Caio Bonfim fez história na madrugada desta quinta-feira em Paris ao se tornar o primeiro medalhista da história do Brasil na marcha atleta dos Jogos Olímpicos. Uma medalha de prata que tem vários sabores. Um de família pelo fato do esporte ter sido quase hereditário. Outro de perseverança, de quem nunca deixou de acreditar que iria realizar o sonho. E, por fim, um sabor nacional, de ter colocado, enfim, os marchadores do país no mapa da modalidade.
A família teve um peso enorme na conquista de Caio Bonfim. Seu pai, xxxxxx, era professor em Sobradinho, cidade-satélite de Brasília. Uma de suas exigências foi o ensino de atletismo. Tudo isso aconteceu lá nos anos 80, quando ele descobriu Carmem de Oliveira, a primeira mulher brasileira a ganhar a São Silvestre. Pouco tempo depois, treinou Gianetti Sena, atleta da marcha. A relação ultrapassou os limites de técnico e atleta. Os dois se apaixonaram, se casaram e tiveram um filho, Caio.

Gianetti foi oito vezes campeã brasileira, chegou a conseguir índice para ir aos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996, mas acabou ficando de fora por conta de mudanças de última hora nos critérios.
Nascido no meio do esporte, Caio Bonfim demorou a começar a praticar a marcha. A primeira vez que foi convidado pelo pai para marchar ficou marcada. O então garoto foi xingado. Como um dos pés precisa obrigatoriamente estar em contato com o solo, o atleta acaba fazendo um movimento de quadril parecido com um rebolado. E era essa visão que produzia nas pessoas um preconceito, que fez o garoto Caio se recusar por muito tempo a se dedicar à modalidade.
Foi só com 16 anos que ele entendeu que pouco importava o que os outros diriam na rua. Ser xingado ou não na rua não importava mais. Caio anunciou aos pais que queria ser marchador e ganhou apoio imediato.
Sua mãe, Gianetti, passou a ser sua treinadora e juntos conseguiram feitos incríveis. Com 21 anos, Caio estreou em Londres-2012 com um modesto 37º lugar. Na Rio-2016, faltou pouco para subir no pódio e ele ficou em quarto lugar.
Depois daquilo, os resultados melhoraram a nível internacional. Caio Bonfim foi medalha de bronze nos Mundiais de 2017 e 2023, mas foi mal em Tóquio ao terminar apenas em 13º.
A consagração veio em Paris-2024 após uma sequência incríveis de resultados. Depois que ficou em sexto lugar no Mundial de 2022, Caio Bonfim foi medalhista em todas as competições que disputou no circuito mundial. Chegou à Paris mais do que pronto e buscou a medalha que lhe era merecida.
Mas Caio Bonfim não está 100% feliz. Ele ainda luta para que o país seja mais respeitado. O Brasil ainda não é visto como uma potência e acaba sendo vítima mais facilmente do que as potências das punições dadas pela arbitragem.
Em Toquio-2020, por exemplo, Érica Sena ficaria com o bronze se não fosse a punição que ela recebeu a 400 m do fim. Na seletiva olímpica do revezamento, Caio e Viviane Lyra estavam na liderança e tinham tudo pra vencer a prova. Mas tomaram punição e acabaram em quinto.
Que a história comece a mudar com a medalha conquistada por Caio Bonfim, que pode ganhar outra daqui a alguns dias ao lado de Viviane Lyra com o revezamento, que estreia como prova nos Jogos Olímpicos de Paris.