Tasca pedra nas Genis (Tite e Neymar)

Foto: Pascal Guyot/AFP

Quem me acompanha neste quase meio século falando e escrevendo sobre futebol sabe que dos muitos males que afligem este velhote, de um deles estou livre: a síndrome do pachequismo.

Portanto, quando digo que Miranda foi empurrado no lance do gol da Suíça e que Gabriel Jesus foi agarrado na área é porque isso tudo está claramente expresso nas imagens da tv, dois lances perfeitamente passíveis de escapar da visão do juiz em campo, mas do VAR, não! E o VAR só existe pra isso mesmo – atestar o que o juiz não viu em campo, com toda parafernália aquela parafernália tecnológica de que dispõe, e corrigir a omissão.

No creo em brujas, nem mesmo em conspiração no caso. Mas, sim, em duplo erro humano.

Erro que resultou no empate por 1 a 1 diante da Suiça, na estreia do Brasil na Copa, e que detonou essa avalanche de críticas sobre nossa Seleção, em especial nas costas de Tite e de Neymar. Basicamente, por conta do resultado inesperado, embora o desempenho da equipe mereça vários reparos, claro.

Sucede que num torneio de tiro curto, eliminatório, como é a Copa do Mundo, o resultado passa a primeiro plano, deixando o desempenho para segundo, embora todos saibamos que um bom desempenho leva uma equipe mais próxima do melhor resultado. Mas, nem sempre. Veja-se o caso da Espanha, que deu um olé em Portugal e acabou num empate frustrante, graças à eficiência sobrenatural do Gajo.

Tanto isso é mais verdade que, temos aí na galeria das frustrações históricas do futebol, três exemplos clássicos de seleções com um desempenho sensacional e que não meteram a mão na taça: a Hungria de 54, a Holanda de 74 e o Brasil de 82.

Dito isso, vamos aos fatos: qual, dentre os maiores favoritos à conquista do título obteve resultado compatível com suas expectativas? A Alemanha, atual campeã, perdeu para o México, a Argentina empatou com Islândia, o Uruguai ganhou do Egito sem Salah por 1 a 0, gol de cabeça do beque no último minuto, a Inglaterra venceu também com gol de cabeça no apagar das luzes frente à Tunísia, Tunísia, Egito, Islândia,  seleções muito menos categorizadas na história do que a Suíça.

Só a França venceu a Austrália, por conta do VAR, e a Bélgica passou pelo Panamá, por 3 a 0, depois de um primeiro tempo deprimente.

Antes de tudo, há que se levar em conta que estamos falando de estreia em Copa do Mundo, um acontecimento que, por princípio, inibe o desempenho, sobretudo dos favoritos, propensos a perderem o equilíbrio emocional quando o resultado não chega logo.

É verdade que, neste quesito, o Brasil foi beneficiado pelo gol de abertura de Coutinho. Descontrolou-se, porém, depois do empate, da forma ilícita que foi, logo no comecinho do segundo tempo.

O fato é que, se o VAR tivesse atuado de acordo com os instrumentos de que dispõe, não só o gol suíço teria sido anulado como o Brasil receberia a chance de ampliar o placar com o pênalti no menino Jesus.

Como consequência do resultado positivo, nem de longe haveria essa grita geral contra o time e, em espacial, Tite e Neymar.

Então, vamos aos alvos da histeria generalizada nas redes sociais, incluindo este blog.

Tite errou em não escalar um meia-armador como Renato Augusto desde o início, se é que o jogador tivesse condições físicas pra aguentar durante 90 minutos ou pouco mais? Errou. Fruto de um erro que perpassa corações e mentes dos nossos treinadores e analistas nascidos sob o signo dos dois volantes, fórmula adotada desde os anos 80, quando passou a virar dogma dos 90 pra cá.

Essa turma não sabe, definitivamente, distinguir a figura clássica do meia-armador do volante que ataca ou do meia-atacante que volta um pouco. Entre ambos, existe esse elo fundamental – o cara que pensa o jogo, dita o ritmo da equipe, raramente erra um passe, enfim, serve de termômetro, que ajuda na marcação e ao mesmo tempo sabe a hora de se infiltrar no ataque.

