Deu Cuca na cabeça. E Felipão, na raça

Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

E deu Cuca na cabeça (desculpe o trocadilho). Cuca vai pegar (outro?, é que hoje me sinto especialmente mais idiota do que de hábito) o Peixe de alma esfacelada, temendo os riscos da Segundona e na desesperança de que chegue a levantar a crista o suficiente para alcançar, ao menos, a zona de Libertadores, hoje tão expandida.

Mas, muita calma meu caro caiçara. Vêm aí, juntamente com Cuca, Bryan Ruiz e Sanchez que certamente haverão de conferir um pouco de luz a esse meio de campo sombrio do Santos, incapaz de botar de jeito o menino Rodrigo, Gabigol e Bruno Henrique, três ótimos atacantes, em posição certa para a finalização fatal.

E, cá entre nós, Cuca talvez tenha sido a melhor escolha, pois ainda está em plena atividade com sobras de conquistas pelo recente passado no Galo e no Palmeiras, ambos campeões, antes de naufragar nas águas verdes da volta messiânica e trágica.

É bom treinador, daqueles raros no nosso futebol que ainda cultiva um gostinho especial pelo ataque, o que combina com a história gloriosa do Peixe, raro exemplo de clube brasileiro que cultua sua maneira de jogar desde os tempos de Arakén e Feitiço, até os de Neymar e Robinho, passando, claro por Pelé e Coutinho, dentre tantos outros.

Lastimo que, mais uma vez, Luxemburgo continue carta fora do baralho (ops!). O Malandro, como gosto de chamá-lo na intimidade, ainda tem lenha pra queimar e um acervo incrível de bons trabalhos que o credenciam, na geleia geral feita de tantas mesmices, a, pelo menos, ter uma nova chance de retomar sua caminhada à beira dos gramados.

Mas, que fazer se neste Brasil deteriorado só subsiste mesmo é o estigma que marca as pessoas pela vida afora e além de suas reais competências e certas virtudes?

Assim como acho injusto fechar o foco nos humilhantes 7 a 1 diante da Alemanha na Copa retrasada quando se fala de Felipão. Aquilo foi um acidente do futebol, embora a derrota fosse anunciada, dentro de um padrão civilizado, desde os primeiros passos da nossa Seleção naquela competição.

O que vale analisar agora é a gama de possibilidades que Felipão pode pode oferecer ao Palmeiras, com base em sua biografia, composta de conquistas importantes, pelo Grêmio, pelo Palmeiras e pela Seleção, assim como nos fracassos em várias times que dirigiu.

Por exemplo: conseguiu perder a Eurocopa pra Grécia, em plena Lisboa, tendo em mãos a maior geração de craques lusos da história – Cristiano Ronaldo, Figo, Rui Costa etc. Por um triz o Brasil, sob seu comando, não deixou de se  se classificar para a Copa de 2002, vencida graças ao talento excepcional dos três erres – Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Depois de vencer a Copa do Brasil, abandonou o Palmeiras na beira do precipício da Segundona no Brasileirão.

Mas, isso tudo se insere nos mistérios do resultado, que, num jogo, é um tanto aleatório. Um time pode ser campeão jogando um futebolzinho de segunda, enquanto outro amarga a derrota dando shows de bola ao longo de um torneio. Acontece, embora não como regra. A regra é a de que quem joga melhor tem mais chance de vencer, claro.

Então, vamos ao que interessa de fato. O que pretende o Palmeiras, de elenco milionário e tão bem dotado de jogadores de nível técnico superior? Pretende obter resultados? Pois, então, não deveria ter demitido Roger Machado, que tinha cerca de 70 por cento de aproveitamento, somando-se todos os torneios disputados pelo Verdão na temporada. Resultado compatível com o equilíbrio técnico do Brasileirão, da Libertadores etc., onde quase todos jogam da mesma maneira.

Se a exigência do Palmeiras, porém, é a de que seu time pratique um futebol superior, mais bem articulado, impositivo, abafando o adversário no campo contrário e fazendo muitos gols, isso não é o que Felipão pode oferecer, de acordo com seu longo histórico como treinador de futebol.

