Os Jogos Olímpicos são o mair evento esportivo do mundo. Só participar dele já é uma vitória absurda. Muitos atletas passam a carreira inteira se dedicando, treinando e se esforçando atrás deste objetivo, mas nem todos conseguem realizar o sonho de estar numa Olimpíada. Quem chega em condições de disputar uma medalha é um super privilegiado, mas conseguir o pódio ou não é o que faz do esporte algo tão especial. Por mais favorito que o atleta seja, ninguém tem garantias de nada até que a competição termine. Digo tudo isso para analisar a participação de Hugo Calderano em Paris-2024. A imagem dele chorando na zona mista, mexeu demais comigo. Ele chegou onde nenhum mesatenista fora da Europa e da Ásia jamais conseguiu alcançar, mas ao mesmo tempo sentiu o pior dos sentimentos ao deixar escapar a medalha que nunca esteve tão perto de vir para o Brasil.
É aí que se cria uma gigante confusão de sensações e sentimentos. Hugo Calderano terminou os Jogos Olímpicos em quarto lugar. A melhor classificação da história de um atleta das Américas no tênis de mesa. Nunca alguém de fora da Europa e da Ásia havia chegado às semifinais. O feito merece ser muito comemorado. É o maior resultado da história, mas há lugar para o pior dos sentimentos, a tristeza, pela forma com a qual a medalha escapou.
Fica na cabeça a dúvida: será que Calderano vai ter uma outra chance como essa que ele teve em Paris-2024? Será que algum brasileiro vai ter em pouco tempo uma chance de ganhar medalha no tênis de mesa como aconteceu desta vez? A grande dor é provocada especialmente porque tudo parecia conspirar a favor do pódio para o brasileiro.
Quem não comemorou a derrota do número 1 do mundo, o chinês Wang Chuqin, para o sueco Truls Moregard? Como o favorito, que teve sua raquete pisada por um fotógrafo na véspera, eliminado na segunda rodada, a chave de Hugo Calderano se abriu. Cabeça de chave número 4 do torneio, o brasileiro teria a chance de chegar a uma final olímpica sem precisar enfrentar nenhum rival da China, maior potência disparada da modalidade.
A esperança tomou conta dos torcedores brasileiros e certamente mexeu com Hugo Calderano. Era a chance que ele precisava para colocar o Brasil no Olimpo do tênis de mesa. O mesatenista do Rio de Janeiro vinha com uma campanha brilhante e jogando super bem. Bastava então encarar e vencer o algoz do chinês, o sueco Truls Moregard, na semifinal para não só garantir uma medalha, mas carimbar o passaporte para ir à decisão do ouro.
Truls Moregard é o número 19 do mundo, já foi vice-campeão mundial em 2021, mas não tem tido resultados tão regulares quanto Hugo Calderano nos últimos anos. Era sim um adversário vencível. E Hugo mostrou isso quando abriu 10/4 no primeiro set e quando teve três sets points para fechar o segundo. O duro é que, mesmo com as oportunidades que teve, o brasileiro perdeu os dois primeiros sets e não conseguiu mais se recuperar. Lutou, mas perdeu por 4 a 2.
E essa derrota para Truls Moregard tem muito a ver com a forma com a qual Hugo Calderano perdeu a decisão da medalha de bronze. O cavalo passou selado para levá-lo à final e ele não subiu. Uma derrota extremamente dolorida, que deixou feridas, que não foram cicatrizadas a tempo da disputa pelo terceiro lugar.
O adversário na luta pelo bronze foi o francês Felix Lebrun, adversário do mesmo nível de Hugo. Enquanto o brasileiro é sexto do mundo, o europeu é o quinto. Hugo era o quarto cabeça de chave e o atleta da casa era o terceiro. Esse sim era um jogo em que tudo podia acontecer. Mas o abalo da derrota na semifinal atrapalhou tudo.
Se Hugo Calderano e Felix Lebrun são atletas de nível semelhante, não foi isso que foi visto na disputa do bronze. O brasileiro jogou muito abaixo do que pode, cometendo muitos erros não forçados e facilitou o caminho para o francês subir no pódio. Não tenho dúvidas de que se a derrota na semifinal tivesse sido para Wang Chuqin, Hugo chegaria completamente diferente para brigar pela medalha.
Perder para Wang Chuqin seria o normal! Hugo certamente estava preparado para esta possibilidade! O que ele não contava era perder para Truls Moregard e destruir seu psicológico para a disputa do bronze.
Apesar de tudo isso, é preciso vibrar sim com a campanha feita! É o melhor resultado da história! Hugo Calderano parou nas oitavas na Rio-2016, foi até as quartas em Tóquio-2020 e terminou em quarto lugar em Paris-2024. É duro fica sem medalha, é! Mas, quem sabe, ele possa continuar a evolução de resultados para chegar ainda mais forte em Los Angeles-2028.
A hora agora é de fazer como a música do Revelação:
“Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé
Manda essa tristeza embora
Basta acreditar que um novo dia vai raiar
Sua hora vai chegar”
Eu acredito!