Professores de quê?

Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press

Eles são chamados de professores por aqui. Mais uma macaquice importada da Argentina, onde os treinadores de futebol são tratados de maestros (mestres, em nosso pretenso português, a mais inculta e bela flor do Lácio, cada vez mais inculta, cada vez menos bela).

Professor pressupõe um sujeito que estudou, fez um curso e pregou um diploma de mestre na parede.

A não ser Tite, que cursou Comunicação, e Fernando Diniz, psicólogo formado, dos que andam por aí apenas uma parte carrega a certidão de Educação Física, um curso específico de certa forma relacionado com os ensinamentos do futebol.

Mas, que seja. O cara, mesmo sem curso algum, pode ser professor de futebol, caso conheça esse jogo profundamente, na teoria e na prática.

Já contei e reconto aqui, a propósito, que, nos últimos dez anos, por baixo, tenho conversado longamente com nossos treinadores, e até alguns estrangeiros. E, sempre lanço uma pegadinha: o que é o Quadrado Mágico?

Pois nenhum, absolutamente nenhum, dentre afamados e novatos, soube responder até hoje a essa questão básica, pois intimamente relacionada com a grande e inovadora mudança nas táticas do futebol, há mais de oitenta anos. Nem mesmo, o badalado e simpático colombiano, então técnico do São Paulo e hoje do México, Don Osorio, tido como profundo conhecedor dos segredos da bola.

Uns ficaram calados, à espera da resposta; outros caíram na armadilha dizendo que o Quadrado Mágico era a junção de quatro jogadores de alta qualidade do meio de campo pra frente, como nossa incauta mídia replicou naquela famosa Copa das Confederações a respeito de Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Kaká.

Nada disso, meu. Quadrado Mágico era a expressão usada por Herbert Chapman, o inventor do WM para caracterizar o quarteto de meio de campo que poderia se transformar de quadrado em losango, retângulo, triângulo ou até mesmo numa linha reta, como a adotada por muitos treinadores hoje em dia, no famigerado  4-4-2 ou 4-1-4-1.

E o desconhecimento específico sobre a evolução das táticas de grande parte dos nossos treinadores se estende, além, ao conhecimento geral mais comezinho.

Certa vez, jantando com um renomado técnico brasileiro, este eterno aprendiz aqui discorria sobre como os sistemas e as táticas se desenvolveram desde o clássico 2-3-5, primeira formação organizada depois da zorra inicial implantada pelos ingleses no século retrasado. Ao me referir ao pós-Guerra. Eis que o ilustre ouvinte me interrompe:

-Desculpe, de que guerra você está falando?

-Da Segunda Guerra Mundial.

-Era quem contra quem?

Tive vontade de dizer que era Palmeiras contra Corinthians.

Cuido, porém, de inocentá-lo, pois alguém de seus 50 anos cursou o ensino fundamental e o secundário certamente ainda sob o regime militar, aquele que destruiu a escola pública para beneficiar as particulares, que, por sua vez, financiavam a repressão. Isso lhe diz algo atual no que toca ao conluio entre empresas e governos?

Pois é, meu. Tá na hora de os professores voltarem aos bancos escolares, como humildes e atentos alunos. E o povão abrir os olhos.

 

 

9 comentários

  1. O melhor técnico da seleção do Brasil de todos os tempos foi João Saldanha. João Saldanha era muito pragmático, não tinha frescura de palavras bonitas e não se preocupava em agradar a gregos e troianos. Sua filosofia era sempre privilegiar o craque. Cabeça de bagre não tinha a menor chance. Com João não tinha escalação escondida, treino secreto e papagaio de pirata do seu lado nos treinos e jogos dizendo a ele o que deveria ou não fazer. Quando o time fazia um gol não saia gritando como um louco agarrando quem estivesse à beira do gramado. João apenas dava um sorriso maroto e um tragada no seu inseparável cigarro que ironicamente acabaria levando-o à morte.

  2. Bem na verdade, disse tudo em seu texto, Alberto.
    Muitos “professores” devem aprender ao menos o básico, digo mesmo o bê, a, ba da profissão!
    Como tudo não têm limite, infelizmente a cultura do futebol faz parte do brasileiro, desde o mais renomado ao “pé-de-chulé”.
    E assim caminha a humanidade, digo, os boleiros e os boiadeiros.
    Grande abraço e saudações.

