A imagem de Cuca vestindo as calças vermelhas da sorte, ajoelhado e rezando à beira do gramado, na hora das cobranças de pênaltis decisivos pela classificação do Palmeiras às quartas de final da Libertadores, viralizou nas redes sociais e na mídia em geral.

Bem, antes de mais nada, vale dizer que fé transcende o campo da racionalidade. Quem crê crê, quem não crê não crê, ponto final.

Esse negócio de qualificar a fé – isso pode, isso não pode – é uma tentativa irracional de racionalizar o irracionável.

Mas, há um porém. Ou você crê nesta ou naquela religião, seu dever é seguir as normas pelas quais elas se guiam.

Se o amigo crê nos deuses gregos, vale fazer todos os rituais determinados pelo oráculo, pois os deuses são vários e conflitantes entre si. Então você pede ao  oráculo orientação e clama por auxílio deste ou daquele.

Se o amigo é de saravá, são tantos os orixás, que oxalá você peça pelo mais forte naquele quesito especial.

Lembro, a propósito, de um episódio vivido no dia em que a Fiel invadiu o Rio, naquele histórico jogo com o Flu da Máquina do Dr.Horta.

Na manhã do jogo, estava hospedado no mesmo hotel que o Corinthians ocupava – o Nacional, no Rio -, quando um mensageiro me informou na piscina que o técnico alvinegro, o falecido Duque, queria falar comigo. Subi ao seu quarto enfumaçado por tantas velas e incensos, repleto de estatuetas de orixás, e transmití-lhe as informações sobre o Flu que eu havia visto treinando ao longo da semana. Até hoje não sei se a vitória alvinegra se deveu às minhas informações ou aos efeitos dos apelos ao sobrenatural feitos pelo treinador.

Mas, se o seu deus é o Deus judáico-cristão-muçulmano, é ele quem determina a sorte da humanidade, não sua, especificamente. Logo, não há como pedir-Lhe algo a seu favor que possa prejudicar o outro.

Rezar pode ser bom para aliviar as dores da alma, como uma forma de entrega e adoração ao seu deus, seja lá qual for. Mas, certamente, não muda o resultado de um jogo de futebol.