Peixe e Flu. nos círculos do atraso

Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Se o amigo espremer esse clássico nacional entre Santos e Fluminense, verá pingar uma única e escassa gota de emoção: aquela arrancada de Wendell concluída por um disparo rasteiro no poste direito de Vanderlei. De resto, foi aquele nheco-nheco a que estamos acostumados e cansados de ver por aqui.

E, assim, o Corinthians, líder e invicto, sem precisar jogar, assiste ao afastamento de seus principais perseguidores pelas próprias pernas, já que, no fim de semana, Palmeiras,. Flamengo e Grêmio tropeçaram feio. E, agora, o Santos.

Diante dessa situação insólita, já as carpideiras de ocasião lançam no ar as velhas sementes da volta do mata-mata no Brasileirão. E o fazem respaldados no fato de que o Brasileirão, para aqueles que disputam torneios paralelos, tipo Libertadores, Copa do Brasil, Sul-Americana, sei lá quantos mais, passou a ser um campeonato alternativo, com seus treinadores escalando times reservas, com o fez Renato Gaúcho ainda no domingo.

Décadas atrás, o escritor e poeta Stefan Zweig, judeu austríaco que fugiu da Europa estupidificada pelo nazismo, acabou desembarcando no Brasil, lá pelo início dos anos 40, e, de tão encantado com  nossa gente e o potencial de nossos recursos naturais, escreveu um livro cujo título virou slogan da pátria amada, idolatrada, salve, salve: Brasil, País do Futuro.

Depois, se matou.

E o brasileiro continua andando em círculos, sobretudo, porque pensa em círculos. E os círculos do conhecimento cada vez mais se estreitam para uma gente que despreza o passado, não entende o presente e, portanto, não consegue projetar seu futuro, que continua esmaecendo no título do livro antigo e já desfolhado.

Por desprezar o passado e não entender o presente, a turma já esqueceu o sistema de pontos corridos no Brasileirão foi uma exigência da modernidade atrasada, pois o mata-mata, nos moldes até então vigentes era a pior de todas as alternativas existentes. Uma infinidade de jogos desprovidos de qualquer interesse para deles se extraírem oito times que só então daria uma pitada de emoção à disputa.

Estádios vazios, clubes empobrecidos, desinteresse geral pelo torneio, um longo bocejo, isso, sim.

Em ponto reduzido, é o que se vê até hoje nos campeonatos estaduais, um anacronismo sem par.

E, no fim, o grande engodo: o oitavo colocado, de repente, por circunstâncias várias próprias do mata-mata, levantava o título, apesar de ter se arrastado ao longo da maior parte do campeonato. Uma estupidez sem limites. tanto do ponto de vista esportivo quanto do marketing.

Esse disparo assombroso do Corinthians na liderança do atual certame é singular, único, não algo recorrente. Ao contrário, ainda nos anos passados, a disputa pelo título foi renhida, até a última rodada.

Quanto ao resto, a questão não está na fórmula da competição. Está no calendário inflado, sobretudo pelas tantas datas reservadas para os campeonatos estaduais, que poderiam ser utilizadas devidamente para ampliar o tempo do Brasileirão, abrindo espaço para os clubes que disputam outras competições paralelas e para as datas destinadas à Seleção Brasileira.

O futebol, meu amigo, é reflexo da sociedade como um todo. E o brasileiro, em vez de cortar o excesso para acomodar o necessário, prefere acumular velharias e dançar em círculos à volta da fogueira do pensamento.

8 comentários

  1. Belo texto, Alberto.
    Isso deixa claro que idéias de pessoas vividas no futebol e que são favoráveis à volta de um mata-mata é completamente estúpida (como você mesmo alegou).
    E olha que existem muitos “mitos” do futebol na crônica que possuem a mesma idéia.
    Idéia que não leva a nada, sem acaso ou caso, só clubismo amador…terrível só de pensar.
    Mas, a lógica do círculo ainda vai continuar, e, será que vai mudar?
    Acredito que não, círculo não têm fim.
    Saudações corinthianas e um forte abraço em um dos poucos que enxergam essa realidade.

  2. Nas duas últimas conquistas do Brasileirão,o Corinthians terminou o 1º turno com 37 pontos em 2011 e com 40 pontos em 2015.
    Seguindo a linha de raciocínio do caro Alberto Helena,poderíamos dizer que foram campanhas com desempenho normal.
    Transportando os dados de 2011 e 2015 para a tabela de classificação deste ano,o time estaria na 2ª posição com um ponto atrás do Grêmio considerando a campanha de 2011,e estaria liderando com 2 pontos acima do Grêmio considerando a campanha de 2015.
    A dúvida e a pergunta é a seguinte,:-“Será que Grêmio e Santos abririam mão do Brasileirão se o Corinthians repetisse as tais campanhas normais neste ano”?

