jogadores que carregam o número 10 mais que não carregam a essência e categoria de um verdadeiro meia esquerda como Gerson ou meia direita como Ademir da Ghia…..grandes velhos tempos sofridos novos tempos. Saudações palmeirenses.

    1. Assista o futebol europeu e verá os meias armadores desfilando pelos gramados, Xavi, Iniesta, Thiago Alcantara, Davi Silva, sei lá, quantos mais.

  3. A seleção tem muita sorte em pegar a Costa Rica. Se pega um time forte, volta pra casa no primeiro avião. A Costa Rica, o Peru, o Chile assim como a Bolivia não podem ver a camisa amarela que entregam o jogo. Tite para alegria geral da nação vai entrar de novo com 2 volantes para jogar com esse timaço da América Central e olha que não pode nem pensar em empatar mais como sempre vai de Casemiro(que por sinal jogou demais) e Paulinho ou Fernandinho fiquem tranquilinhos da silva que o time ganha de 3 ou 4, .

  4. Boa noite Tio Helena (como diria J.K.) me diga algo, hipoteticamente se bem treinado, hoje em dia daria para fazer um 2-3-5 do WM no futebol atual?
    Obrigado.

    1. Ô se dá! O Bayern do Heynckes atuou num 2-3-5 em varios jogos na temporada passada, com 2 zagueiros, 3 médios apoiadores (um volante e 2 lateirais) e 5 atacantes (2 médios ofensivos, 2 pontas e ponta de lança). Lembro também num jogo do Barça de Guardiola contra o Arsenal atuando nessa formação.

  5. Segundo o Blog de PHA Neymar pode ter jogado sem condições de jogo contra a Suiça. Não duvido. A transparência da comissão técnica a serviço da Globo é equivalente a um barreiro de água barrenta do sertão. Próxima de zero. Tanto é verdade que ele sente o pé e saiu do treino de hoje se quexando de dores. A CT como sempre, sabe que como aconteceu com Ronaldo Gorducho em 98 tem que jogar nem que for de muletas. Esse é o preço que ele tem que pagar por estar sempre piscando para as câmeras fazendo plim plim!

  6. Esse é o problema quem?? É o armador do time camisa dez ou que seja eis a questão tem ou não ???
    Isso é o pior o você acha ???

  7. Até o presente momento o nome do jogo foi a INTENSIDADE, as seleções que tem algum jogador acima da média estão levando ligeira vantagem, mas a intensidade é que está ganhando todos os jogos sem exceção.
    Todas as seleções jogam rigorosamente iguais, o VAR decidiu algumas partidas. A seleção brasileira ficou no maior chororô, sem razão quem é melhor não depende de um lance isolado para ganhar um jogo.

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