Foi durante a excursão da Seleção Brasileira à Europa e Ásia, em 78, antes da Copa.
Estávamos a uma hora esperando o sinal de embarque para Hamburgo, tíquete na mão e uma dose extra de paciência na cabeça, já na boca do avião, quando veio a informação de que o voo estava lotado. Não entra mais ninguém.
Motivo: o excesso de peso provocado pelo Gladiador, aquela imensa máquina de recuperação física introduzida entre nós pelo Gilberto Tim, de saudosa lembrança, e levada por Cláudio Coutinho, o técnico, para manter nos trinques e sempre lesionado Rei Reinaldo.
Olhei pro Marcelo Rezende, então repórter esportivo de O Globo, ao meu lado e logo percebi que ali estava um parceiro ideal para a empreitada: alto, forte feito um touro e com ar de poucos amigos.
Falei: “Topas?”. Claro que a resposta foi “Topo!”
Ah, sim vale dizer que havia dois gendarmes postados à porta do avião pra impedir a entrada de mais alguém.
Pois investimos escadinha acima, trombamos com os guardinhas franceses e cada um de nós se ajeitou no primeiro assento disponível. Coube-me ficar entre o zagueiro Amaral e um jovem alemã, professora de português em Paris, acredita?
Veio o guardinha querendo me retirar do avião. Respondi simplesmente: “Pode chamar o De Gaulle, o Napoloeão e seus sessenta soldados que daqui não saio”.
Acabaram desistindo e lá fomos nós para o gelado vento do Norte ver um Brasil e Alemanha de cujo resultado nem me lembro mais.
Lembro, sim, com afeto da figura gigantesca do Marcelão, que acaba de partir para outras paragens mais amenas, quem sabe?