Ser brasileiro é uma vantagem em meio ao preconceito contra estrangeiros no Catar

Foto: Tiago Salazar

Por Tiago Salazar

Entre costumes, tradições e fanatismo religioso, pode-se dizer, sem medo de errar, que o Catar é um país com muitos preconceitos aflorados, assumidos sem qualquer pudor.

E os estrangeiros estão entre os principais alvos.

Apesar da população do país ser composta por 85% de imigrantes, a imensa maioria é recebida e autorizada a ficar apenas pela necessidade de mão de obra.

Os catarianos, devido a uma condição financeira privilegiada, não prestam serviços. Em lojas, obras, transportes, hoteis e mercados você não enontra um nativo trabalhando.

Essa situação tem um reflexo, que é o preconceito. Os catarianos se sentem e se colocam como pessoas superiores aos demais. E há uma escala. A má vontade no trato pode ser mais leve ou se agravar de acordo com a nacionalidade e com a função daquele que estiver por perto.

O catariano, com raras exceções, fura filas, se perceber que só há estrangeiros nela. E não gosta de conviver perto dos seus diferentes, mesmo que eles tenham uma condição de vida semelhante.

Durante esta Copa do Mundo, ser brasileiro é uma vantagem. É sinônimo de bom tratamento e receptividade, pois aqui eles amam o futebol verde e amarelo. Até festa eles fazem quando descobrem que estão lidando com um brasileiro. E isso vale para catarianos ou estrangeiros que residem no Catar, a grande maioria africanos, que aliás estão sempre com um sorriso no rosto e dispostos a ajudar.

Fora do período de Copa, os brasileiros sofrem preconceitos, olhares tortos, xenofobia declarada, mas lembra que eu falei da escala? Pois é. Ser brasileiro é uma vantagem grande em relação a outros povos. O preconceito, digamos, existe, mas de maneira moderada perto do que sofre um filipino ou indiano, por exemplo.

O Catar é uma espécie de canteiro de obra gigante. Eles estão crescendo, estão construíndo, estão se adaptando e até menos “quadrados” em relação a um passado recente. Para isso, dependem dos estrangeiros. Mas, não valorizam essa gente.

O Catar abre as portas para receber as pessoas na sua casa por interesse. Não faz questão ou está preocupado em agradar ou deixar uma boa impressão. A moeda é forte, o país está em claro desenvolvimento e, no entendimento dos ‘locais’, receber estrangeiros é uma espécie de favor, mesmo pagando tão pouco e refutando direitos.

Um brasileiro, aqui, sai na frente, tem privilégios, mas tem também que fechar os olhos para tudo isso, caso queira conviver em harmonia.

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