De Brecht a Rogério, resultado zero

Foto: Gazeta Press

O dogmático e genial dramaturgo Bertolt Brecht praticava o que se pode chamar de teatro de resultados. Apontava os fuzis da sra. Carrar para a festa de casamento dos pequenos burgueses na esperança de lhes despertar a consciência social devida.

Mas, até o pragmático Brecht dizia que o divertimento no espetáculo é indispensável.

O futebol é uma réplica do teatro, pra desgosto do meu querido Muricy, pois no gramado verde, desenrolam-se as tramas mais variadas, da tragédia à comédia, com seus respectivos heróis e vilões, sem falar na heroína principal, tão catita, traiçoeira e imprevisível – a bola.

À beira do gramado, os diretores de cena, os técnicos das equipes que se defrontam, tentando mudar o roteiro daquele que foi escrito de antemão, quando as cenas tomam cursos inesperados.

Faço essas comparações pseudo literárias pra baixar a bola ao nível da entrevista de Rogério Ceni logo depois da derrota tricolor para o Corinthians outro dia, em que o técnico, mais uma vez, recorre às estatísticas para justificar a formação ultra defensiva do seu time, até que as tardias mudanças alterassem o roteiro de sua equipe, que quase chegou ao empate.

E, nesta terça, Rogério repetiu a dose, com uma pequena variação: entrou em campo na Ilha do Retiro com três zagueiros e apenas dois volantes (esta a diferença). E só foi alterar um pouco mais a equipe no segundo tempo, quando Militão avançou para a entrada da área, com a entrada de Lucas Fernandes, um meia de fato, no lugar de Cícero.

Resultado: um enfadonho 0 a 0, com o Tricolor criando apenas uma boa chance de marcar, com Gilberto, de cabeça, aos 47 minutos do segundo tempo.

E fiquei aqui me perguntando: a que veio Rogério, mito de seu clube, goleiro histórico e tal e cousa e lousa e maripousa, para a beirada do gramado?

Se for para retrancar sua equipe e recorrer aos números que reflitam a capacidade de se defender, Rogério cai no lugar-comum dos nossos treinadores, desde os mais novos aos mais vividos, com raríssimas exceções.

Confesso que esperava dele algo mais ousado, como começou a demonstrar no início da temporada com toda aquela eficiência ofensiva de seu time, apesar das limitados recursos de que dispõe.

Afinal, o bicho esteve lá papeando com o Sampaoli na Espanha antes de assumir a direção técnica do Tricolor.

Esse mesmo Sampaoli que, em dois tempos, já transfigurou a Seleção Argentina, tão passiva nas mãos de Bauza, um desses tantos amantes das estatísticas defensivas.

Mas, aí está Sampaoli: sem medo, bateu o Brasil, e, na sequência, com um time praticamente reserva goleou Cingapura, em amistoso, montando seu time com a formação mais antiga e ofensiva do mundo: 2-3-5. Dois zagueiros, três médios e cinco atacantes.

Ah, mas quero ver ele fazer isso diante de uma Seleção de verdade, dirá o amigo mais cético. Pois, eu também, embora Guardiola, nos seus melhores dias de Barça e Bayern recorresse a esse expediente, com pequenas variações, até mesmo em clássicos europeus.

A própria Alemanha, embora se apresentasse no papel outro dia com um sistema de três zagueiros, de fato, teve, num deles, o volante e lateral Kimmich, verdadeiro meia-armador, autor de três assistências.

O que quero dizer é que o objetivo de um técnico de time grande deve ser sempre, independentemente das fórmulas dos sistemas ou dos números estatísticos, oferecer, acima de tudo, espetáculo, diversão, ao espectador, além de eficiência no resultado.

Para tanto, precisa correr riscos, que a vida, meu amigo, é uma eterna corda bamba. E o futebol é o teatro da vida.

Caso contrário, vista o paletó e a gravata do amanuense Belmiro e deixe a ingrata passar em branco.

 

 

1 comentários

  1. Helena falou e disse o que eu sempre defendo.. Helena como eu somos defensores do futebol bem jogado onde os técnicos primem primordialmente pela valorização do jogador habilidoso e que a partir destes seja adequado o sistema de jogo, tudo que os treinadores brasileiros não fazem a começar pelo treinador da seleção. O único técnico que quebra essa escrita é o Luxemburgo que está sempre inventando algo novo e como tal é criticado pela multidão de torcedores de mente de soldadinho de chumbo. O esquema de Tite se baseia como já disse no seguinte princípio: Dois volantes marcadores e mais 8 e vamo que vamo. Confesso que o caso de Diego Souza é mais emblemático ainda. Luxemburgo acaba de declarar e com razão que no seu time o Sport, Diego é meio campista pois é ali onde ele desenvolve melhor o seu grande potencial. O que faz Tite? Coloca Diego fixo e solitário na frente desperdiçando o que ele tem de melhor que é o lançamento, o chute de fora da área e a mobilidade em conduzir a bola. A pergunta que fica é o por que do Tite fazer isso? Eu me arrisco a responder.. Tite não quer de jeito nenhum mais um jogador habilidoso e fora do que ele imagina como segundo volante para competir com Paulinho, Fernandinho, Casemiro ou mesmo Willian. Na minha opinião essa é a razão. Ou seja, Tite é capaz de sacrificar um craque para manter seus dois volantinhos xucros.

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