Pioneira da Seleção: A história de Sissi

Sissi foi a primeira camisa 10 da Seleção (Foto: Fifa)

“Finalmente”, respirou aliviada e feliz a pequena Sisleide do Amor Lima, quando aos 11 anos, viu, pela primeira vez, uma outra menina jogando futebol.

Naquele ano,1978, seu pai conseguiu um emprego no interior da Bahia, em Campo Formoso. Sissi e família foram, então, obrigadas a se mudarem. Deixaram para trás a minúscula Esplanada, que fica a três horas de Salvador, e foram para o sertão. Foi ali onde, anos mais tarde, Sissi montou sua primeira equipe de futebol com outras mulheres.

A então futura jogadora da Seleção nasceu em meio a proibição do futebol feminino em Terras Tupiniquins. Entre 1941 e 1979, mulheres eram proibidas de atuar entre as quatro linhas. Mas isso nunca a intimidou.

Fruto de 1967, Sissi viu a paixão pelo futebol começar aos sete. Na família grande, quatro mulheres e um homem, apenas ela, dentre as meninas, pegou gosto pela modalidade, vendo o pai e o irmão jogando

Se havia uma lei que proibia que mulheres jogassem futebol, o Estado era apenas uma representação macro do que acontecia em casa. A falta de apoio começou na mesa de jantar. Mas Sissi não era como as demais irmãs. Curiosa e rebelde, como ela se descreve, não aceitava não como resposta – e contestava.

Antes mesmo de se mudarem para Campo Formoso, as bonecas de Sissi já sofriam. Quando podia escolher qual presente ganharia, em ocasiões especiais – e sabendo que não podia escolher uma bola – decidia pela boneca com a cabeça que poderia ser arrancada de uma maneira mais fácil, para fazer do objeto sua pelota.

Virou, então, costume.

Sissi ao lado de sua mãe, irmãs e irmão (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Sissi jogava no campo de terra com os meninos, que a aceitaram no time, sem hesitar. Mas. junto ao hábito de jogar, veio outro praxe.

Todo final de tarde, os pais de seus colegas iam até sua casa conversar com a dona Vanilda. “Como é que pode, uma menina no meio dos meninos?”, questionavam sua mãe. Mas isso não mudou o destino – e fomentou a vontade – de Sissi.

Aos 14, foi quando a coisa começou a acontecer para valer. Neste ano, o futebol foi liberado para mulheres no Brasil. Sissi, então, entrou para o Grêmio da Cidade do Senhor do Bonfim. E logo foi convidada para defender o Flamengo de Feira de Santana “profissionalmente”. Precisou sair de casa.

Profissionalmente, diga-se de passagem, bem entre aspas. “Não tinha esse negócio de salário, não. Que isso”. Mas tinha, sim, uma rotina rígida conciliando treinos e estudos.

Dinheiro, mesmo, Sissi só viu já jogando futebol de salão, depois de voltar do primeiro mundial. No campo, foi quando fez parte do São Paulo. No Tricolor, teve pela primeira vez uma carteira assinada e contrato.

Nada disso aconteceu, entretanto, sem que antes, Sissi defendesse a Seleção.

No próximo capítulo desse texto, conheça a trajetória dela com a camisa canarinho.

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