Esse texto é um relato pessoal, um desabafo e um apelo.

Neste domingo, os Jogos de Tóquio acabam. Estando no Kansas, duas horas atrás do Brasil, que já acompanha as disputas na madrugada, todos os dias acordava com centenas de publicações feitas pelas pessoas que sigo no Instagram. Elas estavam assistindo as competições e torcendo pelos atletas que representam o verde e amarelo no Japão. Estavam se emocionando com suas histórias e vibrando com suas vitórias. Estavam compartilhando suas conquistas. E isso é legal demais.

Mas, você sabe, nem sempre é assim.

Em 2016, quando comecei a trabalhar neste site onde escrevo agora, eu era a estagiária de esportes olímpicos. Era apenas sobre isso que escrevia. Nada de futebol. De domingo a domingo.

Pra ler outros esportes, como a gente chama em muitas redações, você precisava, praticamente, alcançar o rodapé do site e dar sorte de algum mundial estar sendo disputado. Só que isso nunca foi um problema só daqui. Dá pra dizer, até, que é um problema estrutural, que acontece em todos outros sites esportivos. Afinal, o Brasil é o país do futebol e é isso que dá audiência e gera cliques e engajamento.

Mas a culpa disso acontecer não é dos editores. A culpa é sua.

Ela é sua porque, quando os Jogos não estão acontecendo, você, provavelmente, não tem interesse em saber como está a preparação da Rebeca Andrade, do Darlan Romani e da Ana Marcela Cunha durante o ciclo olímpico. Ela é sua porque você não segue (ou não seguia) os atletas olímpicos nas redes sociais como segue os do seu time de futebol. Ela é sua porque você não clica naquele link sobre o Pan-Americano de ginastica artística. É sua porque quando a Superliga ou o Brasileirão feminino estão na TV, você não assiste.

Talvez, você faça tudo isso. Mas aí, a culpa não é sua.

A Daiane Dos Santos fez um post em suas redes sociais, que vou compartilhar aqui. Ela escreveu que, de acordo com a Carta Olímpica, documento que estrutura e rege a organização do Comitê Olímpico Internacional, Olimpíada é o período de quatro anos entre a realização dos Jogos Olímpicos. Já os Jogos Olímpicos é o evento esportivo propriamente dito.

Olímpiada acontece todos os dias, pra muita gente. Engajar agora é legal e descolado. Mas é preciso falar sobre esportes olímpicos sempre.

Esse foi o desabafo. Agora, vêm os apelos.

Não romantizem o drama. A história do Darlan, por exemplo, é linda, sim. Mas a falta de estrutura para treino não é algo a ser vangloriado. Ele, assim como outros atletas, precisa sim de um centro de treinamento completo e de profissionais preparados ao seu lado. Afinal, esse é o trabalho dele e isso é o mínimo que pode e deve ser oferecido para um atleta de alto rendimento.

O segundo pedido você já deve estar esperando. Valorize o esporte olímpico. Assista, acompanhe, siga e compartilhe. Engaje nessa luta de tantos e tantas brasileiras. Cobre também — estrutura e bons resultados.

Incentive as crianças que estão ao seu redor a praticarem modalidades olímpicas. É clichê, mas cabe aqui: nossas futuras medalhas vêm delas.

Por fim, mas não menos importante: continue comemorando! Compartilhe, sim, as alegrias que os Jogos de Tóquio tem proporcionado em meio ao caos. A festa é bonita demais.