Círculo de Cultura e Educação Física

Refletindo sobre os processos metodológicos da prática pedagógica

 

O Círculo de Cultura é uma proposta metodológica que pode proporcionar reflexões sobre os conteúdos que estão sendo ensinados nas escolas, cujo principal autor e precursor dessa magnífica ideia é o educador brasileiro Paulo Freire. Inicialmente este trabalho foi realizado na cidade de Angicos, localizado no estado Rio Grande do Norte e o objetivo de realizar círculos era alfabetizar adultos. No entanto, surpreendentemente 300 pessoas foram alfabetizadas em apenas 40 dias de trabalho, afirmando a importante contribuição educacional, amparada por esta metodologia.

Na organização dos círculos, educador e educando ficam sentados, de maneira igualitária, para que ambos tenham a oportunidade de se olharem, visando realizar diálogos sobre aspectos alusivos a educação de modo específico e questões da sociedade de um modo geral.

Conheci a ideia do Círculo de Cultura em uma disciplina do curso de Mestrado em educação, oferecido pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE-SP) no qual sou aluno de Mestrado, e ainda nesta mesma instituição exerço a docência do ensino superior no curso de graduação em Educação Física. A partir daquele momento pude ter experiências incríveis no Ensino Superior e na Educação Básica, promovendo o “inédito viável” assim como ressalta Freire, tendo a ousadia de ministrar as mais variadas e diferentes atividades nas aulas de Educação Física.

Em minha prática pedagógica atuando como professor de Educação Física no Ensino Fundamental I da rede pública municipal de Santo André, faz parte da rotina de aula e da organização didática sentar com as crianças em Círculo de Cultura. Neste momento dialogamos sobre conceitos, procedimentos e atitudes, além de orientar as crianças sobre as atividades que elas irão vivenciar no dia. No momento de diálogo, os alunos também possuem a oportunidade de expressar suas ideias e atividades, para que todos tenham a oportunidade de conhecer e participar das práticas corporais.

Nosso intuito principal é organizar o processo de ensino e aprendizagem e o planejamento das atividades de Educação Física dialogando com as crianças, sobre as diversas possibilidades de fazer, inovar e ressignificar as atividades da cultura corporal, no qual as brincadeiras, jogos, danças, atividades rítmicas, esportes, lutas, ginásticas e as práticas de aventura têm seu lugar garantido em nossas aulas. Desta maneira, problematizamos alguns momentos nas aulas, que denominamos etapas didáticas, sendo:

1) Círculo de Cultura inicial, momento de orientação das atividades. 2) Realização da primeira atividade e possíveis intervenções do educador. 3) Realização da segunda atividade e organização da discussão dialógica dos alunos sobre estratégias de equipe. No desenvolvimento das atividades o professor realiza intervenções e problematiza fazendo perguntas sobre alguns aspectos: como podemos facilitar o andamento das atividades? Como podemos dificultar e aumentar a complexidade das tarefas propostas? 4) É realizado o Círculo de Cultura final, no qual eu utilizo um caderno para registrar a avaliação da aula, perguntando sobre os aspectos que deram certo e os aspectos a serem melhorados.

Ao término da aula escolhemos aleatoriamente as crianças que irão ser as responsáveis em trazer as atividades no próximo dia de aula, sempre utilizando o critério dos temas escolhidos para serem trabalhados no bimestre.

Finalmente, a didática da Educação Física, amparada pelas categorias Freirianas de diálogo, participação de todos, conscientização e respeito aos saberes dos educandos, indica que as aulas desse componente curricular estão sendo realizadas de uma forma bem diferente do modelo tradicional, que proporciona apenas o ensino do “quarteto fantástico” de forma mecanizada. Nossa esperança é que outros educadores e educadoras ousem tematizar e utilizar recursos e práticas diferentes no chão das quadras de escolas por todo território brasileiro.

Texto escrito pelo professor Cláudio Aparecido de Sousa.

Daniel Carreira Filho

4 comentários

  1. Professor Cláudio, parabéns pelo trabalho e ousadia de trabalhar com tal proposta, uma vez que percebemos cada vez mais mudanças nas práticas pedagógicas da educação física, ver aulas que potencializam o aprofundamento das tematizações para além dos procedimentos, vem a contribuir para uma formação no sentido crítico. Parabéns.

    1. OLÁ, Professor Uirá, muito obrigado pelas palavras, temos um compromisso em contribuir para a melhoria da Educação brasileira, desenvolvendo novas estratégias e modelos didáticos no campo da Educação Física, grande abraço.

  2. “Não há docência sem discência”. Freire (1996).
    PARABÉNS Cláudio pelo seu belo trabalho, é necessário coragem para lidar com o cotidiano escolar e propor novas estratégias pedagógicas, precisamos disso na área da Educação Física. É fundamental dialogar com os alunos, estimular seus ricos posicionamentos sobre as mais variadas tematizações, como o mesmo Freire disse em Pedagogia da Autonomia: “Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos”.
    Abraço e parabéns !!!

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