“Parece que o futebol feminino apareceu depois de 2019”, desabafa Cris

Cristiane: “Não tem nem como comparar quando comecei com o que as meninas têm disponível hoje”. (Foto: Santos FC)

A fala é de quem tem bagagem e propriedade para contar a história do futebol feminino brasileiro. Cristiane é, provavelmente, um dos primeiros nomes que vêm à sua cabeça quando se fala da modalidade. São duas medalhas olímpicas, dois ouros em pan-americanos e um vice-campeonato em Copa do Mundo. Mas a sensação é de que os holofotes só vieram depois da última edição do Mundial. “Parece que o futebol feminino apareceu depois de 2019”, desabafou para o Entrelinhas a maior artilheira da história das Olimpíadas e segunda maior goleadora da seleção brasileira.

No universo do futebol feminino, há um consenso: a Copa do Mundo da França foi um divisor de águas, principalmente no Brasil. Além de ser transmitido em canal aberto, o evento bateu recordes de audiência. Para se ter uma ideia, só no País, a eliminação da seleção contra as donas da casa foi vista por mais de 35 milhões de telespectadores. “Depois da Copa do Mundo, as pessoas começaram a enxergar um pouco mais a modalidade. Acho que é porque realmente faltava um lado de um trabalho de divulgação que tem hoje, e as equipes de camisa”, analisa a atacante do Santos.

Para ela, a modalidade está em constante evolução em terras tupiniquins. “Não tem nem como comparar quando comecei com o que as meninas têm disponível hoje. Elas têm campeonato série A, B, tem campeonatos nas categorias de base, tem os clubes de camisa por trás. Tem meninas que recebem muito bem. Algumas tem carteira assinada, outras bolsa em faculdades”, ressalta a atacante.

Não é de se surpreender que algo “básico”, como carteira assinada, seja destacado como um diferencial, pela jogadora. A profissionalização do futebol feminino é recente e nem sempre foi realidade no país. Para se ter uma ideia, apenas quatro anos atrás, só o Alvinegro Praiano e o Atlético-MG eram considerados profissionais pela CBF, por garantirem os direitos profissionais às atletas.

Mais recentemente, em 2019, um levantamento da Folha mostrou que, das 52 equipes participando do Brasileirão feminino daquele ano, apenas oito tinham 100% das jogadoras registradas com carteira profissionais. Apenas 15%. “Tem lugares ainda que as meninas passam dificuldade, seja financeira ou de estrutura, mas comparado à quando eu comecei, tem uma melhoria bem bacana”, ressalta, otimista, a veterana.

Para Cris, entretanto, não é apenas futebol que precisa ser ensinado na base. “Ainda percebo que tem muitas meninas mais novas que, às vezes, são mal orientadas, em termos de comportamento em mídias sociais, ou até mesmo jogando: tem falha que poderia simplesmente ser corrigida no treino de base”, analisa.

A atacante defende também a profissionalização dos treinadores para o avanço da modalidade. “Não adianta você cobrar profissionalismo só da atleta e isso não partir de uma comissão técnica”, destaca. “Até porque, é ele [o técnico] quem está com você e quem vai te ensinar. Ensinar essas meninas de uma categoria de base o básico do futebol”.

Engana-se quem pensa que são só as veteranas quem sentem o impacto dessa transformação recente. Mesmo que chegou “agora” reconhece as mudanças e entende a importância da profissionalização do futebol feminino. Malu Schwaizer, que recentemente alcançou a elite do Brasileiro, também conversou com o Entrelinhas sobre o desenvolvimento da modalidade no país. A terceira entrevista dessa série especial, com a Tainá, goleira do Corinthians, você acompanha nas próximas semanas.

Um comentário

  1. Infelizmente, há que se ser sensato. Muitos que gostam de esporte criticam a Globo por vários motivos. Mas nenhum esporte alcança sucesso de massa sem passar pela programação dela. Foi assim com a Fórmula 1, o vôlei e o futebol de areia. Como diz um ditado: “Quem não é visto, não é lembrado.”

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