O que virá depois de Caboclo? O mesmo do mesmo.

Rogério Caboclo foi afastado da presidência da CBF (Foto: Divulgação/Cesar Greco)

Essa questão de assédio sexual é caso de polícia e caberá à justiça dar um desfecho a essa lamentável história.

No que nos diz respeito, a suspensão de Caboclo das funções de presidente da CBF fazia-se necessária, não apenas por suas ações indecorosas em relação à uma de suas funcionárias, mas, sobretudo, por sua incúria na condução da entidade maior do nosso futebol. Principalmente, durante esse trágico ataque do vírus maldito a um povo imbecilizado de alto a baixo, com as exceções de praxe, embora a maioria dê claros sinais de que vai caindo na real.

Vivemos um tempo em que o futebol brasileiro deveria ser  racionalizado, com a paralisação de uma séria de torneios, como Copa do Brasil, campeonatos estaduais etc., até que o país controlasse a epidemia. Mas, a ganância e a ignorância dos cartolas e dos políticos envolvidos nesse assunto falou mais alto, Mas que fazer, se somos uma escola de cartolas do mais baixo extrato moral e cívico?

Desde Havelange até Caboclo a CBD e CBF, sua sucessora, tem sido gerida por uma turminha do catrefa, como dizia meu amigo Moreirinha.

Por lá passaram o Almirante Heleno Nunes, que, entre outras atividades, era, à época, presidente da Arena, partido da execrável ditadura militar, que tinha como mote o célebre “Onde a Arena vai mal, mais um clube no Nacional”.

Como a Arena ia mal, o Campeonato Nacional (atual Brasileirão) chegou a abrigar quase cem clubes na primeira divisão.

Eis que, no lugar de Heleno Nunes, sob o aval do então presidente da República Figueiredo, assume Giulite Coutinho, empresário de sucesso cujo nome está gravado eternamente na história do América carioca.

Foi um raro momento em que o futebol brasileiro se arejou, sob um comando racional e eficiente.

Giulite, antes mesmo de assumir, reuniu um grupo de jornalista num almoço no Ginásio Português, centro do Rio, para traçar planos gerais de conduta à frente da CBD. Lá estávamos, o Sílvio Luís, o Werneck, o Juca, o Sérgio Noronha, o Achiles Chirol, digno cronista esportivo carioca, irmão do preparador físico Admildo Chirol, e que exercia as funções de auxiliar de Giulite, além de Medrado que seria o novo diretor de futebol da entidade e deste velhote.

Decidiu-se, então, que o Campeonato Nacional passaria a ser disputado por vinte clubes, no máximo, que o técnico da Seleção teria de ser exclusivo e, depois da negativa de Cláudio Coutinho de aceitar sair do Flamengo, o escolhido foi Telê, tão-somente por questões técnicas. Afinal, Telê fora o primeiro técnico campeão do Nacional, m 71, pelo Galo, e seguira carreira ganhando títulos pelo Fluminense, pelo Grêmio, e fazia belo trabalho no Palmeiras. Portanto, um treinador com respaldo dos quatro principais centros futebolísticos do Brasil: Rio, Minas, RGS e São Paulo.

Foi quando se iniciou a criação aquela memorável Seleção de 82, a única que não chegou a levantar a taça mas que ficou incrustada na alma brasileira por gerações afora.

Há muito o que contar sobre a gestão de Giulite, como o veto de Havelange, então presidente da Fifa, à adição do raminho de café na camisa verde-amarela, patrocínio do Instituto Nacional do Café, por considerá-lo um anúncio comercial. Em contrapartida, Havelange liberou as insígnias da Adidas em qualquer camisa nacional. Afinal, todos sabem de suas ligações com o dono de tal empresa.

Enfim, depois de Coutinho, sobreveio uma enxurrada de figuras nefastas como Nabi Abi Chedid, Ricardo Teixeira e Del Nero, que continua, nas sombras, manipulando os bastidores políticos da CBF, embora banido pra sempre pela Fifa.

Com o afastamento de Caboclo, assume o vice mais velho – o Coronel Nunes -, que já exerceu essas funções em tempos passados. Traduzindo: ninguém.

