Qual o significado da Educação Física Escolar?

A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR é um componente curricular da Educação Básica Nacional, ou seja, deveria estar presente em todos os níveis de ensino, desde a Educação Infantil até o final do ensino médio, em todas as escolas brasileiras e em todos os turnos. No entanto, são inúmeras as instituições de ensino que, deliberadamente, suprimem aulas, atribuem responsabilidades às academias vizinhas (terceirização do ensino) e até, como conhecemos, excluem as aulas, muito especialmente no ensino médio e, sobretudo no período noturno. Não podemos nos esquecer de falar da enorme quantidade de escolas que não possuem espaços adequados e materiais para que os estudantes possam vivenciar o maior número possível de práticas corporais. Tanto as crianças, adolescentes e jovens adultos como seus pais, mães ou responsáveis não se dão conta dos prejuízos à formação desses seres humanos com a ausência de um componente que deve dar conta da dimensão Corporal da vida humana e é importante para todos. 

O processo de desvalorização desse componente curricular, assim como o de Artes ou de Filosofia, passa pela compreensão equivocada sobre a finalidade, conteúdo e abrangência que boa parte da sociedade ainda apresenta em relação ao processo de formação escolar.

Um país que não valoriza a cultura, a reflexão crítica e autocrítica, as artes e a corporeidade colhe frutos desastrosos na formação de seus membros. A reprodução de modelos do senso comum, especialmente quando equivocadamente atribuímos à Escola a responsabilidade, por exemplo, da formação de atletas (muito comum nos discursos políticos E de autoridades da Educação e do Esporte) é um dos equívocos presentes.

O esporte deve, sem sombra de dúvidas, estar presente na Educação Física, assim como a dança, a luta, a ginástica, a expressão corporal, o circo, os jogos tradicionais (incluindo os indígenas e afro-brasileiros) e a ampliação de saberes sobre todos os aspectos envolvidos na cultura corporal de movimento.

É muito interessante observar que o ESPORTE (uma das possibilidades de conteúdo da Educação Física Escolar) tem sido conteúdo predominante nas escolas, mas a forma de sua oferta reproduz, invariavelmente, o modelo hegemônico do esporte performance (competição) que, por si só é excludente e elitista. A sala de aula é um ambiente altamente desigual, em todos os sentidos  que um ambiente de aprendizagem e convívio social pode ser, e a inadequação das oportunidades, quando o esporte é simplesmente inserido nas aulas sem qualquer alteração de forma e exigências, desrespeitando a individualidade e os desejos dos aprendizes, faz surgir o desinteresse, o afastamento dos estudantes considerados menos hábeis e/ou com dificuldades para a manifestação de sua corporeidade.

Os parágrafos anteriores apenas iniciam as discussões sobre o tema Educação Física Escolar. Teremos a contribuição de inúmeros professores que provocarão nos leitores a curiosidade, motivarão a reflexão e, sem qualquer pretensão com a exclusividade do pensamento, apresentarão algumas alternativas que atendam aos objetivos da Educação Física Escolar. Mas, qual ou quais os objetivos desse componente no seio da Escola? Veremos e discutiremos em conjunto.

18 comentários

  1. Reflexão sobre educação é muita rica , remete a infância as brincadeiras de rua, roda e as mulecagens, eu sou professor de Educação Física e fiz muito isso o sentido de brincar na infância refleti muito o adulto de hoje, agradeço aos meus pais por darem a liberdade de brincar e crescer assim, época onde não tínhamos tanta violência e ainda tínhamos os vizinhos para brincar , hoje em dia não conhecemos os nossos vizinhos.
    Na educação física escolar mudou muito o processo de ensino e aprendizagem, temos trabalho de ensinar coisas básicas aprendidas anteriormente sozinhos, regras e brincadeiras, fazer discussões sobre o tema é muito pertinente .

    1. Prezado Professor Marçal.
      Grato por sua contribuição.
      Há inúmeras alternativas para a conciliação do Esporte, Escola e demais atividades da cultura corporal de movimento. O que não podemos nos esquecer é que todos os alunos e alunas merecem vivenciar práticas da cultura corporal de movimento devidamente transformadas e adequadas às suas necessidades, competências e desejos. O que não podemos é trazer o modelo do esporte institucionalizado para o interior da sala de aula, ele é, por si só, elitista e excludente enquanto proposta. Abraços

    2. Olá, professor Marçal, que prazer “vê-lo” neste excelente e necessário espaço! “Revê-lo”, na verdade, pois lembro-me das nossas conversas sobre a Educação Física Escolar em Guarulhos. Entendo que sua reflexão remete às implicações do processo de urbanização, acompanhado da especulação imobiliária e da precarização intencional dos espaços públicos – que restringe as possibilidades de manifestação da corporeidade. Penso que à Educação Física Escolar cabe problematizar essas questões, que vão além da vivência esportiva, pois concordo que os alunos e alunas não aprenderão sozinhos(as) sobre essa temática, que abrange os elementos da cultura e as demandas do ambiente em que vivem. Aproveito para cumprimentar o professor Daniel pela iniciativa deste blog! Grande abraço

