Alguém aí já ouvir falar de Caetano de Domenico? Pois, eu lembro do velho sempre que um dos novos jovens e atentos comentaristas desfia elogios às tais duas linhas de quatro, uma modernidade à qual nossos retranqueiros treinadores recorreram imediatamente.
Caetano de Domenico, pra quem não sabe, veio no início do século passado, aos 14 anos de idade, fugido de um pavoroso terremoto que arrasou sua Messina natal, na Sicília, matando quase 30 mil pessoas. Trabalhou numa fábrica de chapéus na Vila Formosa antes de virar jogador de futebol e, mais tarde, técnico. E, como tal, foi bicampeão pelo Palestra, em 40/41, mas passou a vida dirigindo o Ipiranga, o Nacional, esses times pequenos, onde ganhou fama pelas armações defensivas que montava diante dos grandes.
Era o que ele chamava de Cerrada e Cerradinha. A Cerrada consistia exatamente nessa última palavra da moda atual: duas linhas de quatro, um jogador mais avançado para pegar a tal segunda bola, e outro à frente, de preferência, numa das extremidades do campo para cortar em facão. Já a Cerradinha era ainda mais hermética: cinco zagueiros (um sempre na sobra), quatro médios (se quiserem chamar de volantes pode) e apenas um atacante.
Se duvidarem de mim, perguntem ao Rúbens Minelli que o conheceu muito bem, pois foi seu jogador, e, geralmente cumpria essa função de atacante pela esquerda, já que canhoto, veloz e de chute forte.
Isso, claro, não o impedia de levar de 5, 6, 7, do Trio de Ferro. Mas, que enchouriçava a vida dos grandões, ah, disso não resta a menor dúvida.
Caetano de Domenico se foi, aos cem anos de idade, antes de seu sistema, herdado, claro, do catenaccio italiano (devia estar lá na sua memória celular) entrar em voga entre nós. Mas, deve estar gargalhando lá em cima.
A propósito das tais duas linhas de quatro, o que me intriga é a maneira como os técnicos costumam dispor esses quatro mais à frente dos zagueiros. Em geral, os dois volantes de ofício ocupam o meio e os meias abrem para os lados, quase na função de alas, ainda por cima com a tarefa de obstar as descidas dos laterais adversários.
Quer dizer: os mais habilidosos e imaginativos, você encosta nas pontas, sob a marcação da linha lateral e do ala adversário. E os menos dotados, aqueles talhados para roubar a bola e entregar pra quem sabe, é que ficam com o ônus de pensar o jogo, executar os passes exatos e entrar, aos dribles, na defesa inimiga.
Ainda no fim de semana, ouvi Felipão explicar a entrada de Giuliano, o meia de maior habilidade e visão de jogo do Grêmio: ele abre para os volantes armarem, explicou o gênio. Juro por Deus! O mesmo se deu com a entrada de Boschillia no São Paulo de Muricy, que, diga-se, prezo muito.
Traduzindo; o errado é que tá certo.
O quê? Nada, não. É que tenho a sensação de que as gargalhadas do velho Domenico lá em cima aumentaram de intensidade. Deve ser só impressão minha, claro.