Derrota com gosto de ressaca

A sensação é de que dava para ir mais longe (Foto: Sam Robles/CBF)

Passei a manhã toda encarando o notebook. Rascunhei alguns começos para esse texto. Li outros tantos de colegas jornalistas e vasculhei as redes sociais das jogadoras da Seleção. Tudo isso, em busca de uma resposta.

A sensação é de ressaca após uma noite regada a vinho – sem beber água e comendo poucos aperitivos. Ressaca das bravas mesmo. E, como quem tenta resgatar as memórias perdidas com o álcool, fui em busca de respostas. Por que perdemos?

Eu vou ser sincera com você. A partida entre Brasil e Canadá começou às 3 da manhã, no horário do Kansas. Tentei assistir ao jogo em alguns sites, mas o plano foi falho. Fui dormir. Acordei no final da prorrogação. Li os “aos vivos” e dei uma olhada no Twitter. Mas se já não costumo ter estômago para pênaltis assistindo-os na TV, acompanhá-los online pareciam uma tortura. Sendo assim, antes de voltar a colocar a cabeça no travesseiro, mandei uma mensagem no grupo da família pedindo para que me atualizassem com o resultado do duelo.

A primeira coisa que li ao acordar foi um “perdemos”, enviado pela minha irmã, às 5h45.

Eu acreditava que dava. Vimos, algumas vezes, a equipe comandada por Pia vencendo, sem grandes dificuldades, o Canadá. Falei disso ontem. Tínhamos as estatísticas a nosso favor. Mas eu posso ter culpa na derrota: talvez, eu tenha zicado.

Nessa busca por consolo, entendi que a Pia, mais uma vez, foi insistente na sua forma de ver e fazer o jogo acontecer. Suas escolhas, de quem entrou em campo, de quem não entrou, dos posicionamentos e de quanto tempo eles duraram, é claro, afetaram muito o embate. Foram erros técnicos e táticos. Como pontos a serem melhorados, Pia destacou a entrega de bolas para o Canadá no início da partida, além da falta de velocidade e de ritmo.

Mas, aqui, não vou falar de culpados. Não seria justo – com a técnica, com as jogadoras, comigo e com você, caro leitor.

Marta mesmo pediu para não apontarmos dedos. “Se tiver que apontar, pode apontar pra mim”, afirmou a atleta, depois da derrota. “Já estou acostumada. A nova geração não pode pagar por uma desclassificação. A gente precisa valorizar e parar de cobrar tanto o que nunca foi investido antigamente”, completou a seis vezes melhor do mundo.

Sem coitadismo por aqui. Mas a falta de apoio para o futebol feminino, em terras tupiniquins, não é segredo pra ninguém.

Não dá pra ignorar os dados levantados por Formiga, em suas redes sociais, às vésperas do embate: o investimento que é feito no futebol feminino, hoje, segue parecido com o que era feito no futebol masculino nos anos 80. Nos anos oitenta, vale destacar. Segundo ela escreveu, em 2021, os gastos totais de um time feminino são em média de R$ 100 mil — valor menor do que o investimento em um único jogador do futebol masculino nos anos 80.

Na mesma época, o recorde de um jogo masculino foi 161 mil torcedores. Do futebol feminino, até 2021, o número máximo de torcedores em um estádio foi 28 mil pessoas. Sem contar os 40 anos de proibição. “Complicado”, escreveu Formiga.

É complicado, mesmo, Formiga. O Brasil precisa, sim, melhorar técnica e taticamente. Precisa de mais e mais atletas criativas e habilidosas. Precisa de um grupo bem entrosado como este. O Brasil precisa, sim, melhorar a estrutura nos clubes e a folha salarial das jogadoras. Precisa incentivar o futebol feminino para as futuras gerações. Precisa de investimento, acolhimento e torcida.

Vamos juntos?

 

 

 

 

2 comentários

  1. Foi mesmo um jogo com ressaca, ressaca de sono porque ficar acordada e ver a Seleção Feminina de Futebol perder nos pênaltis, foi muito triste, muito ruim. Estamos sempre preparados para a Vitória, para o primeiro lugar, nunca nos preparamos para um segundo lugar. Vida que segue com a certeza de que nossa Seleção será valorizada e que venha 2024.

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