Reconstruindo a Educação Física Escolar (parte I)

 Na área escolar, a educação física apresenta em sua construção histórica um percurso com muitas discussões, contradições e ressignificações. Apesar de todas especificidades, as diferentes ideias em trabalhar as manifestações da cultura corporal buscam, em sua essência, legitimar a atuação do professor dentro dos muros da escola.

No entanto, não podemos aceitar que a busca pelo reconhecimento da educação física aconteça a “qualquer custo”, inconsequente ou acrítica; não se pode permanecer em silêncio frente ao papel monocultural, segregador e discriminatório que caracterizam as aulas de educação física, pois, quando a prática pedagógica está alicerçada em pressupostos biológicos, psicobiológicos ou motores, contribui-se para que certos grupos sociais que frequentam as aulas, como os deficientes, não habilidosos, mulheres, negros etc., tenham seus espaços reduzidos ou negados.

Um dos caminhos que contribuíram sobremaneira para esse reconhecimento se deu através da influência dos estudos das ciências humanas e sociais que trouxeram uma perspectiva mais integral as aulas. Considerando a realidade sociocultural dos alunos, essa visão atribui à gestualidade um caráter de linguagem, ou seja, por meio dos gestos, nos comunicamos com as pessoas e expressamos nossas intenções, desejos e expectativas, assim, os discursos produzidos assumem a função de estruturar e organizar a circulação dos significados (GONÇALVES,1999 e NEIRA e NUNES, 2009). Com sua base na teorização Crítica e Pós-Crítica do Currículo a educação física escolar deixa de concentrar seu foco apenas nas questões procedimentais, motoras ou físicas e passa a integrar nas discussões pedagógicas termos como cultura, discurso, alteridade, identidade/diferença, multiculturalismo, saber/poder, entre outros.

Apoiado nessa teoria, Canen e Oliveira (2002), apontam que o currículo pautado na perspectiva da cultura “valoriza a diversidade e questiona a própria construção das diferenças e, por conseguinte, dos estereótipos e preconceitos contra aqueles percebidos como diferentes no seio de sociedades desiguais e excludentes”. A partir desse entendimento, as aulas de educação física que não possibilitam um olhar além da prática, através de uma perspectiva crítica, podem favorecer a reprodução dos pressupostos da sociedade capitalista e da visão dominante, pois, na medida em que o professor possibilita aos educandos uma abordagem pedagógica que se restringe a determinados conteúdos (no caso da educação física o “quarteto mágico” futebol, voleibol, basquetebol e handebol) não propondo nenhuma discussão e análise crítica dessas práticas ele pode corroborar para uma leitura limitada e pobre da realidade, assim, perpetua e fortalece visões discriminatórias e preconceituosas a determinadas práticas corporais, etnias, raças, gêneros, opções sexuais e religiões.

Tendo como referência a pluralidade cultural que permeia a escola e as aulas de educação física, o professor em sua prática pedagógica deverá proporcionar aos educandos a possibilidade de acessar o maior número de manifestações que compõem a cultura corporal. Nessa concepção o objetivo das aulas é proporcionar aos educandos chances de reconhecer, socializar, ressignificar e ampliar os sistemas de significação das diversas culturas através da linguagem corporal (São Paulo. Secretaria Municipal de Ensino, 2007). Na tentativa de construir nas aulas um caminho mais democrático e justo, é essencial que o professor tenha a consciência do seu papel político dentro da escola, através de sua ação, compartilhada com toda a comunidade escolar, é possível vislumbrar a possibilidade de uma nova realidade a educação física escolar.

 

Texto do professor Doutor Daniel Bocchini

3 comentários

  1. Na minha opinião as escolas brasileiras não estão tendo um bom desenvolvimento na área da E.F e por isso muitos jovens acabam se tornando sedentários, pois desde pequenos são estimulados a praticarem sempre as mesmas atividades. Não tendo a oportunidade de variedade e assim sendo privados de se interessarem por alguma modalidade.
    Além da questão de preconceitos envolvidos, como por exemplo a privatização das mulheres nos jogos, além das escolas, na maioria das vezes, não terem o mínimo de estrutura para incluir pessoas com algum tipo de deficiência fisica.
    Todos esses pontos são ditos de uma forma argumentativa e provando cada um dos itens.
    Eu concordo com o autor em dizer que para mudar as aulas de educação física no Brasil primeiro precisamos mudar o pensamento da sociedade e quebrar todos os preconceitos para que assim todos os professores possam trazer propostas cada vez mais diversas e inclusivas para os alunos.

    1. Olá Kezzi
      Realmente, a mudança somente se processará com a alteração da concepção sobre a Educação Física Escolar Brasileira

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