Imbecilidade FC

Foto: Gazeta Press

O Rio de Janeiro sempre foi um cartão postal do Brasil, com  seu Cristo Redentor, suas praias encantadoras, mulheres lindas e sensuais que inspiravam homens espertos, maleáveis, berço do samba e ímã das mentes mais brilhantes do resto do país, que pra lá iam gozar dessas seduções todas e criar obras eternas.

E que dizer do futebol carioca? Desde a instalação oficial do profissionalismo no Brasil, época em que era ainda a Capital  do país, em 1933, o futebol carioca requintou-se e passou a ser uma de suas maiores atrações, ao lado do Carnaval, claro.

Começou com o Flu importando de São Paulo, a peso de ouro, praticamente toda a seleção paulista, onde dois meias excepcionais faziam a grande diferença: Romeu e Tim. Em seguida, frutos da terra, vieram Leônidas, Zizinho, Garrincha, Didi, Zico e tantos outros craques inexcedíveis, além dos laçados em outros centros, como Ademir de Menezes, Tesourinha etc.

Durante duas ou três décadas, o futebol carioca era um espetáculo de se ver, ganhando ou perdendo para os paulistas em confrontos entre times ou seleções. Dizia-se á época que era um jogo artístico demais, pouco competitivo, mas sedutor.

Com o tempo, realmente o futebol carioca foi perdendo competitividade, com a emersão de times mineiros e gaúchos, sobretudo.

Mas, quem não se lembra do troca-troca do Horta, então, presidente do Flu, que revigorou o futebol carioca nos anos 70? Horta, juiz aposentado, não tava nem aí para o resultado – esse negócio de ganhar ou perder. Seu objetivo era resgatar o brilho do Flu e, por consequência, dos demais rivais. Tampouco visava lucro pelas negociações. O lucro viria do Maracanã lotado (à época, mais de cem mil espectadores), o que ocorria a cada rodada.

Pois, há algum tempo, o Rio virou refém do crime organizado, desde o morro até os altos escalões da administração pública, numa dimensão inacreditável. E foi-se deteriorando em todas as áreas, sobretudo no futebol que vive ainda das lembranças daquele Flamengo campeão do mundo de Zico e cia. bela, no início dos anos 80, capaz não só de vencer mas, principalmente, dar espetáculo.

Até chegar ao fundo do poço neste domingo, com o patético espetáculo que por um triz não vira tragédia.

Um show inacreditável de equívocos em sucessão em que estão enrolados os presidentes do Vasco e do Flu, a justiça carioca, a Federação e sei lá mais quem, a partir de uma disputa infantil, tola, tosca, sobre quem sentaria nesta ou naquela cadeira do Maracanã. Como dois meninos mimados e birrentos, cegos para as consequências óbvias de seus atos, Vasco e Flu brigaram por uma cadeira, quem tinha o direito ou não de sentar ali.

E levaram essa birra infantil às últimas consequências, em que os maiores atingidos, claro, foram os torcedores que pagaram para ver um espetáculo e levaram em troca gás e porrada da polícia.

Já viu coisa igual?

Na verdade, está vendo todo dia coisas do tipo disseminando-se pelo país afora, de alto a baixo, Afinal, o Maracanã do domingo foi apenas um microcosmo do Brasil atual.

A mesma imbecilidade que fez a FPF marcar o Majestoso para as sete horas da noite de domingo. Dá pra acreditar?

Mesmo assim, a Fiel compareceu em massa ao estádio de Itaquera e de lá saiu feliz pelo resultado de 2 a 1 sobre o São Paulo, com mais um tento do implacável Gustagol, mesmo que de canela.

Mas, nem o mais fiel alvinegro terá festejado o futebol pobre apresentado pelo campeão paulista, que só melhorou um tantinho com a presença de Pedrinho pelo meio e a entrada de Cleysson pela esquerda.

E o Tricolor? Sim, apresentou uma leve melhora na organização do time, sob o comando de Mancini, mas nada que pudesse acender uma chama extra de esperança, que se resume nas faixas espalhadas pelo Estado: “Fora, Leco”.

 

 

 

 

2 comentários

  1. Alberto Helena Jr.

    O meu amigo grande jornalista não iria me decepcionar e com a maestria de sempre expôs com um belo texto as entranhas podres do pobre futebol carioca, vitima de desmandos de gestão, falcatruas de toda ordem, em prejuízo flagrante não só do futebol carioca como também manchando o futebol brasileiro, o que ocorreu neste domingo que passou é apenas o ápice de um processo falimentar pelo qual passa o futebol da cidade antes maravilhosa hoje um espectro do que foi em tempos passados….chorem mais chorem muito meus amigos cariocas porque o futebol da sua terra morreu….só falta assinar o atestado de óbito. Saudações palmeirenses.

  2. Eu ia muito ao Rio até meados da década de 80, em férias, visitava uma prima que morava ali bem do ladinho de Álvaro Chaves o campo do Flu. Costumava ficar um semana curtindo a Cidade Maravilhosa. Claro, ficava embevecido com a cor da água verde esmeralda do mar visto do Pão de Açúcar, do Corcovado, da vegetação exuberante que serpenteando toda zona sul, das lindas mulheres que parece que brotavam da terra cada uma mais bonita que a outra, da visão majestosa do velho Maraca, do aterro do Flamengo do Flamengo, e a verdadeira idolatria que o caroca sentia pelo Zico mesmo pelos mais fanáticos torcedores dos demais times, Fica a grande questão: o que aconteceu com o Rio? Será que como comenta Helena só foi a infiltração do crime organizado nas repartições públicas? Ou foi também o sonho utópico de que o jeito carioca de ser seria para sempre, imortal, pacífico onde todos poderiam se amar e viver livre leve e solto num paraíso tropical? Infelizmente a fatura desse sonho existia, foi se acumulando. Ela foi chegando aos poucos, devagarinho até que finalmente chegou e ninguém de sã consciência sabe quem, como e quando pagá-la.

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