Eu detesto despedidas. Sempre detestei. O último episódio da série, o capítulo derradeiro do livro e o tchau no aeroporto são as pequenas dores que levam algum tempo para serem digeridas. Mas alguns desses finais são mais doídos do que outros, é verdade. Quando a gente se prepara mentalmente para o adeus, acredito, fica mais fácil de assimilar.

Nesta terça-feira, quando foi anunciado que a despedida de Formiga da Seleção Brasileira de futebol feminino acontece no próximo dia 25, eu me perguntei como ela está se preparando para seu último jogo pela equipe nacional.

Formiga já sabia que Tóquio 2020 seria sua última grande competição pelo Brasil. Mesmo possivelmente estando pronta pra esse momento, eu fico pensando no frio na barriga que ela deve sentir ao vestir a camisa canarinho para entrar em campo, sabendo que será a última vez. O palco da apresentação final da volante será a Arena da Amazônia, em Manaus, pelo Torneio Internacional de Futebol Feminino.

Pra quem está fora das quatro linhas, a despedida de Formiga dói, pelo simbolismo da atleta. A gente sabe a importância dela para o futebol feminino brasileiro (e mundial). Ela é a única pessoa no mundo que disputou sete Copas e esteve também em sete olímpiadas. Formiga é insubstituível. Não terão outras como ela. E tudo bem, afinal, a vida é feita de ciclos.

Provavelmente, antes de colocar o pé no gramado, Formiga terá um filme passando na sua cabeça. Ela não deve lembrar especificamente de cada uma das 233 partidas que disputou e dos 29 gols que marcou pela Seleção. Mas ela provavelmente lembra de como a modalidade evoluiu em seus anos de carreira — da primeira entrevista, do primeiro salário como profissional, da primeira camisa feita para elas, do primeiro jogo transmitido, entre outras conquistas que viu de perto.

Eu torço pra que a Formiga tenha uma despedida daquelas no próximo dia 25. Com a liberação do público, espero por um estádio lotado, com cartazes homenageando a atleta. Espero por uma vitória do Brasil, em cima da Índia, time rival na ocasião. Torço pra que ela receba o carinho da torcida, a atenção da mídia (brasileira e internacional) e o reconhecimento da CBF.

Espero que Formiga acene, saindo do campo, com a sensação de missão cumprida. Porque ídolos merecem finais felizes.