  2. Olá Daniel e Luiz.
    Desculpem atuar como “advogado do diabo”, mas realmente tenho uma dificuldade/falta de clareza em entender a Cultura Corporal de Movimento como o conteúdo/objetivo da EF Escolar. Talvez não seja o perfil deste blog adentrar nesta questão, mas resolvi levantar minha dúvida assim mesmo.
    Digo isso pois a população está cada geração mais acometida de doenças oriundas da falta de movimento; não seria um objetivo da EF Escolar enfrentar esta situação?
    Não tenho ainda uma definição cabal para a Educação Física Escolar, tenho lido e testado algumas hipóteses em minhas aulas.
    Abraços
    Yure Barreto Zanata

    1. Olá, Professor Yure, enorme prazer encontrá-lo por aqui. Vamos iniciar esta discussão e, certamente, muitos colegas poderão complementar e enriquecer o tema.
      Vou iniciar pela falta de movimento como objetivo da Educação Física Escolar. Realmente, nossas crianças e adolescentes apresentam um paupérrimo reportório de atividades corporais que lhes permita o envolvimento e adesão com alguma prática da cultura corporal de movimento em suas vidas. A vida nas metrópoles, a redução dos espaços de lazer, a visão equivocada quanto ao se movimentar vinculado, quase que exclusivamente ao esporte no modelo institucionalizado (competição), a ausência de alternativas que atendam aos desejos, possibilidades, competências e afetividade, além do distanciamento de nossos alunos (na educação básica na maioria das escolas) da possibilidade de análise crítica do que venha a ser adesão às práticas da cultura corporal de movimento (inúmeras alternativas presentes nas diferentes sociedades/comunidades), faz surgir “barreiras ao envolvimento”. A escola pode contribuir sim para alterar esta realidade. Mas, certamente não será com a reprodução dos chamados “Esportes Hegemônicos” repetidos a cada bimestre letivo. Ampliar o conhecimento dos alunos, vivências diferenciadas de atividades (esportes, lutas, dança, circo, ginásticas), análise crítica destas possibilidades humanas são alguns dos caminhos. Mas, vamos dialogar mais sobre esta questão muito em breve. Abraços.

    2. Olá, Yure!
      Que prazer “rever” você e “conversarmos” por aqui. Penso que você levantou uma questão excelente e polêmica. Quanto a ser advogado do “diabo”, acredito que na conjuntura política atual do nosso país há outras causas bem menos nobres que a da Educação Física Escolar. Vamos debater…
      A cultura, num sentido bastante amplo, pode ser entendida como “toda produção humana”, como “tudo que nós, seres humanos, temos produzido ao longo de nossa história”. Então, a cultura corporal de movimento pode ser entendida como uma “parte autônoma” da cultura humana, relacionada ao corpo e ao movimento. Aí já há uma “falha”, pois tudo que nós produzimos se dá pelo nosso corpo em movimento. Por isso, poderíamos falar apenas em cultura, sem precisar falar de corpo e movimento para adjetivá-la.
      De todo modo, há uma “área” da cultura que é identificada por elementos – manifestações expressivas corporais – como: brincadeira, jogo, esporte, ginástica, circo, luta, capoeira, dança, atividades da vida diária e vivências com codificações difusas (como práticas corporais “alternativas” etc.). É essa área que se convencionou chamar de cultura corporal de movimento, ao enfatizar tanto a corporeidade (cultura corporal) quanto o sujeito que se movimenta (cultura de movimento).
      Também tenho ressalvas sobre o significado, objetivo e conteúdo, assim como você. Tenho discutido essa questão com vários colegas professores e professoras e chegamos a um entendimento comum. É com base nesse entendimento que compreendemos os conteúdos e objetivos da Educação Física Escolar. Entendemos que se trata da convergência entre quatro dinâmicas: da cultura, do corpo, do movimento e do ambiente. Parece-me coerente que as aulas de Educação Física na escola tenham foco no ensino desses temas, que são bastante complexos e vão muito além do “jogar bola” ou “praticar esporte” ou “praticar atividades físicas para melhorar a saúde”.
      A Educação Física é uma forma de intervirmos no mundo (na cultura, ambiente, corpo e movimento juntos ao mesmo tempo – e não uma opção de tratar da cultura ou do movimento ou do corpo separadamente nas aulas). Nesse sentido, “Educação Física” é algo que se tem, porque podemos aprender a ter – na escola – e não algo que “se faz” com sentido instrumental e comercial. Enfim, a Educação Física – como educação – é um processo permanente (permeado pela cultura) e não um produto comercializável (como um remédio).
      Forte abraço

