Diniz e a trilha do rebanho

Fernando Diniz. (Foto: Lucas Merçon / Fluminense F.C.)

Não faço parte da turma que endeusa ou destrói treinadores de futebol como se eles fossem deuses ou diabos.

Certa vez, o Muricy, no auge do seu tricampeonato brasileiro, disse que o treinador tem 20 por cento de responsabilidade sobre  o desempenho de uma equipe, para o bem ou para o mal.

O que sucede nos campos tupiniquins é que nossos treinadores refletem o comportamento em geral do brasileiro: um rebanho que, por falta de conhecimento mais profundo sobre a história e das novas tendências de pensamento, trilham o mesmo caminho, ida e volta. Mesmo os que ostentam a juventude como fachada de mudança – na prática, os cabelos brancos cobrem a parte interna de suas cabecinhas, enquanto os negros florescem na exterior.

Com raríssimas exceções. Uma delas? Esse Fernando Diniz que desde sempre tenho elogiado pela coragem de romper com o estabelecido, ainda que pague por isso um altíssimo preço. Até chacota já virou, por insistir naquela saída de bola de pé em pé, que algumas vezes resultou em desastre, contrariando a lei do chutão.

E por que tanta insistência nesse procedimento? Simples, porque é lá de trás que se inicia o jogo voltado a ser concluído na frente.

Se o meu jovem amigo não sabe, durante toda a vigência da superioridade brasileira, aqui e no mundo, era assim que se jogava, ainda que não se desse tanta importância aos goleiros bons de pé como das mãos. Do goleiro para o lateral, que passava para o volante; do volante ao meia, que arrumava para o outro meia, autor da abertura pra ponta e assim a bola ia rolando de pé em pé, envolvendo os adversários até chegar à conclusão do disparo fatal.

Não se trata, pois, de novidade alguma na sua essência. Aliás, Guardiola vem fazendo isso com sucesso na Espanha, na Alemanha e agora na Inglaterra. Assim como a maioria dos times europeus, sobretudo os de melhor elenco, faz isso desde o início do século, ou antes até.

Nós é que regredimos e estacamos no passo retardo.

Nesse cenário, o que era de se esperar do modesto time atual do Fluminense enfrentando o poderoso Flamengo pela semifinal da Taça Guanabara?

Qualquer outro técnico brasileiro, velho ou moço, trancava a casinha e ficava ali especulando no erro eventual do adversário pra num cruzamento, uma bola parada ou uma intervenção divina marcar seu golzinho e passar o resto do tempo espiando o andar dos ponteiros do relógio.

Pois, foi exatamente o oposto que se viu nesse Fla-Flu. O Tricolor, do início ao fim, tomou conta da bola, tocou-a com ciência, embrulhou-o numa fita garibaldina, meteu 1 a 0 com Luciano, que está jogando demais, diga-se, e partiu pra decisão da taça com o Vasco.

Não foi uma súbita iluminação do Flu nesta temporada que mal se inicia, não. Tem sido assim, jogo após jogo, prova de que os atletas assimilaram as ideias do treinador, ajudando-o a romper as amarras toscas que atam nosso futebol a um passado que nem nosso é.

Se o Flu de Diniz vai tropeçar depois daquela esquina não sei. É bem possível. Mas, já é um primeiro passo, quem sabe, pra mudar a trilha do rebanho.

6 comentários

  1. Nobre, Helena Júnior, incansável defensor do nosso verdadeiro futebol, a você e a nós, humildes torcedores, que estamos a tanto tempo, vendo o anti futebol imperar em nosso País, e não somos ouvidos por esses dirigentes, de contratações dúbias, e descaso com as revelações, jogadas fora, a preço de banana, só resta torcer, para que tenham sucesso, Fernando Diniz, Sampaoli, Renato Gaucho e Abel Braga, que representam o nosso último fio de esperança, para se resgatar, a essência, do jogo, que não vemos mais., Eu como torcedor do Corinthians, já não aguento mais ver , temporada após temporada, o time, com dois “volantes”, na realidade, dois beques, a frente dos de área. Entra “treinador’, sai “treinador”, e nada, pois todos, são adoradores de “volantes”.Se, torcedores que comparecessem aos estádios, vaiassem incessantemente, os “treinadores” que escalam mais de um BEQUE, a frente da área, e os que demoram para trocar, medalhões que não tem perna, nem para um tempo, estariam dando uma real contribuição, para termos o prazer de ver ao menos, lampejos de futebol …

