Experiências de sucesso: fazendo a diferença (diferente) II

Após aprovação em um processo seletivo, no ano de 2010 iniciava meu trabalho como professora de EF escolar. A escola era a Cooperativa Educacional de Viçosa, a Coeducar, escola que utiliza o Método de Projetos e que tem seu currículo baseado na proposta de Paulo Freire. Nessa escola trabalhávamos em várias ocasiões em equipes multidisciplinares e discutíamos as práticas corporais imersas em temas do contexto social dos estudantes para a construção de projetos.

Um desses projetos foi a Semana Radical. A ideia do projeto nasceu a partir de uma roda de conversa, onde um dos estudantes durante a aula de EF questionou: “Professora, se skate também é parte da nossa cultura, por que nós não podemos aprender na escola?”

Essa pergunta, que me gerou certa boa inquietação, impulsou na turma a vontade de estudar as atividades de aventura e os esportes radicais que estavam presentes no cotidiano dos estudantes. Decidimos em conjunto que poderíamos desenvolver um projeto sobre o tema na escola.

Desde então, algumas reuniões foram organizadas com a equipe pedagógica e o projeto foi incluído em nosso planejamento escolar. O projeto Semana Radical foi organizado de modo a atender as expectativas entre o conhecimento novo que construiríamos e a prática das modalidades que faziam parte do universo cultural dos estudantes.

Inicialmente, organizamos atividades de maneira conjunta entre a equipe pedagógica e os professores, onde estudantes de todas as turmas, em um esforço de professores de diferentes disciplinas, realizariam pesquisas e discussões sobre as atividades de aventura. As discussões eram norteadas por questões como a história das modalidades, onde são praticadas, como é a prática no Brasil e na nossa cidade, qual o preço da prática e quem pode praticar. A intenção era que os estudantes refletissem também sobre os bastidores das atividades que viriam a vivenciar.

Nesta fase, organizamos com os estudantes um mapeamento das modalidades que nossa comunidade escolar conhecia, quais ela se interessava em vivenciar e quais os parceiros poderíamos convidar para o projeto. Foram também desenhados como e quais espaços da cidade e da região poderíamos explorar.

Decidimos que vivenciaríamos nas aulas de EF Montain Bike, Rapel, Parkour, Patins, Caminhada Orientada e Slackline. Para que a vivência ocorresse buscamos parceiros, convidamos praticantes para oficinas na escola, adaptamos os esportes e equipamentos nas aulas de EF, assistimos a documentários e organizamos visitas e excursões.

Na última semana do Projeto, os estudantes e os educadores compartilharam com a comunidade escolar as experiências culturais desenvolvidas durante todo o andamento da Semana Radical. Foram constituídas também assembleias para avaliação coletiva e apontamentos sobre futuras vivências e novos projetos a serem desenvolvidos.

Nessa experiência, alunos, professores e funcionários participaram da construção do projeto Semana Radical, trabalhando de maneira conjunta para o sucesso das atividades que agora fazem parte do calendário anual da Coeducar.

Mais detalhes sobre esse trabalho e outras possibilidades de tematização dos esportes radicais e atividades de aventura podem ser encontradas no livro “Manifestações Culturais Radicais” da editora CRV.

Texto de autoria da professora Valdilene Nogueira.

 

 

 

Daniel Carreira Filho

24 comentários

  1. IFSP (Redes de Computadores) – Letícia Matheus

    Primeiro, queria comentar que adorei o projeto realizado e que ele deveria ser aderido por outras escolas também, devido a uma série de motivos que citarei a partir de agora.
    Nunca fui muito boa nos esportes, sempre fui meio desanimada para fazer algumas atividades físicas, mesmo sabendo que é necessário para mantermos uma boa saúde. Meus amigos da antiga escola também não tinham tanta motivação assim para correr atrás da bola, como grande parte da sala. Sendo assim, lembro-me muito bem de sempre ficar no canto da quadra com um grupo de amigos, fazendo um esforço ou outro para que o professor percebesse que eu estava ali e me desse alguma nota. Sei que isso pode soar meio errado de minha parte, mas é o que resta ser feito quando seu professor insiste em ensinar as mesmas coisas todo ano (vôlei, basquete, handebol e futsal).
    Lendo esse texto e vendo as ideias do projeto comentado, percebi que as coisas talvez fossem diferentes se a maneira com a qual o professor lidasse com suas aulas, mudassem. Fazer algo diferente, por mais que seja durante uma semana, pode vir a motivar as pessoas, como eu, a se dedicarem um pouco mais e ver como a matéria Educação Física não é feita apenas desses quatro esportes e brincadeiras aleatórias para animar a turma. Logicamente, a mudança deveria vir das duas partes, dos alunos e professores e, com a junção dos dois, poderíamos deixar que as aulas continuassem sendo essa coisa monótona.

    1. Olá, Letícia
      Realmente, você conquistou interpretar corretamente a proposta que a Educação Física passa a considerar.
      parabéns!!!

    2. Olá, Letícia!
      Que bom que gostou do projeto. Espero que essa prática, de alguma forma, contribua para a formação de um olhar mais inclusivo na EF e, que assim possamos continuar na disseminação de práticas corporais que ampliem a cultura de alunos e também de professores.
      Abração e obrigada pelo comentário!