O que virá depois? O mesmo do mesmo, infelizmente, pois esse parece ser o nosso infausto destino.

 

 

 

 

2 comentários

  1. Prezado Alberto Helena!
    Muito interessante e instrutiva tua descrição histórica dos sintomas da doença crônica do nosso futebol. Você explica em detalhes o que eu penso sobre os motivos desta situação.
    Qual homem normal não tem o pulso sanguíneo acelerado diante de um par de pernas femininas bem torneadas? Isto tem origens genéticas e nem é necessário demonizar, o problema entretanto se torna real e punível quando alguém no âmbito de uma relação de hierarquia numa instituição abusa deste direito de se admirar (e até desejar) o fruto proibido, algo que força a vítima a se defender do constrangimento. Com todo o cuidado diante de um caso sub-judice, em que conclusões devem esperar o desfecho do processo, é necessário lembrar que a falta de vergonha a nível de cartolagem é clara no Brasil, independentemente de quem está certo ou errado em que acusação. Isto nunca foi diferente, apenas mais discreto.
    Ponto seguinte é a postura do time e do técnico, na minha opinião ambos errados. E é por isso mesmo que a maioria dos leitores da Gazeta acham errado boicotar a Taça América, como acham também que seria correto dar o cartão vermelho para o Tite, com todo seu mérito em outros pontos.
    Um erro não justifica o próximo.
    Jogador tem que jogar ou se retirar do time, na maior democracia possível.
    Treinador tem que treinar e dirigir o time ou entregar o posto, tudo na maior paz.
    Aos cartolas, convenhamos ou não, compete organizar os campeonatos, mostrar brio e sensatez (uma mercadoria em extinção) e pensar menos no dinheiro do que na saúde do esporte.
    Por isso mesmo a lembrança da inflação de campeonatos é algo que se deveria examinar melhor. È pena que seja necessário um português (o Abel Ferreira, que não tem papas na língua) vir ao Brasil para xingar os cartolas gananciosos. Há 40 anos tínhamos em cada estado um campeonato estadual e o Rio-São Paulo, além do Brasileiro e os técnicos agüentavam vários anos num clube, como também os jogadores passavam toda a carreira esportiva num ou dois clubes. No momento os jovens amadores já são cevados para a venda ao exterior, e os profissionais passam 6 meses em cada clube, vão para Europa na ação caça-níqueis, voltam de vez em quando para a seleção ou para clubes que ainda acreditam fazer um pouco de dinheiro e ganhar pontos com a torcida e no final temos esta tropa simpática de ganhadores de jogos no 1 a 0. Saudades do Pelé, Zico, Rivellino, Carlos Alberto… e de cartolas que nunca tivemos.

  2. Como o nobre jornalista Helena Junior deve lembrar, em 1979, o Brasil empatou por 2 x 2 com o Paraguai, no Maracanã, e foi eliminado da Copa América. O treinador era o Cláudio Coutinho, que se manteve no cargo após o fracasso da seleção em 1978. Na época a CBF, ex CBD, comandada pelo Almirante Heleno Nunes, era duramente criticada pelos opositores do Almirante pela desorganização , e nas eleições para presidente da entidade, em dezembro de 1979, triunfou o Giulite Coutinho, citado pelo comentarista. Na posse, Giulite Coutinho avisou que desejava um técnico exclusivo para a Seleção e começou a “perseguir” o Cláudio Coutinho, que tinha simultaneamente o cargo de treinador do Flamengo. Em fevereiro de 1980, Coutinho, já desgastado, optou pela permanência no urubu. Aquele empate contra o Paraguai pela semifinal da Copa América foi definitivamente a gota d’agua para a não permanência dele no cargo. E Giulite Coutinho elegeu Telê Santana como o novo técnico da Seleção Brasileira. Apenas citei essa passagem pois, assim como Cláudio Coutinho em 1978, Tite também foi mantido ,depois do fracasso na Copa de 2018 na Rússia, como treinador e renovou contrato até o fim de 2022, mas após esse episódio inusitado da Copa América, o fato do Renato Gaúcho não ter aceitado ser treinador do Corinthians e estar passando férias no Rio de Janeiro, será uma mera coincidência?

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