  2. Faz muito tempo que este Fernando Diniz tenta implantar um futebol vistoso e bem jogado, porem na terra dos resultados, ele é sempre massacrado, e chamado de técnico sem responsabilidade, porque seu time tenta jogar e erra. Eu gostaria de ver este estilo ser implementado numa equipe com talentos individuais melhores, jogadores de boa técnica e tal e cousa e mariposa. Roger Machado quando no palmeira depois do jogo com o Atletico Paranaense disse: “gostaria de implementar este estilo de jogo na minha equipe, porem seria demitido no primeiro erro de um jogador de defesa” E o que vimos como resultado foi simplesmente espantoso, foi demitido porque não obteve resultados que poderiam ou não acontecer se tivesse pelo menos tentado. Gostaria muito de ver o Palmeiras não mão do Fernando Diniz iniciando um ano completo. Prass/Jailson/Weverton não sabem jogar com os pés porque o Felipão gosta do balão para frente. Mesmo agora qdo estes citados têm chances de sair jogando, falta-lhes confiança e dão o famoso bumba meu boi, salve-se quem puder la na frente, estou livre…não sou culpado e tal e cousa e assim seguimos nessa mesmisse, contentando de ver o MCity jogar, o Flu jogar e os técnicos daqui serem demitidos e até contratados quando não ostentam saude, contrata-se pelo nome…e a prazo com medo da torcida, não são homens dirigentes e sim.dirigentes medrosos…estamos todos perdidos e sem esperanças….Vide seleção sub-20, foi treinada e disputou o sulamericano com um treinador de prancheta da CBF que acabou de enterrar este futebolzinho de m erda que estamos vendo por aqui…

  3. O carrossel holandês era assim. Dificilmente alguém dava um chutão sempre saiam com a bola dominada de trás.. Acho bem provável que Fernando Diniz tenha se inspirado nesse time holandês. Tinha lá Rijesbergen um lourinho cascudo, Suurbier que saiam de trás com a bola dominado no chão sem um chutão e se deixassem iam até o gol adversário. O que os diferenciava dos nossos volantes? Eles eram jogadores com um domínio de bola muito grande extremamente velozes,e jogavam com a cabeça levantada. Tudo que os volantes do Tite não fazem. Comparar os volantes daquele time da Holanda de 74 com os volantes da seleção brasileira Casemiro e Fernandinho é covardia. O duro é que temos jogadores que poderiam fazer aquele papel, no entanto, a mediocridade do treinador da seleção é insuperável..

  4. Concordo com o Alberto Helena…. Realmente o Fernando Diniz é um técnico diferenciado. Pena que a maioria da Imprensa brasileira insiste em não reconhecer isso. .

  5. Alberto Helena Jr.

    Tenho saudades do verdadeiro futebol brasileiro de toque de drible de jogadas pensadas de enfiadas de bola feita por gênios desse esporte que se joga com uma bola, exemplos Gerson, Ademir da Ghia, Pelé, só para citar alguns, hoje a gente se “diverte” com o que sobrou desse tempo, raras exceções aonde predominam, brucutus, atletas que mais parecem lutadores de UFC, gente que judia da coitadinha da bola, vi ontem dois jogos de bola pela rodada do paulista e já vi muitos jogos melhores na várzea, no desafio ao galo e lousa e cousa e maripousa (aprendi com um grande jornalista) pobre de nós que só temos saudades do verdadeiro futebol brasileiro escondido hoje em pranchetas e computadores. Saudações palmeirenses.

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