Não nos esqueçamos que é dele a lapidar frase segundo a qual jogar bonito é coisa do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça. Imagino que tiveram seus ganhos quadruplicados os fabricantes de linguiça ingleses, franceses, espanhóis, alemães, croatas, belgas etc., enquanto essas nações de cães ladram diante das respectivas casinhas amarrados pelo delicioso produto.  Pois quem acompanha o futebol doméstico deles lá, além das seleções da Copa, sabem que o atual, o moderno, como queiram chamar, é feito de muita ação ofensiva, bola trabalhada, dribles, essas belezas todas do jogo que encantam e obtêm resultados.

Ainda há pouco estava vendo o tape de PSG e Atlético de Madri, e que belo jogo, meu! Lá e cá, o tempo todo (a propósito, olho nesse menino de 19 anos do PSG, Diabi, canhoto de bom porte físico, veloz e hábil como poucos; só fico imaginando ele ao lado de Mbappé e Neymar, vai ser um inferno  -hoje, tô que tô).

Bem ,mas voltando a Felipão e o Palmeiras. Essa não é a praia do veterano treinador. Talvez, quem sabe, porém, outrossim, entretanto, contudo, no entanto, com o passar do tempo ele tenha, enfim, voltado aos tempos em que se amarrava cachorro com linguiça – ou seja, tenha alcançado a tal modernidade – e formate esse Palmeiras dentro dos padrões de excelência exigidos. Que o Verdão passe a marcar por pressão, com a zaga adiantada, um meio de campo formado por craques que saibam trocar a bola com ciência e acionem os atacantes na hora certa até que o Palmeiras alcance aquele estágio em que o êxtase do torcedor e do crítico se confundam com os grandes resultados.

Mas, não é esse o padrão Felipão conhecido até hoje, passadas tantas décadas. É, sim, um jogo pautado na segurança antes de mais, à base de contragolpes, exatamente o que praticamente todos os outros nossos treinadores adotam hoje em dia por aqui.

Dessa forma, pode atingir ótimos resultados? Sem dúvida. Mas, isso seria o mesmo do mesmo, talvez um tantinho mais do que Roger vinha obtendo até outro dia no Verdão.

Ah, mas ele vai chegar, dar dois esporros na turma e colocar a casa em ordem, dirá o amigo que segue o rebanho.

É o velho atalho brasileiro: pra chegar lá, basta dar um soco na mesa. É a herança ibérica do Jefe, do caudilho, do Homem Providencial, do Pai da Pátria, do Sargentão que se confunde com o Paizão que fala grosso e mais alto, solução da qual a turma não quer participar, por ignorância, preguiça ou deficiência mental.

É o que faz o brasileiro em geral pedir mais violência pra combater a violência que vai se tornando endêmica por aqui, sem cuidar de examinar as causas reais do violência que aumenta de geração em geração e exigir o combate a elas: a profunda desigualdade social e a absoluta falta de uma Educação adequada desde a mais tenra infância.

Nas arquibancadas, a patuleia conclama por raça, só isso. Vibra com um carrinho pra lateral como se fosse um gol. Tudo que é agressivo, truculento, aquilo que se representa raça no imaginário popular é aplaudido e exigido, embora, no fundo, não saiba que sua insatisfação não é de fato com a falta de raça de um jogador, de um time, é a falta de um futebol inteligente. Então, na falta de inteligência, clama-se por raça, uma remota reminiscência na memória inconsciente de nosso povo dos tempos da escravidão.

Isso é Brasil/ Foi Deus quem criou?, parodiando samba antológico.

Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press

 

 

 

 

 

 

10 comentários

  1. Alberto Helena Jr.

    Excelente texto e muito bom comentário, embora eu divirja quanto a questão de o Felipão estar fora de moda, não estaria a moda fora do Felipão,pois eu dentro do que já foi uma boa memória e hoje pela idade se restrinja a uma vaga lembrança, vejo que as maiores conquistas de nosso time foram nas mãos do Felipão, Copa Mercosul, Libertadores e mais alguns títulos que me fogem agora, embora esteja estigmatizado por aquele resultado contra a Alemanha na Copa de 2014, eu diria de forma messianica que atire a primeira pedra quem nunca cometeu um pecado, coitado Felipão, coitado do Barbosa (lembra?) goleirão do Brasil em 1950 que sofreu um gol a queima roupa e ficou marcado como o maior frangueiro e culpado pelo Brasil não ter sido campeão, eu pergunto teria Felipão jogado sozinho contra a Alemanha, que o chorão Thiago Silva que o diga, teria Barbosa jogado sozinho frente ao Uruguai, movido só pelo ufanismo da pátria amada naquela época e por isso mesmo crucificado sem dó nem piedade não só pela torcida como pela imprensa da época e morrido com aquele injusto peso na consciência com culpa não dividida por mais dez…vamos refletir e torcer para que o Felipão tenha melhor sorte. Saudações palmeirenses.