  3. O texto faz o leitor refletir sobre a situação que a sociedade está vivendo, a Educação Física é um componente do currículo escolar tão importante quanto outros, a partir dela todos nós passamos a conhecer melhor o nosso corpo.
    A luta com os governantes sobre tirar a Educação Física das escolas é algo muito sério, pois além de ser boa para a saúde, ainda mais para quem pratica atividade física somente na escola, ela remete a um bom desenvolvimento social.
    Além do mais seria uma vergonha para um país que sediou uma copa e uma olimpíada a pouco tempo, fazer um descaso desse com a prática esportiva, Partindo desse contexto é sempre importante lembrar que o descaso não acaba só na escola, muitos atletas olímpicos não recebem nenhuma ajuda do governo e estão passando por situações difíceis.
    O que resta é cobrar o governo por melhorias tanto em uma quadra de escola, quanto em um centro de treinamento, nunca deixar a Educação Física e a prática esportiva de lado e sempre lembrar que isso é muito mais que um jogo e competição, é um momento de aprendizagem.

    1. Olá, Marina.
      A consciência de um povo quanto aos seus direitos, suas lutas pela igualdade, pelo respeito, pela garantia das condições de vida e para a vida, associada a um olhar atento para o outro, podem fazer a grande diferença. A Educação Física é, de fato, muito mais do que a quadra, a bola, o jogo e a disputa. É vida vivida intensamente!!!

  4. Como você mesmo disse e ressalto, quando a Educação Física não busca respeitar a individualidade e atender as vontades de cada praticante, tudo se torna mais difícil, pois o interesse diminui e faz com que os estudantes se afastem. Posso dizer por mim mesma, que boa parte, se não todas as aulas de Educação Física que tive durante o segundo ensino fundamental, participei para não ter parte da nota descontada. Pois quando a aulas são apenas inseridas no currículo escolar sem qualquer alteração ou busca por melhorias e se concentram apenas nos mesmos esportes, que seriam basquete, vôlei, handbaal e futebol, todos os anos; a vontade de participação diminui a cada aula e faz com que somente alguns estudantes com mais facilidade desenvolvam-se.
    Concordo plenamente, que o esporte, a dança, a luta, a ginastica, dentre tantas outras modalidades devem estar presentes, nas aulas de Educação Física, buscando incluir todos os alunos, ampliar seus conhecimentos e ajudar a acabar com qualquer tipo de preconceito que haja com relação ao tema.
    A contribuição do governo com toda a infraestrutura necessária, juntamente com a participação pedagógica e a valorização dessa e outras disciplinas, é muito importante para que se compreenda a diversidade corporal, o leque de opções que se pode ter em uma aula de Educação Física e especialmente sua importância quanto ao ganho de novas experiencias corporais e avaliação crítica delas.

    1. Olá, Vitoria
      A sua compreensão aliada a ações concretas na sociedade poderá contribuir para a conquista de novos e efetivos olhares para a Educação em nosso país.

  5. Olá Prof. Daniel.
    Belíssima reflexão sobre a cultura corporal do movimento. Vou além, a falta de respeito para com o PROFESSOR cresce cada vez mais em um país que não investe na educação, e cabe a membros da sociedade iniciar agressões à aqueles que dedicam seu tempo em mediar informações e compartilhar conhecimentos, por fim, contribuir para a formação profissional de vários indivíduos.
    O trabalho da corporeidade e da expressão corporal está indiretamente ligado a profissionais que amam o que faz, que buscam por uma formação, especialização, planejamento e dinamismo nas atividades, intuito este de levar esperança e proporcionar auto-conhecimento em milhares de alunos.
    Sou grato pela minha profissão.

    1. Prezado professor Roberto
      O blog foi idealizado com o propósito de oferecer subsídios à família e a toda a sociedade para que seja possível melhor colaboração e compreensão de todos sobre as finalidades e significados possíveis para o componente curricular. Aguardamos por sua contribuição ao Blog, como professor e amante de sua função social.
      Abraços
      Daniel Carreira Filho

  6. Muito bom o texto !
    Faço uma pergunta para todos os especialistas: Em se tratando de componentes educacionais, quais os limites de abrangência entre a Arte, Filosofia e Educação Física ?

    1. Em se tratando de espaços de aprendizagem para e de humanos, não compreendo que possa existir limites fixos para os processos de apropriação de saberes.
      Liselot Diem (1976) já nos propunha “se você está preocupado com a aprendizagem de humanos, não estabeleça limites fixos para esta aprendizagem”.
      Os limites, se existirem, são individuais e estamos propensos a superá-los.

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