É do Brasil: Sissi e a primeira Seleção

 

Seleção de 88 vestia uniforme do time masculino (Foto: Reprodução)

O misto de sotaque baiano com norte-americano não esconde que Sissi, pioneira do futebol brasileiro, tem muita história para contar. Se hoje ela carrega o ar de gringa e mora fora do Brasil há mais de uma década, sua primeira viagem internacional – e de avião- veio graças à Seleção.

Em 1988, a Fifa realizou, na China, um Mundial de caráter experimental. Naquele ano, a equipe nacional teve como base o Radar, tradicional time do Rio de Janeiro, e o Juventus, da Capital Paulista. Foram poucas as convocadas de fora do eixo Rio-São Paulo.

Sissi foi uma delas.

“Foi uma convocação que me trouxe bastante alegria, satisfação e orgulho. Foi ali que tudo começou”, relembra a ex-jogadora.

Como era menor de idade, Sissi precisava da autorização dos pais para embarcar. Na ausência do senhor Antônio Salões, que estava viajando, a atleta e sua mãe falsificaram a assinatura do patriarca. “Graças a Deus deu tudo certo”, relembra, em meio a risos.

Na ocasião, o uniforme vestido pela Seleção feminina era o da equipe masculina. A estrutura era mínima. Algo parecido com o futebol amador. Ainda assim, o Brasil ficou com bronze nos pênaltis. Ao todo, 12 seleções participaram da disputa.

Anos mais tarde, na véspera da primeira copa feminina, em 1991, Sissi sofreu uma lesão. Acabou não se unindo as convocadas pelo técnico Fernando Pires. “Foi o momento mais triste da minha carreira”, recorda. “Sempre sonhei em disputar algo oficial, mas nesse momento não deu certo”.

Focou, então, na recuperação e, em 1995, foi para a Suécia. No ano seguinte, participou também dos Jogos de Atlanta, que marcaram a estreia do futebol feminino em Olimpíadas. A Seleção terminou na quarta colocação,

Em 99, segundo Sissi, foi quando deu para notar que o futebol feminino veio para ficar. Na disputa nos EUA, veio a primeira medalha em Copas do Mundo, apesar do amadorismo com o qual a equipe era tratada.

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Alegrias, dores e frustrações foram junto com o chute mais importante de sua vida: o primeiro gol de ouro em um mundial feminino.

Era quartas de final. No duelo, o Brasil vencia por 3 a 0, mas deixou a Nigéria empatar. A baiana foi a responsável pelo suspiro de alívio das brasileiras. “Foi um momento muito mágico para mim. Eu falei: vamos parar aqui. Chega de emoção”. Até hoje, esse é considerado um dos gols mais bonitos da história dos Mundiais.

O Brasil acabou perdendo a semifinal para os EUA, mas ganhou da Noruega nos pênaltis na disputa pelo bronze. “O mundial coroou aquela geração. Saímos do país desacreditados e tendo que provar, para quem comandava o futebol feminino. Voltou para o Brasil com reconhecimento.

Nos Estados Unidos, Brasil foi terceiro colocado (Foto: Divulgação/Fifa)

Sissi relembra que alguns responsáveis pela Seleção falavam que as jogadoras não eram bonitas e inteligentes o suficiente. “Mas naquela época, não podíamos falar. Sabíamos que não seríamos convocadas novamente”, relembra.

Nas olimpíadas de Sydney, em 2000, Sissi vestiu a amarelinha pela última vez. Depois disso, não foi chamada novamente para a Seleção.

SOY LOCO POR TI, AMERICA

Depois do fim com a Seleção, já nos Estados Unidos e jogando em uma liga semi profissional, Sissi começou a pensar em pendurar as chuteiras – sem se afastar da modalidade.

Antes do futebol “dar certo”, a mãe de Sissi acreditava que ela deveria ser professora. Sorte ou destino, a dona Vanilda acertou.

Sissi é, hoje, professora – mas provavelmente não como sua mãe sonhou.

“Não foi fácil a transição, porque ainda pensava como jogadora”, lembra a ex-atleta do momento em que passou a estudar para ser técnica. Hoje, anos mais tarde, se sente confortável enquanto treinadora.

Já teve, sim, propostas para vir ao Brasil, mas não sabe se virá. “Não vou dizer que nunca voltaria, mas estou no meio do futebol aqui, uma coisa que eu amo”. Mas, quando perguntada sobre seus sonhos futuros, não esconde a vontade de voltar a atuar na Seleção, de uma forma diferente. “Sonho em um dia poder ajudar a seleção – seja como auxiliar. Dar de volta tudo o que o futebol me deu e contribuir de alguma forma”.

Sissi acompanha de perto a Seleção e o futebol brasileiro. “Hoje, se fala mais do futebol feminino, tem mais competições. Não tem como não falar da visibilidade, que também não se tinha antes. Na minha época, nas seleções,você via mais o conjunto. Hoje, se fala mais em duas ou três jogadoras”, compara.

Ela, também, é admiradora do trabalho de Pia Sundhage, técnica da equipe “É bom ter uma pessoa com a bagagem, com a história da Pia. Já deu para notar mudança, o toque dela. Ela não tira a individualidade das jogadoras”, ressalta. “Não vejo a hora das olimpíadas para ver a continuidade desse trabalho”, finaliza.

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