  2. Grande texto…
    Sobre o Peixe, concordo em tudo o que vc escreveu…
    Acho que o Cuca pode dar certo.
    Também acho, que o Luxa tem lenha e, deveria ser dada a oportunidade à ele…
    Mas, só nos resta rezar para que o Peixe não vá para a segundona.
    Quanto ao Palmeiras, quero que se exploda!

  3. O Cuca já foi treinador e jogador do Santos, portanto é uma volta, vamos dizer assim, romântica. e esse é o futebol e tem que ser assim mesmo, e boa sorte, nessa nova caminhada.

  4. Felipão, Tite ,Dunga são a cara do Brasil atual: negociatas, muito dinheiro, e marketing para enganar. Fico aqui pensando como alguém acha que Felipão de uma hora para outra vai acrescentar algo diferente do que fez até agora na carreira. O próprio Palmeiras pagou caro da última tentativa que nele acreditou. Tite pago a peso de ouro ficou dois longérrimos anos à frente da seleção para num jogo decisivo contra a Bélgica esquecer o bá a bá do futebol; time perdendo de dois a zero tem que sair para ganhar ainda mais numa partida eliminatória de copa do mundo. O que fez Tite? Nada. Voltou com Paulinho e Fernandinho perdeu preciosos minutos e o Brasil deu adeus à copa. O mais espantoso é que até agora não vi nenhum comentário na mídia sobre essa verdadeira CAGADA DO TITE.. Entretanto, tem muita gente querendo comemorar. Se não ganhamos a copa teve gente que ganhou rios de dinheiro nos negócios. E ai Tite foi importante. Tanto é verdade que foi premiado na continuação do cargo.

    1. Alberto Helena Jr.

      Concordo plenamente com o João Sardinha em relação ao Tite e seu pael na seleção gamba amarelada da Nike do Brasil varonil, subserviente e conivente com os verdadeiros objetivos que patrocinadora, empresários que rodearam a selenike, faturar e faturar muito com negociatas visto que aquilo virou um balcão de negócios com o beneplácito do técnico com cara e conversinha de padre que escondem um Tite que ninguém sabe verdadeiramente quem é, recebeu o seu prêmio pelo pífio trabalho realizado na Copa com a renovação de seu contrato até 2022, pobre Brasil varonil dos negócios mil. Saudações palmeirenses.

  5. Só gostaria de fazer uma ressalva em relação ao Palmeiras. Não adianta ficar trocando de técnico, se a diretoria não “banca” o mesmo. Dessa forma, logo logo o Felipão vai embora também. Vejam o que aconteceu no arquirrival, que depois da diretoria bancar de vez o técnico Tite, que todos criticavam por ser retranqueiro, o clube conquistou Libertadores e Mundial, dentre outros títulos. O mesmo Tite que havia passado pelo Palmeiras, e com uma equipe limitada, vinha fazendo um bom trabalho, mas que novamente a diretoria não deu o apoio necessário. Acorda diretoria Palmeirense !!!

  6. 100 milhões de DÓLARES estão oferecendo pelo passe de Willian ciscador aquele mesmo que amarela na seleção, fracassado em duas copas do mundo. Depois de uma nptícias dessas dá para acreditar que futebol é coisa séria? Quantos jogadores da séie B e até da C não jogam melhor do que esse enganador? Só para citar dois na séire C, concicidentemente com o nome de Robinho um do Santa Cruz outro do Náutico não ficam devendendo nada a esse rapaz do Chelsea.. Sabem quanto está estipulado o passo de Robinho do Náutico? 500.000 dólares. Será que esse pequena diferença de 99,5 milhõs de dólares se justifica? Quantos outros jogadores aqui mesmo no Brasil não são iguais e até melhores valendo 100 vezes menos? O que existe por trás dessa loucura?

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