A dor lombar crônica é definida como aquela que atinge mais de 12 semanas de duração. O papel da terapia baseada em exercícios ou movimentos no manejo da lombalgia vem assumido grande importância, visto seu desfecho positivo a médio e longo prazos na resolução dos sintomas.
A lombalgia geralmente está associada à redução da força, resistência, atrofia muscular e fadiga da região lombar. A prescrição de exercício deve fazer parte do tratamento e age na base do mecanismo que gera a dor, sendo recomendado para todos os pacientes com dor lombar crônica, respeitando as limitações e individualidades de cada um.
Em várias revisões sistemáticas, o exercício melhorou a dor e a função em pacientes com lombalgia crônica. Além disso, pacientes com lombalgia crônica que participam regularmente de atividades de lazer moderadas a vigorosas têm menos dor e melhor função em comparação com aqueles que são menos ativos fisicamente.
Mecanismos propostos de benefício — Vários mecanismos relacionados ao exercício contribuem para a melhora da dor, incluindo neurológico, musculoesquelético e psicológico.
Independente da causa que motivou a lesão tecidual, esta, por si só, e de forma crônica, causa mudanças complexas no sistema nervoso periférico e central, aumentando sinais elétricos de tradução de dor, reduzindo significantemente o seu limiar de disparo e favorecendo gatilhos desencadeadores.
Alguns estudos sugerem que o exercício reverte muitas dessas alterações neurológicas, melhorando progressivamente a percepção dolorosa de região afetada. Evidências indiretas baseadas nesses estudos apontam que o exercício induziria mudanças no sistema nervoso periférico e central que contribuem para a produção, manutenção e resolução da dor, atuando favoravelmente com redução de processos inflamatórios que desencadeiam a dor.
O exercício tem efeitos positivos no metabolismo dos músculos, articulações e discos intervertebrais. Esses tecidos requerem adequada nutrição para manter seu metabolismo normal e reparar microtraumas. Uma peculiaridades do disco intervertebral, é que ele não recebe suprimento sanguíneo e obtém seus nutrientes e metabolismo por embebição (absorção direta de fluido pelo disco), que é otimizado pelo movimento e impacto que podem ser adquiridos através do exercício.
O exercício proporciona benefícios psicológicos, incluindo reduções no estresse, ansiedade e depressão. Existe uma forte associação entre lombalgia crônica e depressão, e o exercício pode ajudar a melhorar o humor de pacientes com lombalgia crônica, o que, por sua vez, pode levar a um aumento em seu nível de atividade física. Alguns pacientes ficam inseguros de sentirem dor nas costas e exibem medo do movimento, muitas vezes criando uma verdadeira fobia, o exercício pode ser um meio pelo qual esses pacientes aprendem a enfrentar e superar seu medo de se movimentar.
O aconselhamento das fases do treinamento é muito importante para sua adesão. Entre os pacientes com lombalgia, pode ocorrer uma exacerbação temporária dos sintomas durante ou após o exercício terapêutico. Orientar o paciente sobre esta possibilidade, pode ser tranquilizador e reduzir o medo. O aumento da lombalgia após o exercício é comum, geralmente benigno, e simplesmente indica que os tecidos produtores de dor foram estimulados. Importante ressaltar que o exercício não parece aumentar o risco de exacerbações da lombalgia.
Todos os pacientes com dor lombar crônica provavelmente se beneficiarão da atividade física, mas há variabilidade significativa na capacidade e tolerância ao exercício entre os pacientes, o que deve ser considerado ao fazer recomendações de programas de exercícios. Alguns pacientes podem nunca ter sido regularmente ativos fisicamente, enquanto outros podem ter parado ou diminuído muito as atividades físicas e exercícios por causa da dor. Pacientes que nunca foram ativos devem ser encorajados a começar a se exercitar, mas podem se beneficiar de um programa graduado supervisionado com mais apoio. Pacientes que já estão ativos e se exercitando devem ser encorajados a continuar e assumir um plano mais avançado de treinamento conforme seu nível.
