O Catar não entendeu, e talvez não queira entender, o que é uma Copa do Mundo. Então, por quê?

Foto: Gazeta Press

Por Tiago Salazar

O Catar nos convidou para a Copa do Mundo, mas esqueceu de abrir a porta. Aliás, faltou ao país sede da edição de 2022 do Mundial de Seleções entender o que é uma Copa do Mundo.

Por aqui, há muita alusão ao torneio. Banners espalhados por todos os lados, muitas propagandas de patrocinadores, prédios, metrôs e ônibus decorados, painéis gigantescos de LEDs, enfim, absolutamente tudo sempre voltado para a maior competição de futebol do planeta. Não há como andar pelas ruas e não perceber o que está acontecendo.

Mas, a Copa do Mundo vai além da fotografia, do vídeo, de uma boa selfie ou de um post nas redes sociais com um cenário bem montado. Vai além das questões políticas também.

A Copa do Mundo é o momento em que povos se misturam, sofrem e vibram juntos, interagem e se divertem entorno do futebol. E não se pode esquecer que apenas uma parcela ínfima dessas pessoas está dentro do estádio durante as partidas.

Nesta Copa do Catar, se você não tem ingresso, você tem, no máximo, a Fan Fest da Fifa, local nada confortável para mulheres, por exemplo, e um pub ou outro, em local mais reservado.

Bares, lanchonetes e restaurantes, em grosso modo, mesmo quando localizados em boulevard ou áreas centrais, de grande circulação, não estão equipados com TVs. Telões pelas ruas com transmissão dos jogos também não são encontrados. O país vive a Copa do Mundo de maneira reservada, quase que dentro de casa.

Durante as partidas, você encontra muitos turistas passeando, confraternizando, conhecendo. Mas, com a ciência de que estas pessoas escolheram não assistir ao jogo do momento. Quando questionadas, elas lamentam e dizem que chegaram a uma conclusão: por aqui, é preciso escolher os jogos para se assistir, mesmo que pela TV. Do contrário, pouco se conhecerá de Doha. É uma escolha, sem muita alternativa.

Sair de casa, se reunir com amigos e estranhos, assistir ao jogo na rua e, após isso, se voltar à curtição de um clima de Copa, cena tão tradicional e até aguardada por quem vive essa experiência, é algo que falta no Catar. Existe, mas é raro, controlado e pontual.

Assim como também falta um acesso melhor aos estádios, uma polícia melhorar preparada para administrar o trânsito, além de transporte público para estádios, CTs e centros de mídia.

Isso sem falar da ausência de lojas e quiosques para comercialização de itens básicos, como água. O perímetro de isolamento é extremamente exagerado, o que obriga o torcedor a fazer longas caminhadas sem sequer ter como se hidratar em um dos lugares mais quentes e secos do planeta. E aqui vale um puxão de orelha na Fifa, afinal, organizadora do evento.

Perceba como o veto de bebidas alcoolicas, outro ponto negativo desta edição, se tornou até secundário.

No Catar, não se pode filmar em qualquer lugar, não se pode entrevistar qualquer um, não se pode tirar a camisa na praia…

Por fim, não se pode sentir o verdadeiro clima de Copa do Mundo, que conhecemos há tanto tempo.

E esta crítica não se trata de questionamento sobre diferenças culturais, religiosas ou de exigência para uma adequação dos donos da casa. Esta crítica remete ao fato de que houve uma decisão de um país de sediar uma competição que traz com ela costumes e culturas avessas à moralidade local. Então, por quê? Para quê?

O ambiente dentro dos estádios, a presença de jornalistas de todos os cantos do planeta, a expectativa por um título, a alegria de pessoas mais simples que residem e trabalham aqui e que amam futebol é o que salva o Catar. É o que salva esta Copa do Mundo fora das quatro linhas.

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