Por que a Libertadores feminina não tem tanta visibilidade quanto a masculina?

Eu sei. O terreno é árido. O futebol feminino ainda é muito recente no Brasil. Pouco mais de quarenta anos atrás, mulheres eram proibidas de jogá-lo por um decreto-lei, em terras tupiniquins. Logo, é natural que os avanços na modalidade também sejam atrasados em relação ao masculino. Pra se ter uma ideia, quando o feminino foi “legalizado”, em 1983, a Seleção masculina já havia vencido três Copas do Mundo. Mas, claro, isso não é uma justificativa convincente que responde a pergunta da manchete.

O impacto disso é personificado na Libertadores Feminina de 2020, que tem início hoje. Pouco falou-se dela. Apenas um dia antes do início do torneio foi anunciado que a Band acertou contrato para a transmissão dos jogos. Isso, em um cenário favorável em que três times nacionais lutam pelo título: Ferroviária, Avaí e Corinthians.

O Timão, por exemplo, chega a sua terceira participação na Copa Libertadores Feminina. Nas duas anteriores, as corintianas terminaram sua participação com a conquista do título continental, ambas invictas. E tem muito corintiano que não sabe disso.

Corinthians feminino luta pelo terceiro título (Foto: Conmebol)

Existe essa percepção carregada lá dos anos 1940 de que o esporte é uma prática viril e que criou a ilusão de que mulheres não conseguem entregar qualidade e de que o jogo feminino é inferior”, destacou Carolina Chrispim, Consultora de Projetos da OutField Consulting, respondendo o questionamento inicial. “Na verdade, são poucos os que realmente pararam para prestar atenção”.

Mas essa “não” visibilidade não é só no Brasil. Hoje, apenas 4% da cobertura esportiva mundial é voltada para esportes praticados por mulheres, segundo dados da Unesco de 2018. Para Carolina, a mídia esportiva tem o poder de alavancar a visibilidade, mas também é importante que clubes, federações e confederações entendam que é essencial entregar produtos de qualidade, dar boas condições para as atletas e o mínimo de estrutura durante as competições. Ou seja, é uma via de mão dupla.

“Quando mostramos mais mulheres praticando o esporte em alto nível e não somente com um viés de desigualdade, ele passa a naturalmente chamar mais atenção e entrar no radar de pessoas que até então não tinham acesso à modalidade, além de inspirar as novas gerações com modelos de sucesso”, destaca a especialista. “É preciso assumir riscos e investir para ter resultados e, na maioria das vezes, eles não serão imediatos”.

Mas se tem uma coisa que nós, entusiastas do futebol feminino, podemos fazer, é dar audiência para quem investe no esporte. Começando agora. Seja apoiando seu time e atleta nas redes sociais, seja assistindo aos jogos desse e de outros torneios. De pouco em pouco, crescemos com o futebol feminino.

Passos de Formiga, sabe?

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