A arbitragem brasileira está assustada!

Quando a arbitragem deixa de se técnica e passa a ser política tudo se perde, tudo se desconstrói. 

Mais importante, no momento, do que emitir opinião sobre os lances polêmicos do jogo do Flamengo com o Athlético do Paraná, ocorrido no dia 26/07/2022, pela Copa do Brasil, que culminou com o afastamento, por tempo indeterminado, do árbitro de campo Luiz Flávio de Oliveira e do VAR Wagner Reway, ambos da FIFA, fato que já ocorreu com alguns outros apitadores, talvez seja indagar quais as possíveis razões pelas quais os árbitros de nossa terra estão assustados e, portanto, inseguros.

Desejamos com esta abordagem alertar e estimular os atuais gestores do setor a refletirem sobre as possíveis causas para o quadro atual, pois não há registro na história de nossa arbitragem de tantos erros acumulados e sucessivos em tão exíguo espaço de tempo.

Nosso objetivo de construir não nos impede de apontar as falhas existentes e suas supostas causas, até por não ser possível corrigir um erro sem detectá-lo.

Vamos, pois, às nossas impressões.

Antes de tudo, deve ser dito que a mudança quase que total no comando da arbitragem, por si só, pode ter interferido no emocional dos árbitros, pois tudo que é novo, quando não assusta, no mínimo, gera expectativa, ansiedade, em especial porque, muito recentemente, o grupo havia passado por outra mudança de comando da Comissão de Arbitragem.

Não bastasse, é certo, inegável mesmo, que os já frequentes afastamentos de árbitros agrava o estado de espírito do grupo, gerando insegurança, o que não se harmoniza, absolutamente, com a atividade de arbitrar futebol.

Nem se diga que tais afastamentos, para que os árbitros sejam submetidos a análise e treinamento por meio do “inovador” PADA (Programa de Assistência ao Desempenho do Árbitro), que nada mais é do que o Programa do Desenvolvimento Contínuo da Arbitragem, que foi criado de há muito pela estrutura substituída, diminuiria a ansiedade de hoje, sobretudo poque o “novo” programa, apesar de mencionar que os árbitros seriam analisados, dentre outros fatores, psicologicamente, não conta com o correspondente suporte na nova estrutura, o que julgamos ser indispensável, pois um profissional externo que não conheça os homens árbitros, dificilmente poderá produzir efeito positivo  no campo psicológico, especialmente a curto prazo.

Sobre a mudança do nome do programa de treinamento, que, talvez, seja sinal do nefasto objetivo de desconsiderar tudo que foi feito até então, inclusive com algumas afirmações sobre o VAR, é necessário dizer que Wilson Seneme fez substituída estrutura de arbitragem da CBF, como Coordenador Geral de Instrução, e que a partir do momento em que assumiu a presidência da Comissão da Conmebol até se utilizou da entidade do Brasil, inclusive com envio de alguns instrutores para “aprenderem”, como ele próprio disse, conosco sobre o VAR. Ademais, deve ser registrado que os dois responsáveis diretos, pelas designações, Alício Pena Junior e pelas instruções dos árbitros, Giuliano Bozano, foram mantidos na atual estrutura.

De assim ser e por assim ser, indaga-se se as veladas referências negativas ao passado seriam uma espécie de autocrítica geral ou mesmo de ingratidão?

De uma ou de outra forma, o certo é que Wilson Seneme desconhece que os erros dos outros não apaga os nossos.

Outro aspecto que pode estar contribuindo para o desequilíbrio atual é a Babel na comunicação entre os novos gestores e os árbitros, algo que não pode ser negado, pois as arbitragens não o permitem, haja vista os inegáveis conflitos de conceitos e posições entre as diversas equipes de arbitragem. Esse ruído na comunicação talvez seja a faceta mais nevrálgica da atual fase.

Soma-se a tudo, as repetições dos árbitros FIFA e de outros poucos para jogos sequenciados, pois isto provoca desgaste, cansaço mental e, até, medo de errar, especialmente pelo receio das inovadoras e já constantes punições – “afastamentos”. Quando o árbitro atua com medo de errar naturalmente erra!

Essa sistemática de indicação de árbitros, ao lado do inconveniente acima, desestimula e desprestigia os demais integrantes do quadro, além do que, quando forem designados estarão sem ritmo e imaginando se suas indicações seriam por mérito ou pela má atuação de seus companheiros.

Pode-se, em razão disso, por não ser crível que os atuais gestores não percebam o risco de tal sistemática, concluir que a Comissão estaria apenas preocupada em não sofrer críticas, em defender-se, em lugar de preparar árbitros, fazer renovação etc. etc., possibilitando a conclusão de que o homem e profissional que cada árbitro é estaria sendo relegado a segundo plano.

De outro lado, a instabilidade sobre os limites entre o interferir e o não interferir do VAR, decorrente da ausência de diretriz técnica clara, é prova inequívoca de que o comando não está sendo eficaz.

O diálogo e a conflitante conclusão da cabine sobre a entrada de Arrascaeta em Erick, no jogo do Flamengo com o Athletico do Paraná é prova inequívoca da ausência de diretriz e da insegurança vivenciada.

Afora todos esses pontos, a conduta dos jogadores e oficiais de equipe, em completo descompasso com o mínimo razoável para o futebol profissional, somada à filosofia de os árbitros não reprimirem as pequenas transgressões, como recomenda a técnica da arbitragem preventiva, tem sido mais um fator para que os ânimos se alterem e haja dificuldade para o desenvolvimento normal das partidas.

A par de tudo, ao que sentimos, a interferência externa, decorrentes das críticas dos clubes e das análises das arbitragens, algumas das quais sem qualquer base técnica, deve ser mais um elemento a influir no emocional dos árbitros e, por consequência, a prejudicar suas atuações.

Desse modo, a Comissão de arbitragem necessita encontrar seu ponto de equilíbrio; estabelecer princípios técnicos claros; se aproximar humanamente dos árbitros; ouvi-los abertamente e sem censura; compreender e enfrentar os erros decorrentes de lances complexos; e, acima de tudo, cuidar do lado humano dos apitadores, a fim de que possam resgatar sua confiança. Agindo assim a Comissão terá, com certeza, resposta positiva.

Por ter sintonia com as supostas razões para atual fase de nossa arbitragem, vale lembrar que em nossa coluna de 22/07/2022, “Técnica de arbitragem, controle de jogo e questões administrativas (gandulas etc.)“, nos referimos ao relatório encaminhado à Presidência da CBF, no qual indicamos alguns pontos e medidas que deveriam ser adotadas em nosso futebol  para minimizar os problemas que hoje o desprestigiam. O relatório, ao que se supõe, sequer foi debatido.

Encerrando, achamos que a fase atual de nossa arbitragem, afora todos os fatores mencionados, também estaria relacionada com os indícios de seu deslocamento do campo puramente técnico para a seara política, quiçá por interferência do Sr. Presidente da CBF, sendo o exemplo mais agudo a estranha não utilização, sobretudo inicialmente, dos árbitros de Minas Gerais, porque o gestor maior da correspondente federação praticou o “absurdo” de se opor à eleição do Sr. Ednaldo Rodrigues. Ao submeter-se a tal pressão, Wilson Seneme, ao lado de tudo, teria enxovalhado    seu bom currículo, até então. Arbitragem e política devem ser consideradas como óleo e água: não se misturam.

Quando a arbitragem deixa de ser técnica e passa a ser política tudo se perde, tudo se desconstrói. 

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