São inúmeras as opções de exercícios disponíveis, levando em consideração as preferências, circunstâncias, nível de condicionamento físico, disponibilidade e experiências de exercícios, ajudará a determinar o programa de exercícios mais apropriado. O acompanhamento com a fisioterapia, educador físico para instrução e educação formal de exercícios é fundamental para que haja uma abordagem mais estruturada e guiada.
Todos os programas de treinamento são benéficos. O exercício em todas as formas tem efeitos positivos nos processos neurológicos e inflamatórios anormais associados à lombalgia crônica. Contudo, comparações entre as modalidades de exercício foram feitas. Em uma meta-análise de rede de 217 estudos em 2021 avaliando exercícios específicos recomendados por médicos para tratar a dor lombar crônica em mais de 20.000 pacientes nas modalidades de exercícios (Pilates, reabilitação funcional) tiveram maior benefício na melhora da intensidade da dor e limitações funcionais em comparação com outros tratamentos de exercício. Vale ressaltar que muitos exercícios ainda que convencionais já apresentam benefícios no manejo da dor crônica.
Caminhada – Caminhar, a forma de exercício mais simples e disponível, pode ser eficaz na diminuição dos sintomas de diferentes tipos de dor musculoesquelética crônica, incluindo a lombalgia.
Em uma meta-análise de 26 estudos de 2015 (cinco estudos incluíram pacientes apenas com lombalgia crônica concluiu que caminhar melhorou a dor e a função em 12 meses.
Em uma meta-análise subsequente de 2017, a caminhada foi semelhante a outros tipos de exercício para melhorar a dor e a incapacidade.
Exercício aeróbico – O exercício aeróbico é eficaz na diminuição dos sintomas da lombalgia. Em uma meta-análise de 2015 o exercício aeróbico diminuiu a intensidade da dor e melhorou o funcionamento físico ao longo do tempo em pacientes com lombalgia crônica.
Treino resistido – Em outra meta-análise de 2018 comparando exercícios aeróbicos com exercício resistido em pacientes com lombalgia crônica, os dois programas de exercícios foram igualmente eficazes na redução da dor lombar.
Exercícios de alongamento – Há uma grande variedade de exercícios e programas de alongamento disponíveis, tanto independentes quanto guiados, para pacientes com lombalgia. A participação em uma variedade de diferentes programas de alongamento pode ser benéfica na redução dos sintomas em pacientes com lombalgia crônica.
Pilates – Pilates é uma técnica de exercício que se concentra em realizar movimentos controlados de todo o corpo que começam com o núcleo (costas e abdômen) e fluem para fora em direção aos membros. Os proponentes relatam benefícios para a saúde, incluindo alinhamento corporal, respiração melhorada, força, coordenação e equilíbrio.
O Pilates pode ser adaptado a pacientes com diferentes níveis de condicionamento físico, com técnicas que foram adaptadas para tratar a lombalgia.
O Pilates pode ser semelhante em eficácia a outros regimes de exercícios para o tratamento da lombalgia. Um estudo randomizado de pacientes com lombalgia, participar de sessões de Pilates duas e três vezes por semana resultou em maior redução da dor e incapacidade.
Ioga – Uma prática mente-corpo com três componentes principais: poses/posturas físicas, controle da respiração e meditação/relaxamento. A ioga pode ser adaptada para pacientes de diferentes níveis de condicionamento físico e habilidades e é benéfica no controle dos sintomas em pacientes com lombalgia crônica. Uma meta-análise de de 2017, a ioga produziu melhorias em comparação com controles sem exercício.
Reabilitação multidisciplinar – A reabilitação multidisciplinar combina (no mínimo) um exercício e um componente comportamental fornecido por diferentes profissionais de saúde. A intensidade e o conteúdo desta terapia variam muito. Esses programas combinam terapia de exercícios graduais com uma abordagem psicossocial, geralmente envolvendo um psicólogo e terapia cognitiva comportamental. Os pacientes são mais propensos a se beneficiar da reabilitação multidisciplinar se estiverem altamente motivados, pois os regimes podem consumir muito tempo (por exemplo, > 20 horas por semana).
Bom treino!