  3. Um texto que so poderia vir de um comentarista lucido e verdadeiro como o Helena. Enquanto andamos e pensamos em circulos outras naçoes avançam. em reta.. No futebol temos um futebol profissional dirigido llteralmente por fanaticos amadores.. Alimentam grandes elencos por terem muitos jogos, o que gera muitas despesas que são cobertas pelas venda permanente de atletas que obriga a contratação de grande elenco.
    Eis o circulo formado. Sem falarmos na ma qualidade que sobra, A Libertadores que o diga.

  4. Muito bem escrito e comentado, e acho que temos que nos adaptar, sim, há essa realidade de todos esses campeonatos, isso nos prende, e nos cerca no bom sentido, cada vez mais, de muita expectativa, e serve de exemplo também para os clubes, como atualmente Santos, Grêmio, etc.

  5. Ótima análise! O que entristece é observar o desinteresse dos técnicos e elencos de jogadores em continuar jogando com vontade e determinação para se não alcançar, pelo menos diminuir a diferença para o Corinthians. Como Santista,,vejo jogadores do Peixe andando em campo, sem pegada, principalmente esse da foto. Jogador que quer jogar em grandes clubes da Europa e na seleção tem que ter no mínimo mais vontade. Ficam nesse “nheco-nheco”, como bem colocou o Alberto.

  6. Concordo com o pensamento sobre campeonato pontos corridos vs mata-a-mata, apenas isso.

    Não se pode atribuir da qualidade das partidas a velha e frágil questão de quantidade de jogos e campeonatos demasiados (estadual, nacional, continental, sulamericano e copa Brasil).
    Fato: Real Madrid disputou mais de 53 jogos na temperada 2016/2017 jogando 5 campeonatos La Liga, la Liga de Campeões, UEFA, Copa del Rey, Supercopa de Europa e Mundial de Clubes sendo vencedor de 4 desses torneios, se quiserem tirar o Real dessa comparação não deve ser muito diferente o numero de jogos que o Barcelona, Milan, Bayern, PSG, etc fizeram – logo a desculpinha de muito jogo cai por terra.
    O Palmeiras Sem Mundial em 2016 jogou 64 jogos e disputou 4 torneios (paulista, libertadores, brasileiro e Copa Brasil) venceu apenas 1

    A pífia qualidade de nosso bretão esporte reside na ausência completa de Gestão inicialmente e em segundo plano na inexistência de um Projeto de Futebol nesse país, seria o mesmo na política que um país não saber de sua fronteira e depois não ter suas leis de Contituição para reger seu domínio de forma ATEMPORAL, ou de uma talentosa pessoa que deseja exercer a medicina mas não se prepara para passar no Vestibular e que acredita que depois de terminado os anos de formação educacional obrigatório nunca mais vai precisar estudar mais, aliás sendo médico ou qualquer outra profissão digna ESTUDAR é ATEMPORAL você terá que estudar sempre se quiser ser um profissional nem melhor que outro mas no mínimo atualizado com sua vocação.
    Fato: No Brasil a arbitragem não é reconhecidamente profissional, a CBF não valoriza o esporte de base e nem as outras modelalidades como feminino, cegos, futsal, etc.., Estádios rudimentares e de custo exorbitante muitos destes sem opção de compra de ingresso pela internet e no caixa recebe-se apenas dinheiro em especie, violência cada vez mais frequente em estádios mesmo com torcida única, etc.. etc.. e etc..

  7. Análise perfeita Alberto Helena, completaria dizendo que tudo no Brasil ,e feito sem debates e sem planejamento .
    Falta interesse , já passou da hora do nosso calendário ser igual a todos países da Europa, com as mesmas janelas,
    de transferência assim não se teria conflitos de elencos, sendo jogadores vendido em pleno campeonato brasileiro,
    Haver regras qto à demissões de treinadores, e tbm de treinadores que ficam querendo tomar o lugar daqueles que,
    estão empregados.
    Acabar com essa dança de cadeira de técnicos, às vezes chegam até trocarem de 3 , a 4 técnicos no mesmo ano.
    E também haver uma maior cobrança dos jogadores por parte principalmente da imprensa, que para certos jogador,
    poupam de críticas e de cobrança, tem que se ter responsabilidade.

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