Eu tive um sonho

Foto: Acervo/Gazeta Press

Eu tive um sonho. Nada tão sublime e edificante como o do pastor americano sacrificado em nome da negritude. Ao contrário: foi aterrorizante.

De repente, me vi vestido com o uniforme da Seleção Brasileira, na boca do túnel de um Maracanã lotado e festivo. Telê Santana, ao meu lado, mandava-me jogar na ponta-direita.

-Mas, seu Telê, levo seis meses pra correr cem metros e nem sei dar dois dribles em seguida! – respondi apavorado.,

Telê insistiu e eu acordei encharcado de suor.

Dizem os interpretadores de sonhos que eles, de fato, representam o inverso da realidade. Ainda bem, porque o Telê que conheci jamais cometeria tal heresia – escalar um jogador fora de suas características.

Ao contrário: ele espiava bem os movimentos e as tendências dos seus jogadores e, muitas vezes, trocava-os de posição, em busca de melhor aproveitamento de sua identidade futebolística. Foi o que fez com Cafu e tantos outros.

Lembrei desse sonho antigo ao perceber que Abel Ferreira, nos seus passos iniciais no Parque, dá sinais de que segue esse preceito básico pra qualquer bom treinador de futebol – achar o lugar certo pra cada um. Com isso, Lucas Lima, Veiga, Scarpa e Zé Rafael, quatro hábeis jogadores até então sub aproveitados no Verdão, passaram a se destacar nas últimas partidas.

Foto: Divulgação/Cesar Greco

Então, me  veio outra lembrança. Uma conversa com Rubens Minelli a respeito.

Minelli, ao pendurar suas chuteiras ao lado do diploma de economista formado pela USP, abraçou a carreira de treinador, começando como auxiliar de Canhotinho, lenda verde dos anos 40/50, técnico do time aspirante (um misto de novas promessas e come-e-dorme)  do Palmeiras.

Osvaldo Brandão, treinador do time titular, havia escanteado o ponta-esquerda Chinezinho, contratado a peso de ouro ao Internacional. Lá na ponta, embora campeão pan-americano pela Seleção Gaúcha, em 56, no Palmeiras, Chinezinho não emplacava.. Destro (ainda não era moda esse negócio do ponta invertido) e lento demais para as exigências de um ponta, o gaúcho não respondia.

Eis que Canhotinho, que havia sido em sua brilhante carreira ponta e meia, resolveu puxar Chinezinho para a posição de meia-armador. Convenceu Brandão a lhe dar uma chance nessa nova posição e o rapaz desabrochou de tal maneira que virou titular da Seleção Brasileira antes de fazer carreira de destaque no futebol italiano, numa época em que poucos brasileiros eram laçados por clubes europeus.

Lembranças de um passado cujas lições estão aí, vivinhas, pra quem quiser aproveitá-las.

 

 

3 comentários

  1. Mestre, esse seu brilhante comentário explica exatamente o porque do Luxemburgo ter sido mandado embora do Palmeiras. Seu esquema tático maluco, encostando uns e colocando outros totalmente fora de posição, estava pondo a perder os jogadores que o verdão contratou a peso de ouro, fazendo com que o time jogasse um péssimo futebol. Mas o Abel faz com que eles ressurjam das cinzas, em suas verdadeiras posições, e mostrar seu valor, e com isso o Palmeiras está subindo de produção e todos no clube estão ganhando com isso. Eu também tive um sonho: sonhei que a Leila e o Gallioti, desesperados, gritaram:” E agora, quem poderá nos salvar?” Ai surgiu um personagem, todo de vermelho e verde, dizendo “Euuuuuuu, o Português Trás-os-Montes” kkkk

  2. Alberto Helena Jr.

    O portuga chegou e colocou o time do Verdão para correr e jogar com marcação alta, esforço para retomar a bola logo que for possível e muita disciplina tática, com jogadas mais pelas laterais e em profundidade para aproveitamento em contra ataques com as velocidades de um Rony, um Gabriel Veron, um um Scarpa pela esquerda como lateral/ponta esquerda e uma zaga que vem forte faz um bom tempo, jogadores jogando com alegria e leveza mas com seriedade cada um dentro de suas características e aí temos um time em formação e evolução para se tornar o principal candidato aos títulos de qualquer competição que disputar…..rindo até 2026. Saudações palmeirenses.

  3. Helena bom dia, vi o Canhotino jogar em 1951 em Mococa interior de São Paulo contra o Radium, o Palmeiras foi de Fábio, Salvador e Juvenal, Waldemar Fiume(esse um monstro), Luiz Villa e Dema, Lima, Liminha, Odair, Canhotonho e Rodrigues, 0x0 resultado do jogo, tinha 10 anos de idade, fiquei impressionado ver Waldemar Fiume jogar, craque, parecia um dançarino com
    a bola nos pés

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