Aranha, na teia do racismo

Roberto Vinícius/Agência Eleven/Gazeta Press
Roberto Vinícius/Agência Eleven/Gazeta Press

Desde os tempos da Ponte Preta admiro o futebol do goleiro Aranha: bom porte físico, reflexos apurados e muita segurança quando vai na bola – um dos poucos goleiros brasileiros atuais, por sinal, que agarra a bichinha de primeira. Pois, à admiração soma-se a minha solidariedade naquele vil episódio proporcionado por alguns torcedores do Grêmio – inclusive, uma senhora aloirada que soletra na câmera lenta da tv: MA-CA-CO, com todas as letras e torpeza que a palavra, assim dita, encerra.

E não me venham com aquela leniência bem brasileira de que isso é coisa de torcedor, no auge da paixão cega. Não é, não. É a deformação típica de certas classes sociais – justamente aquelas que têm maior acesso à educação -, que veem no pobre e no negro uma espécie inferior, detestável, ainda mais se num campo qualquer destaca-se acima de seus pares. E, lamento muito que o técnico Felipão, um líder inconteste de todos os gremistas, quase deificado no clube, não aproveitasse a oportunidade para deplorável tais atitudes e apontar o caminho de luz a seus seguidores.

Ao contrário: foi expulso por reclamar do juiz, a quem xingou no intervalo, segundo os relatos de quem lá estava, e, na entrevistya coletiva, limitou-se a cogitar da possibilidade de acionar na justiça o árbitro por perdas e danos.

Mas, que esperar que quem já declarou publicamente que o general Pinochet, sanguinário ditador chileno, fez muita coisa boa para seu país?

Voltando à Aranha, aprovo com louvor sua revolta diante das ofensas criminosas de que foi vítima. Sim, porque, no Brasil, racismo é crime inafiançável, e aquela mulher flagrada pelas câmeras de tv deveria ser indiciada pelo Ministério Público e passar seus próximos anos atrás das grades, que é onde devem ficar os animais mais perigosos ao convívio humano.

Assim como suas defesas providenciais quando o Grêmio mais pressionou, com as combinações espertas entre Giuliano, Dudu e Luan.

O Peixe, porém, foi mais incisivo e preciso nas chegadas à meta tricolor. Primeiro, com o gol de cabeça de David Braz; depois, com Robinho, no ricochete no beque, em jogada lancinante de Lucas Lima, que, diga-se, deveria ter sido abortada pelo juiz no seus nascedouro, quando o meia santista dominou a bola com o braço esquerdo esticado.

E, pouco antes do final, Rildo, que substituíra Robinho, machucado, perdeu o terceiro (e talvez decisivo no mata-mata), cara a cara com o goleiro.

Placar que deixa o Santos com um pé na vaga para as quartas de final da Copa do Brasil. E todas as pessoas de bem entre envergonhadas e indignadas com o que aconteceu nesta noite em Porto Alegre.

 

E aplaudo sua atuação, assim como seus demais companheiros, na bola rolando, já que não é nada fácil passar pelo Grêmio, na Arena (neste caso, o título é exato).

 

7 comentários

  1. Se apenas essa imbecil for indiciada e, possivelmente, condenada, logo será vitimizada e passará a ser considerada injustiçada. É necessário identificar os outros canalhas que participaram desse ato vergonhoso e, aí sim, puní-los e dar ampla divulgação das punições para inibir que casos assim se repitam. Nossa solidariedade ao Aranha, que entre tantos boleiros deslumbrados, cumpre o seu ofício com competência, discrição e sobriedade.