Renato Augusto faz isso bem, quando fisicamente em forma. Quem mais? Na atual seleção, ninguém, além dele. Aqui, disponível, um dos raros exemplos é Maicon, do Grêmio, no lugar de Fred, o clone canhoto de Fernandinho. E não foi por falta de aviso.

Bem que Tite tentou consertar esse defeito da Seleção ao trocar o volante Paulinho pelo meia Renato Augusto. Mas, já era um pouco tarde pra produzir todo o efeito desejado, já que esse trabalho não é de produzir efeitos imediatos. Diria que assemelha-se ao do arquiteto diante da prancheta e o pedreiro diante do muro.

Quem poderia produzir efeito imediato seria um Douglas Costa, noutra função, a de furar o bloqueio suíço aos dribles e infiltrou-se pelos lados. Expediente que Tite dispensou no banco.

Mas, isso é tudo muito factual, ocasional, específico desse jogo de estreia, nada que desabone o brilhante trabalho do treinador ao longo das Eliminatórias e dos amistosos que precederam a Copa.

Quanto à atuação de Neymar, então, caímos no reino do absurdo. Todo mundo sabe que o craque sofreu grave lesão no pé direito e que ficou de resguardo por meses, voltando a treinar normalmente outro dia. Ora, trata-se de um jogador cujo estilo feito de velocidade e dribles desconcertantes atrai a pancadaria generalizada dos adversários.

Mesmo estando longe de sua forma ideal, foi o mais acionado do ataque, sobretudo no segundo tempo, apanhou feito cão danado, fez as mais decisivas jogadas da equipe – o gol de Coutinho nasceu de seus pés, o passe genial para Renato Augusto desempatar a partida etc. Errou dribles e passes? Errou, mas nada que não estivesse dentro das expectativas de um craque excepcional que ainda está em recuperação.

Mesmo assim, pau em Neymar, dentro e fora do campo, sobretudo por parte dessa gente brasileira que só sabe pensar em clichês, estigmas, lugares-comuns e ideias feitas.

Enquanto o argentino, por exemplo, perdoa Messi pela atuação medíocre do maior do mundo, coroada com a perda de um pênalti diante da Islândia, o brasileiro tasca pedra na Geni-Neymar.

Faz parte da nossa (in)cultura.

 

 

 

 

 

12 comentários

  1. Caro Alberto Helena nós meros mortais ainda mal curados da ressaca dos 7 x 1 temos o direito de nos sentirmos enganados quando a mídia endeusa um treinador promete mundos e fundos e ele na sua estréia empata com a medíocre seleção da Suiça. E mais, Como é que um,treinador como ele comete um erro absurdo de substituir um volante por outro justo no momento que deveria ser mais ousado? Tite com esse erro pode simplesmente ter comprometido a classificação brasileira na copa. Erro primário. Isso é imperdoável num cara que dirige uma seleção penta campeã mundial. Pra mim infelizmente já esperava por este tipo de atitude dele, tinha advertido aqui mesmo no Blog. Isso torna as coisas muito mais graves quando se sabe que isso não foi um descuido, um lapso. Essa substituição faz parte do repertório de burrices desse treinador não importando se joga contra a Suiça ou a Argentina.
    Quanto ao Neymar também não merece perdão. É re-incidente. Cometeu barbaridades na copa em 2014. Continua usando sua excepcional habilidade como forma de promoção individual achando que pode tudo. e que é mais importante do que a seleção.

  2. O mais lucido comentario e justo de todos da midia escrita, falada brasileira!! O que apareceu de criticas exageradas em relaçao à sekeçao foi de um exagero escroto!! Nem fomos tao mal assim, e se o tal Do VAR ffosse acionada, justiça seria feita e teriamos ganho o jogo!! O Sormani da FOX entao exagerou, dizendo que o Brasil jogou um futebol nojento, nojento foi a critica deke e da maioria negativista!!!

