A justa demissão de Aguirre

Foto: Gazeta Press

Por princípio, sou contra esse vício maldito do brasileiro de trocar de técnico a cada tropeço do time. Isso porque, entre outras coisas, nosso estúpido calendário conspira contra o trabalho dos treinadores, sobretudo os de times grandes, reduzindo-lhes a chance do desenvolvimento pleno de um trabalho sempre precário.

Traduzindo: isso impede que haja realmente um planejamento, com etapas a serem cumpridas e tal e cousa e lousa e maripousa; ou seja: racionalidade. É tudo na base do vamovê – se ganhar, segue em frente; se perder, cai fora.

O brasileiro procura sempre o atalho, o caminho mais rápido, a ruptura, quando a coisa não está dando certo num certo momento, E isso não se dá só nos campos de futebol. Vaza além, na constante procura do Homem Providencial, o Pai da Pátria, o Chefão, aquele que chega, bate na mesa e põe a casa em ordem. Por isso mesmo, vivemos na desordem intermitente.

Estou dando voltas pra chegar ao centro deste papo: a demissão de Aguirre no São Paulo.

Pois eis um fato que escapa ao corriqueiro e se justifica por si mesmo. Justifica-se, principalmente, porque com Aguirre não havia nenhum planejamento, nenhum futuro à vista, já que o próprio treinador, ao assinar com o São Paulo, preferiu estabelecer como limite de permanência o final do ano, quando, dizem, deverá assumir a Seleção de seu país, o Uruguai, por causa da debilidade física de Oscar Tabarez.

Futuro teria Rogério Ceni, que acaba de levantar o título da Segundona com brilhante campanha do Fortaleza. Mas, sacumé, brasileiro pensa mais com o fígado do que com a cabeça e o cartola é um brasileiro escarrado.

Rogério começou seu trabalho adotando um estilo ofensivo para o Tricolor, Bastaram, porém, alguns maus resultados, e, pressionado, arrecuou os arfos, caindo no lugar-comum, a vala destinada a todos os nossos técnicos.

Aguirre, porém, já chegou apostando num esquema altamente defensivo. Por isso ou por aquilo, mas, sobretudo, porque os demais pares estavam divididos em tantas competições, obteve um resultado inusitado – a liderança do Brasileirão ao cabo do primeiro turno. Mas, quem olhasse com isenção aquele time jogando veria claramente que o desempenho acanhado não se sustentaria por mais tempo. Não deu outra.

Agora, fala-se em dar fôlego a Jardine, técnico da base que revelou uma pá de valores promissores pouco utilizados por Aguirre.

É possível, mas um tanto improvável com base na história que, no Brasil, se repete a todo instante.

 

4 comentários

  1. Alberto Helena Jr.

    Essa questão da demissão do Aguirre está muito mau explicada, nos bastidores do São Paulo corre a boca pequena que há um racha no elenco um grupo capitaneado pelo Nenê e um outro grupo ou talvez dois que não pensam como ele que acham que a titularidade na equipe é como capitania hereditária, passa de pai para filho, mais no futebol de hoje não é assim que a banda toca, bobeou o cachimbo cai, existe uma outra corrente que diz que o racha é na diretoria Lugano para um lado Raí para outro lado e aí vira o samba do criolo doido e lousa e cousa e maripousa (aprendi com um grande jornalista), não há planejamento que se sustente, enfim muita sujeira sairá ou será empurrada para debaixo do tapete….aguardemos os próximos capítulos desta novela mexicana chamada ” A Queda do Império do Jardim Leonor”. Saudações palmeirenses.

  2. Prezado Helena Jr.
    Você acertou na mosca. Este tema da matança tradicional dos treinadores é algo que deveria mesmo ser mais analisado, embora como as causas (respeitadas as exceções) não estejam com os treinadores, é provável que você esteja falando aos ventos.
    Mesmo assim acho interessante os aspectos que você insinua e isto deveria ser mais ventilado. Talvez os cartolas ignorantes e gananciosos da maioria dos clubes brasileiros (de clubécos a grandes clubes) sofrendo mais pressão possam tomar vergonha na cara. Sou um otimista incorrigível e vivo sonhando com isto.
    Em noventa por cento dos casos de rescisão de contratos de treinadores a ineficiência nunca é do treinador, porém da cartolagem que contrata os técnicos achando que ele resolve tudo sem necessitar de plantel.
    É verdade que o Aguirre foi de uma certa forma dispensado com razão. Entretanto a médio prazo, se o tivessem dado um plantel com dentes, ele não teria tido a necessidade de armar retrancas. Como se diz em alemão, “todo mundo cozinha com água”, o Aguirre não tinha mais que água de torneira. Ele fez o que achou que seria possível, no início deu até certo, depois o time foi escorregando na tabela e beirou o subsolo.
    Se o São Paulo tivesse se mantido em cima, o Aguirre seria Deus sobre a Terra, mas como caiu, ele é o culpado. Ninguém questiona a ignorância de cartolas, a ineficiência de departamentos médicos (vejo o caso do Santos agora), a venda adoidada de jogadores jovens (caso do Corinthians, que sempre que ganha um campeonato desmonta imediatamente o plantel para pagar contas atrasadas por ignorância de diretores inaptos).
    Naturalmente um bom técnico, mesmo ganhando bem, é sempre mais barato que 11 jogadores. Por isso a mentalidade é de contratar um bom técnico e alinhar 11 pernas-de-pau e fazer o técnico transformá-los em jogadores baratos que ganham pontos no campo.
    Uma forma antiga de jogar para a arquibancada e dar a impressão de grandes empreendimentos.
    O que se passou com o Rogério Ceni (não sou admirador dele, nem sou são paulino, ele foi porém um grande jogador e como treinador jovem um profissional eficiente, com uma carreira de sucesso à frente) mostra a miséria do futebol tupiniquim. Poderia citar uma lista interminável de “Rogério Cenis”, deixemos isto porém de lado, todo mundo sabe quantos técnicos são canabalizados mensalmente no Brasil.
    Técnico no Brasil, mais que em todo o mundo, vive sentado numa cadeira ejetável, em que o botão pode ser apertado a qualquer momento.
    Por isso admiro técnicos que na hora da rescisão mandam os cartolas falar com seus advogados. Mais que advogados esses cartolas salafrários não merecem.
    Espero que o Rogério Ceni não cometa o erro de voltar para a ratoeira do Morumbi.

  3. ha tempo nao mando uma mensagem!aqui vai voce continua sendo um oasis da cronica esportiva do brasil,onde comentarios infelizes e sem nexo ainda imperam!valeu mestre por tudo que voce nos ensina!!!!!!!abc!ainda tenho um sonho de assistir um mesa redonda ai no estudio!abc novamente!!!!!!!!!

  4. A bola rolando virou apenas um detalhe do futebol. Isso significa na prática que tudo que acontece nas quatro linhas perdeu a importância, é manipulado e o jogo passa a ser uma espécie de álibi para esconder os reais objetivos de quem comanda o futebol. Os sucessivos escândalos extra campo aqui e lá fora, só se sustentam ainda, devido à manipulação exacerbada dos torcedores do futebol. que como míopes não enxergam nada para além das quatros linhas do gramado. O jogo de futebol passou a ter um componente virtual muito forte. Quem na realidade decide o jogo não são apenas aqueles que correm atrás da bola. O jogo começa bem antes do apito do juiz, é um jogo pesado, onde vale tudo, e na maioria das vezes vence, aqueles que tem mais dinheiro.

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