    1. Enquanto não acabarem com a impunidade no Brasil, atos como este vão continuar acontecendo. A própria sociedade é também responsável. Porque? Porque não faz a sua parte, exigindo nas ruas que o País tenha em suas fileiras de homens públicos, pessoas do bem. Ninguem neste País tem interesse em mudar as leis. Os maiores problemas do Brasil não são corrupção, roubalheira, mentiras galopantes, falta de pudor, homens públicos. O maior problema é a Impunidade. O bandido não pode ser condenado a 30 anos de cadeia, cumprir 1/6 e voltar para as ruas. O Brasil, jamais, poderia ter um Estatuto da criança e do Adolescente, que incentiva a criminalidade. Ninguem, Ninguem, conserta mais êste País. Essa mulher que agrediu o goleiro Aranha teria que sair do estadio direto para o presídio. Lugar de bicho veroz como ela, é em Jaula. Provavelmente, se a agressão racista tivesse partido de um homem, este teria sido preso. Mas em nome da liberdade feminina, da mulher moderna, essa escória continuou no estadio impunimente. Cretinos deixem os nossos jogadores negros trabalharem. Eles são tão humanos que não se pode comparar com certos brancos que mais parecem fezes de elefantes.

  2. Truman Capote em seu livro (In Cold Blood), A sangue frio, descobriu não sei se por acidente ou intenção a personalidade de grupo que reage muito diferente do que as pessoas são normalmente, para o bem e para o mau. A Readers Digest publicou um artigo a este respeito e afirma que os times que tiveram esta personalidade de grupo são três: Seleção brasileira de 1970, O time do Bulls de Chicago na era Michael Jordam e um time de cricket do Oeste da India.
    Sei que esta informação pode ajudar muito pouco, mas já passou da hora de nossa policia usar a inteligencia nestes casos para desmantelar estes bandos, apenas uma sugestão, não quero e não sou o pai da verdade.
    Abraço.

  3. Esta mulher e outros racistas não sofrerão punição por estarem no Brasil,mas em alguns
    países a imagen televisiva seria prova suficiente para baní-los dos estádios por um bom
    tempo.
    Como somos o país que possui a maior população mundial de advogados,inclusive muitos
    deles com diplomas adquiridos através de cursos por correspondência,a pergunta que fica
    no ar diz respeito aos três justiceiros do STJD que deram um gancho de 180 días ao
    Petros e já estão armando as pistolas para julgarem o Guerrero.
    Que farão Vossas Excelências no caso Aranha? Dirão que não é de vossa alçada?
    Dirão que trombar com juíz é mais criminoso que ofender e discriminar afro-brasileiros?
    Com a palavra os valentões do STJD.

  4. Sou descendente de japoneses e sofro preconceito racial (disfarçado de piadinhas, muito semelhante ao que acontecia com os negros a uns 15 anos atrás), acontece quase que diariamente e eu não tenho a quem recorrer, já que esse tipo de ocorrência não é encarada com seriedade pelas ditas autoridades.

    Devo lembrar que:

    “Comete o crime do artigo 140, § 3º do CP o agente que utiliza palavras depreciativas referentes a raça, cor, religião ou origem, com o intuito de ofender a honra subjetiva da vítima”

    Isso vale para todas as etnias, na teoria, mas na prática apenas os negros estão sendo protegidos, o que já é um avanço, mas muito pouco para combater o preconceito racial.

    Até quando eu vou ter que ficar calado com essas piadinhas a respeito de minha etnia japonesa? A quem devo recorrer?

    Não deveria haver alguma mobilização em relação a qualquer raça/etnia, e não somente em relação aos negros?

    O Aranha está certíssimo em ir até as últimas consequências contra esse ato deplorável dos torcedores, e gostaria muito de eu poder contar com a ajuda das autoridades também, pois não considero “piadinhas” e sim preconceito racial as palavras dirigidas à mim.

    O que fazer?

    1. Num sistema democrático como é o nosso, a única saída é o amigo recorrer à justiça, por meio de um advogado. Paralelamente, formar um grupo de apoio entre aqueles que sofrem as mesmas humilhações e pressionar as autoridades e conclamar a opinião pública em geral. Com a Internet isso ficou bem mais fácil. É um absurdo ter que recorrer a esses expedientes em defesa de um direito inalienável do ser humano. Mas, que fazer se esse foi uma obra que não deu certo?

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