  3. Uma grande parte dos que falam, comentam e fazem pressão à seleção na Copa do Mundo são pessoas que só acompanham jogos de futebol na época da Copa,
    Não entendem nada de futebol e não sabem torcer de forma saudável pelos seus times.
    Mas isso sempre foi e será assim.
    Como já foi dito nesse blog, é agora que Tite, Neymar e a seleção serão colocados à prova.
    Procuro torcer aproveitando a experiência única de uma Copa do Mundo, sem criar grandes expectativas, pois Copa do Mundo é uma loteria.

    1. Copa do Mundo nao e loteria nao senhor. E preparo, atitude, foco e performance para ser campeao. Por um acaso o Brasil e penta campeao por causa da sorte?

  4. Alberto Helena Jr.

    Caro amigo Alberto pelo menos de minha parte não há histeria alguma em relação a seleção me curei desse mal chamado “pão e circo” que é oferecido ao sofrido povo brasileiro (povo no qual me incluo), sofrido demais Alberto, sofrido demais Alberto não é preciso ser letrado (como se diz no interior aqui de São Paulo) e nem ser metido a intelectual (como são alguns “jornalistas” da mídia esportiva brasileira como o Sr. Juca Kfuro) para perceber que seleção brasileira por amor ao esporte e ao país foram todas anteriores a 1982 quando o futebol era puro, lúdico, quase com a ingenuidade de uma criança de três anos, aí começou a decadência do esporte bretão, com os empresários de plantão, com a politicagem de federações e confederação, com os brinquinhos, cabelinhos pintados e lousa e cousa e mariposa (como diz um ilustre jornalista com J maisculo), hoje de minha parte só a ceticismo com a nossa seleção amarelada, não errei não é isso mesmo seleção amarelada cheia de jogadores mimados e peidorreiros que ficam só no dodói e no não me toques e futebol que é bom nada, não passaremos das oitavas de final, se empatarmos sexta feira com a Costa Rica o que não é nada difícil podem começar a aprontar as malas e voltarem para as suas mansões na Europa. Saudações palmeirenses.

  5. Alberto,
    Uma coisa foi o futebol apresentado pelo Brasil, de fato, muito aquém do que pode ser.
    Outra coisa é a teoria da conspiração internacional contra o Brasil.
    Isso, na sexta-feira, vamos descobrir claramente no decorrer da partida, se o Tite errou, ou se, realmente existe uma conspiração contra nosso futebol.
    O fato é que o Brasil foi claramente prejudicado e poderia estar com os três pontos na tabela, embora o futebol não o tenha justificado.
    Não gosto deste tipo de coisa, têm e deve ser justo sempre.
    Daí, não podemos criticar quem (os clubes) não quer esse tal de “VAR”.
    Vamos ver o que acontece na sexta-feira e comentarei sobre minhas suspeitas a respeito, isso claro, se existir espaço para um comentário realista.
    Grande abraço e saudações.

  6. Caro Alberto
    Desde a Europa onde estou ha 26 anos, vejo as coisas com mais serenidade e estou completamente de acordo com a tua analise.
    Temos que relembrar que so o Brasil ficou campeao uma vez ganhando todos os jogos em 2002.
    E como ja escreveu o Anderson P que so os que nao entendem de futebol criticaram. O desempenho da selecao foi bom.
    A Suica aqui na Europa e considerado uma selecao muito dificil.
    Basta ver os resultados deles nas eliminatorias.
    um abraco

    1. O próprio Alberto Helena criticou bastante essa seleção de 2002. Acho q a questão do jornalista não é tanto o resultado mas sim q o futebol nao foi tao sofrível como querem passar…

  7. Prezado Helena, parabéns pelo blog, estive revendo o jogo, e o Brasil está em um nivel em evoluçao, o nos deixa com esperança. A respeito do craque Neymar, as criticas foram mais por conta do cabelo rsrsrsrs abs

  8. Prezado Helena, Após os dois lances polêmicos tão debatidos, vistos e revistos, quantas chances de gols teve o Brasil? Pelo menos três, muito claras. Custa caprichar no arremate final? O VAR veio para trazer qualidade e polêmica ao futebol. Ou seja, mais um elemento para complicar o já tristonho futebol.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *