Eles são como nós éramos

(Foto: Lindsey PARNABY / AFP)

Neste sábado, tivemos um verdadeiro desfile do melhor futebol do mundo. Isso dito há dez, quinze ou mais anos, o amigo no ato deduziria que falávamos do futebol brasileiro. Ante fosse, antes… Já foi, mas hoje o desfile se dá além-mar,  naqueles gramados impecavelmente verdes onde a competição se confunde com a arte de jogar bola no mais requintado estilo.

Então, sugiro que, pelas ondas da tv atravessemos o oceano, saltemos o Canal da Mancha e desembarquemos em Leicester, onde o City de Guardiola prossegue sua série assombrosa de vitórias na temporada: quarenta gols assinalados em doze partidas, trinta e três de saldo. Pode?

Claro que pode, pois já entra em campo treinado e predisposto a atacar o inimigo sem trégua os noventa minutos ou mais de jogo. Sem um pingo desses temores que compõem a base dos nosso observadores (mídia e treinadores) sedentos em exaltar os esquemas defensivos ,traduzidos pelo linguajar chamado moderno por equilíbrio, organização tática essas baboseiras de praxe, tudo isso eufemismo da velha e surrada retranca, uma senhora de mais de noventa anos, capenga e acometida de Alzheymer que a faz esquecer dos bons tempos em que éramos realmente modernos.

Então, deliciemo-nos com esse time de azul celeste que solta seus laterais (como está jogando esse Delph, hein?, que Guardiola tirou do meio-campo pra se transformar num azougue pela lateral-esquerda), mantém apenas um volante que se manda o tempo todo – o brasileiro Fernandinho -, dois meias hábeis e insinuantes (De Bruyne e David Silva) e três atacantes de fato, Sterling, Gabriel Jesus e Sané. Dois pontas-pontas, por estilo e vocação, e um centroavante que sabe jogar também fora da área.

Desta vez, foi só por 2 a 0, apesar do domínio de mais de 70 por cento com a bola sempre no campo adversário, placar abaixo da média de 3,3333 ao infinito obtida até agora no campeonato inglês.

Deixemos com relutância o City e façamos um tour pela Ilha, colhendo em Londres os 2 a 0 do Arsenal sobre o Tottenham, passemos por Liverpool que venceu o Southampton por 3 a 0, com gol de Coutinho, por Albión, onde o Chelsea goleou o West Brow por 4 a 0 e damos uma paradinha em Manchester.

Aqui, o United de Mourinho passou por cima do Newcastle – 4 a 1 -, com direito a uns poucos minutos de Ibra em campo, o suficiente pra que o genial sueco fizesse duas jogadas de craque e quase marcasse um gol naquela chicotada que lhe é tão peculiar.Mourinho, finalmente, soltou as feras. Espero que não tenha uma recaída.

Atravessando o canal de volta, aí temos o PSG goleando o Nantes, numa das raras partidas em que Neymar era um clone mal feito de si mesmo, e, que o técnico deixou M’Bappé no banco boa parte do jogo. O PSG goleou, graças sobretudo, ao oportunismo de Cavani, mas não deixou saudade.

Ao contrário do Barça, que mesmo sem ser aquela máquina de triturar os oponentes, passou tranquilo pelo Leganés no campo do adversário, com direito a mais um gol de Paulinho.

A propósito, esse lance vale a pena ser lembrado pela dedicação desse gênio incomparável do futebol atual: Messi dribla um, dois, e, a dois metros da meta, junto à linha de fundo, tromba com mais dois defensores e o goleiro; mesmo no chão, acossado pelos três, tem a disposição e presteza de tocar a bola pra trás, e lá estava Paulinho pra finalizar de bico.

E o que dizer do Bayern, que mesmo desfalcado de vários titulares, venceu o Augsburg por 3 a 0 sem recuar um milímetro da intermediária inimiga do início ao fim da partida?