  3. A propósito: na semana que hoje se encerra( ou seria amanhã?) pude constatar o quão prejudicial é o despreparo desses senhores “auto”intitulados professores. Esse bom moço que dirige o Corinthians ao ser perguntado sobre o novo “cabelo” do Jô saiu-se com uma demonstração de racismo velado(involuntário acredito) dizendo que achou horrível. Não o vejo criticar os jogadores brancos que usam cortes bastante exóticos, mas o do negro Jô foi tachado de horrível. E já que toco no assunto: ainda nesta semana um seu colega de programa para defender a pessoa que ele tachara de bruxa saiu-se com essa: <…mas ela é uma bruxa branca , não preta". O outro comentarista ainda se mostrou incomodado dizendo: "Fulano, esta ficando pior"…

  4. Meu caro e vetusto jornalista, não deixe que suas idiossincrasias marxistas maculem seu texto. “Aquele que destruiu a escola pública”? Os militares? Isso é de uma erronia obnubilante e Vossa senhoria sabe disso. Veja-se que até hoje as escolas militares são as melhores do país (ITA, IME, Barro Branco etc) sem falar na seara internacional, “West Point,” dentre outras. O estrago na educação brasileira começou é com a “derrocada” marxista e a implantação da famigerada “progressão continuada” e dos despautérios do Sr. Paulo Freire que colocou seus ideais marxistas acima dos interesses da educação e através da dominação da ideologia esquerdista nefasta fez “terra arrasada” na educação brasileira. Se ainda há seres intelectuais nesse Brasil é herança dos intrépidos militares que tem na educação um fator primordial e da iniciativa privada a maior geradora de tributos, rendas e empregos desse país, diga-se, aliás, também para os demagogos marxistas que insistem em afirmar o que não vivem e estão a ir pimpilantes a belos restaurantes, conforme supranarrado. Grande abraço e, a despeito da contaminação do texto, continuo admirando sua coluna e clamando por mais neutralidade já que o blog é sobre esporte e não sobre ideologias.

    1. Meu caro Bauru. Agradeço sua frequência neste pedaço. E lastimo que o amigo não tenha sido tocado por uma das minhas maiores aversões, expressa aqui com constância: a aversão aos clichês pregados nas pessoas como cruz de fogo na testa dos infiéis.
      Pra começo de conversa, não sou marxista, embora admire em especial uma obra de Marx: Manuscritos Filosóficos, tão pouco difundido até mesmo entre os marxistas de carteirinha.
      Não sou marxist6a porque deixei de crer em utopias há muito tempo. E, cada vez mais, à medida em que meu tempo vai se esgotando. Qualquer ideologia ou religião criada pelo homem certamente conduz a imperfeições incompatíveis com o sonho da sociedade perfeita. Basicamente, porque o ser humano é imperfeito e o poder acaba por corromper qualquer ideia ou ética do que o detém, neste ou naquele regime.
      Vejo-me mais como um hedonista, ou até epicurista, se o amigo quiser uma posição difusamente mais definida. Gosto dos prazeres que a vida nós oferece – bons vinhos, saborosas comidas, mulheres lindas, boas leituras, bons filmes, boa música, uma estátua aqui, um quadro ali produzidos pela engenho humano, esses raios de criatividade E, sobretudo, um futebol jogado com arte e ciência. Ah, se todos no mundo pudessem alcançar esse nirvana, meu!
      Mas, acima de tudo, cultuo a liberdade de ação, pensamento e expressão.
      Surpreende-me muito quando o amigo, tão frequentador deste espaço, pretende algemar as mãos deste velho escrevinhador, limitando-as a batucar teclas apenas relativas ao futebol. Pois, não tenho feito outra coisa senão tratar o futebol como uma expressão cultural do nosso povo, palco-espelho do nosso cotidiano. Logo, é uma via de mão dupla, meu caro. Não posso me limitar a falar de futebol sem falar de tudo o que o cerca e nele se reproduz de forma teatral. Desculpe, mas não o farei, a não ser que, por desgraça total, voltemos a viver aqueles tempos nefandos da ditadura militar, que nos forçava, sob censura, a limitarmos nossos escritos.
      Quanto à nefasta ação da ditadura militar em relação ao ensino público brasileiro, só não vê quem não quer ou não viveu essa transformação. Antes, nosso ensino fundamental e médio era de uma excelência à toda prova. Pois, os sucessivos governos autoritários, cuja repressão foi financiada por parte dos proprietários de escolas particulares, sucatearam o nosso ensino público. E Paulo Freire nada teve a ver com isso Ao contrário: seu projeto foi esfarelado pelos governos militares.
      Já não discuto a excelência do ensino nas academias militares. Devem ser excelentes na produção de guerreiros capazes de enfrentar qualquer guerra, sobretudo a de West Point. Mas, isso, confesso, não me diz respeito.
      Abraços e não me queira mal. Aproveite ainda este resto de feriadão, dê uma volta pelo Masp, compre um bom romance policial, entre naquele barzinho ali, peça um bom uísque e espie só a morena linda, sentada na terceira banqueta à esquerda. Vale a pena só olhar, como me restou fazer nesta quadra da vida.

      1. Já previa alguém com esse tipo de comentário, parabenizo o texto e a resposta. É como qualquer crítica ao capitalismo supostamente ter o poder de transformar o crítico em comunista. Já li nas entrelinhas do texto anterior sobre o medo e segue essa verdade, com o medo e histeria anticomunista e de caça as bruxas se retorna as trevas que antes e principalmente hj nao faz o menor sentido.

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