Choque-Rei no Parque Verde, um conflito de emoções, mais até do que um simples clássico do futebol.
Pelo menos, é como estou vendo esse Palmeiras e São Paulo, no qual o estado de espírito dos jogadores pode vir a ser mais significativo do que a questão técnica.
Tecnicamente, mesmo jogando com um time alternativo, como a moçada gosta de chamar o velho mistão, o Palmeiras tem mais recursos do que o São Paulo. Graças, sobretudo, à excelência de seu elenco – reservas à altura dos titulares em quase todas as posições.
Mas, time por time, comparando-se os que deverão entra em campo neste sábado, o Tricolor cumpre campanha mais satisfatória do que o Verdão neste início de temporada. Isso, porque Rogério Ceni conseguiu dar à sua equipe um padrão mais ofensivo e fluente, se comparado ao trabalho de Eduardo Baptista até agora.
Ah, mas se o São Paulo faz muitos gols também toma demais. É verdade. Mas, o que isso tem a ver com o estilo, o sistema de jogo, o esquema, para muitos, excessivamente ofensivo?
Ora, ainda outro dia, pedi à produção da TV Gazeta uma pesquisa pra responder à seguinte pergunta: quantos gols tomados pelo Tricolor são de bola parada e quantos de bola rolando?
Resposta: dois terços dos gols tomados pelo São Paulo até aqui foram de bolas paradas ou alçadas na área.
Pra mim, isso transfere a responsabilidade do esquema adotado por Rogério para a atuação individual da linha defensiva – seja por erros pessoais, seja por defeito na composição da última linha nessas ocasiões.
Já o Palmeiras, embora disponha de excelentes jogadores do meio de campo pra frente, tem sido muito recatado em campo. Isso reforça, claro, a defesa, uma das menos vazadas da temporada. Todavia, dificulta a passagem de bola da defesa ao ataque, isolando demais o centroavante, o artilheiro, aquele último homem, enfim, o responsável pelos gols.
Mas, essas são sutilezas táticas com as os dois técnicos haverão de saber lidar.
A questão maior, como disse lá e cima, repousa na alma e nos nervos dos jogadores.
O São Paulo vem animado com os últimos resultados, enquanto o Verdão coça a cabeça – ora bem, ora mais ou menos, normal nessa fase de transição. Mas, um clima delicado para o campeão brasileiro, ávido por conquistas ainda maiores, sobretudo por ter investido tanto e bem na formação de seu elenco.
E aqui entra a tal faca de legumes do saudoso Vicente Matheus: se a presença maciça e exclusiva de palestrinos em sua própria casa, em outras circunstâncias, seria uma arma praticamente mortífera para o adversário, neste exato momento é uma ameaça mortal para o próprio Palmeiras.
Explico: a turma verde não engoliu até agora a presença de Eduardo Baptista no banco do seu time. Isso é fato, ainda que possa ser injusto e precipitado.
Caso, o Palmeiras comece a titubear diante do São Paulo, grande é a chance de a torcida se virar contra Eduardo Baptista, e, por consequência, contra o próprio time, o que seria fatal.
O futebol, porém, é esse joguinho imprevisível que nos leva a caminhar durante noventa e poucos minutos sobre o fio da navalha, aquele que separa a glória do fracasso.
Assim, só resta esperar pra ver o que estão tramando os deuses da bola nesta véspera de um choque entre reis.