Dizer que todos eles – os ingleses citados, o Bayern, o Barça e o PSG jogam o futebol dentro do mais fino figurino desenhado, tecido, consagrado e rasgado pelas mãos dos brasileiros…

 

 

 

 

5 comentários

  1. Pois é mestre, hoje a gente só pode se deliciar e assistir a magia do futebol vendo jogos do velho continente. Infelizmente o que vemos aqui não é nem sombra de futebol. Todos os técnicos jogando por um resultado mínimo, ou seja, faz-se um gol e pronto, volta todo mundo atrás para segurar a vantagem. Eu começo a achar que eu não entendo nada mesmo de futebol, pois pra mim, se eu estou acuando o adversário no campo dele, buscando fazer mais gols, claro que o meu risco é menor. É muito melhor atacar do que chamar o adversário para cima da gente. À vezes mestre, santista que sou, paro e me delicio com os vídeos que tenho gravado do Santos de 2010. Que delícia ver Neymar, Ganso, Robinho, Wesley e turma toda jogando pra frente, ganhando de 8, de 10, buscando sempre o gol.
    Na verdade, é muito triste a gente ver o nível atual do futebol brasileiro, pois, além de não ter nenhum jogador que nos faça pensar – vou no estádio para ver esse cara jogar bola, nós ainda somos muito mal tratados nos estádios, corremos risco de sermos agredidos, etc..
    Triste, muito triste para um País pentacampeão mundial.

  2. Futebol é investimento, organização, seriedade fora das quatro linhas; a Inglaterra sempre teve bons times, a Espanha começou a investir nesse ínterim de duas gerações, e levou também o mundial, além de ganhar o mundo com seus dois principais times. O Brasil produzia e produz bons jogadores, é só ver a quantidade de nomes que levam lá pra fora! É só comprar, repatriar, e voilá: um time com um nome de uma cidade tem 100% de jogadores que não são dali; uns 50% nem mesmo do mesmo país. Estamos padronizados, automatizados, o futebol só seguiu o padrão.

    1. Essa história que futebol é investimento organização e seriedade é no mínimo controversa. Se investimento e organização desse resultado a Itália não teria sido excluída do mundial. Se investimento e organização desse tantos resultados assim, a Inglaterra seria várias vezes campeã mundial a Espanha idem. O certo é que onde o mercado financeiro mete a mão, a coisa tem prazo de validade para terminar, não demora muito. Futebol é simples, muito mais simples. O futebol brasileiro cresceu na várzea, nos campinhos de terra nas periferias, no futebol de praia sem um mínimo de investimento e organização e assim produzimos centenas de craques e fomos campeões mundiais. Nenhum país sobrevive no mundo do futebol pelo menos a nível de seleção nacional importando jogadores o tempo todo, pagando salários estratosféricos e tirando aquilo que é a alma do futebol a paixão pela camisa. O futebol virou um commoditie, um circo mambembe caríssimo, é só você ter dinheiro e ele cai de para-quedas no seu quintal. O problema é que tal como apareceu do nada, ele some, evapora na mesma velocidade e com isso vai deixando de formar vínculos com os torcedores. Assim como a Itália, a tendencia é que esses times multimilionários cujo dinheiro não se sabe bem de onde vem e qual a origem mais cedo ou mais tarde caiam no limbo. Prefiro assistir a um jogo da série B do que a qualquer um desses clássicos europeus turbinados por dinheiro sujo e manipulados pela mídia com seus ídolos movidos a muito, bota muito dinheiro nisso.

  3. Discordo só do tempo, caro Alberto.
    Ha 10 anos atrás já éramos medíocres.
    Há 20 anos atras tínhamos so alguns brilhos (Palmeiras 93/94/96) (Corinthians 98/99) Cruzeiro (95/98) (Vasco 97/98) SP (91/94)
    Há 30 anos ja sofríamos com o exodo dos principais craques, mas ainda éramos elite
    há 40/50 anos que éramos o topo.

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