Watkins Glen, 04/10/70: começa a era Fittipaldi

Foto: Acervo/Gazeta Press

Há 50 anos, em um autódromo rural no estado de Nova York, Émerson Fittipaldi começava a fazer sua história na Fórmula 1. Gripado e pilotando a Lotus 72 pela primeira vez, vencia seu primeiro GP – era apenas a quarta corrida que disputava – e garantia assim o título do austríaco Jochen Rindt que tinha morrido em Monza, um mês antes, e o da equipe Lotus, no Mundial de Construtores. O Brasil não viu essa corrida.

Clay Regazzoni, com Ferrari, venceu a corrida de Monza, permitindo então que cinco pilotos mantivessem as chances de título: o suíço da Ferrari, Jack Brabham (Motor Racing), Jackie Stewart (Tyrrell), Denny Hulme (McLaren) e Jack Ickx (Ferrari). Ickx venceu no Canadá e passou a ser o único piloto com chances de superar Rindt mas, para isso, teria que vencer as duas provas restantes, EUA e México. Émerson acabou com seu sonho e Jacky Ickx perdeu a única chance de conquistar um título mundial.

Émerson passou de terceiro para primeiro piloto da Lotus e em Watkins Glen fez o que Colin Chapman, o lendário chefe de equipe da Lotus, queria dele: proteger o título ‘post mortem’ de Rindt.

A corrida foi dura, com Ickx largando na pole mas se atrapalhando e arrastando com ele Émerson, o terceiro do grid, para a oitava posição. Começou então uma lenta caminhada ao primeiro lugar. Cauteloso porque não conhecia o carro foi ganhando posições enquanto Rindt e Jackie Stewart enfrentavam problemas técnicos. O último a ser superado foi o mexicano Pedro Rodriguez, obrigado a fazer um pit stop, a oito voltas do final, permitindo que Émerson visse Colin Chapman jogar o boné para cima, após receber a bandeira quadriculada. Atrás dele chegaram Pedro Rodriguez (BRM), Reine Wisell (Lotus), Jacky Ickx (Ferrari), Chris Amon (March) e Derek Bell (Surtees).

O primeiro lugar em Watkins Glen garantiu a Émerson Fittipaldi a condição de liderança na Lotus e, dois anos depois, conquistava seu primeiro título mundial em Monza. Em 74, no mesmo circuito onde venceu pela primeira vez, Émerson levantaria o bicampeonato mundial, desta vez pela McLaren. No total foram 14 vitórias e seis poles.

Consequências da primeira vitória de um brasileiro na Fórmula 1:

1 – O Brasil ‘descobriu’ um novo esporte que, cinco décadas depois, continua com milhares de fãs que acompanham as corridas pela tevê e pelo rádio. O público brasileiro, hoje é o maior com mais de 80 milhões por temporada, superando EUA e China, graças à TV Globo que transmite a categoria desde 1981. O GP Brasil foi disputado, sem interrupção, desde 1972 até o ano passado.

2 – Empolgado com o sucesso de Émerson Fittipaldi, o jornalista Antonio Carlos Scavone decidiu que o Brasil tinha que fazer parte do calendário mundial e, em 1972, Interlagos recebeu a primeira corrida da categoria. Em 1973, na primeira prova oficial, Émerson vencia o GP Brasil.

3 – Atrás de Émerson seguiram seu irmão Wilson Fittipaldi Jr. e José Carlos Pace. Christian Fittipaldi, filho de Wilsinho e sobrinho de Émerson, chegou à F1 em 1992 e ficou até 1994. E o Brasil permaneceu durante muito tempo com pilotos no grid. Até a despedida de Felipe Massa em 2017. Além dos dois títulos de Émerson, vieram os três de Nelson Piquet e os três de Ayrton Senna. Em número de vitórias, o Brasil só perde para a Inglaterra e Alemanha.

4 – O Rio de Janeiro ficou empolgado e o autódromo de Jacarepaguá reivindicou e levou o GP Brasil na década de 80. O circuito aprovado pela FIA para provas internacionais, em decisão discutível, foi destruído para a construção da Vila Olímpica para a Rio-2016.

5 – Os resultados de Émerson levaram os irmãos Fittipaldi a um projeto ambicioso: o da criação de uma equipe brasileira de Fórmula 1, a Copersucar. Um segundo lugar no GP Brasil de 1978, em Jacarepaguá, e um terceiro no GP dos EUA, em Long Beach, em 1980, foram os melhores resultados com Émerson. O futuro campeão mundial Keke Roberg cravou um terceiro lugar no GP da Argentina de 1980.

6 – O autódromo de Interlagos passou por uma longa reforma iniciada em 2014 para adequar-se às exigências internacionais. É o único circuito sul-americano aprovado para a Fórmula 1 e demais categorias de ponta.

7 – Nestas cinco décadas, nenhuma modalidade esportiva trouxe ao Brasil para uma competição oficial, todos os anos, os melhores da categoria. Passaram por Interlagos ou Jacarepaguá todos os campeões mundiais.

8 – Émerson Fittipaldi tem dois netos – Pietro e Enzo Fittipaldi – e o filho Emmo, de 13 anos, envolvidos com automobilismo e candidatos a uma vaga na Fórmula 1, no futuro.

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