    3. Olá, Letícia. Sou Recém formado em Educação Física e me identifico muito com seu relato de experiências anteriores na educação básica, assim como você eu só tenho lembranças de aulas de esportes coletivos princialmente em minhas vivências também. Quando ingressei no curso em 2016 cheguei com poucos conhecimentos sobre “o que é a EF?”, no decorrer dos anos fui aprendendo novos conhecimentos que me ampliaram sobre novos conteúdos dentro do campo da EF, em um determinado momento me aproximei das Práticas Corporais de Aventura, pois eu pratico a modalidade do BMX e decidi estudar essa temática para meu TCC, é satisfatório sempre ver relatos como o da professora Val, e trazer inspirações tanto para nós professores como para alunos, mudando a visão de uma Educação Física transformadora e inovadora.

      1. Olá, João Willian
        você tem uma excelente oportunidade para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema de seu TCC.
        Veja na Editora CRV – http://www.editoracrv.com.br, vá para a aba de Ciências Humanas, nela vá para Educação Física e encontrará o livro, recém publicado sob o título: APRENDENDO PRÁTICAS CORPORAIS DE AVENTURA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: da escola à universidade
        Terá muitas contribuições ao seu tema.
        Abrços
        Daniel Carreira Filho

  2. É surpreendente o leque de possibilidades existente para práticas esportivas escolares. Até o ultimo ano, a ideia de praticar skate em uma aula de Educação Física era inexistente, mas praticamos e deu certo. Muitos professores, por vezes, influenciados por alunos ou pela instituição, infelizmente se prendem à pratica do quarteto hegemônico, esquecendo da real proposta da pratica esportiva nas escolas.
    Lembro-me de poucas vezes em que meus antigos professores se apresentaram diferentes tipos de atividades, mas me me arrisco à dizer que foram as melhores aulas.
    Estou começando a perceber que a Educação Física é muito mais do que o Quarteto Hegemônico, e é realmente animador ler relatos de uma experiências que vem dando certo!

    1. Olá, Pedro
      As mudanças que vivemos nos animam, e muito, na direção de continuar batalhando pela consideração do humano e de suas possibilidades. Vamos?

      1. Olá, professor
        Estava relendo as matérias e os comentários quando me surgiram algumas dúvidas:
        Como era a pratica de atividades físicas há algumas décadas atrás?
        Se fizermos uma comparação entre o passado e o presente, estamos tendo melhoras ou essas práticas vem perdendo qualidade gradativamente?

        1. Olá, Pedro
          Há sim, muitas diferenças que foram sendo vividas ao longo do tempo. O que você pode ter certeza é que estamos em um processo evolutivo, embora lento e carente de compreensão, valorização e interpretação dos significados da Educação Física no seio da Escola.

  3. Olá, professor.
    Muito legal este projeto, porém muito raro de se ver.
    Na minha antiga escola os professores de Ed. Física não se preocupavam em passar novos esportes para que todos alunos participassem.
    Projetos como esse além de abordar esportes que não são populares é a oportunidade de fazer com que todos os alunos participem das aulas.
    Legal de ver professores apoiando e realizando trabalhos como estes.

    1. Olá, Pedro
      O mundo é feito de avanços, mudanças, novas concepções e atores sociais comprometidos com a mudança, seja mais um deles e teremos ainda mais progresso.

  4. Bom saber que as ideias que os alunos dão podem atender a toda população e podem ser usadas em outras instituições de ensino!
    Na minha antiga escola não tinhamos esse tipo de iniciativa, nem da parte dos alunos e muito menos da parte dos professores.
    Séria muito interessante se outras instituições de ensino, que não tem condições de dar uma aula diversificada para seus alunos tivessem a oportunidade de participar desse projeto em uma escola com mais recursos!
    Carolina [REDES]

    1. Olá, Carolina
      Certamente que sim!!! Depende da socialização dos novos rumos e das possibilidades que são desenvolvidas por professores diferenciados. Você pode ajudar, socializando em seus relacionamentos estas informações, que tal?

  5. O projeto foi muito bem pensado e muito bem estruturado por pessoas maravilhosas. Alem de ser um bem para os alunos é muito importante para o conhecimento de muitos outros esportes.
    Projetos desse tipo alem de mostrar que o esporte é muito amplo, mostra também o avanço dos professores ao demonstrarem interesse na realização dos projetos educacionais, pela preocupação e pelo carinho que os mesmos sentem pelos alunos. Espero que a edução física continue avançando cada vez mais nesses quesitos.

  6. Nas aulas de Educação Física, no meu ponto de vista é muito clichê por diversas vezes a concepção dos alunos sobre, oque é uma aula de educação física, ou oque fazemos numa aula de educação física, eis que os estudantes pensam (parecem serem vidrados nesses pensamentos) que jogar principalmente futsal, basquete, vôlei, handebol, é o principio de tudo aquilo referente a E.F (não estou dizendo que esses esportes não são divertidos de se praticar) e sim que correr atrás de uma bola constantemente é sim algo clichê.
    Vejo que mesmo praticando aquilo que se encaixa melhor na sua performance, é bom sempre alternar entre outras formas de atividades físicas onde tais podem mostram mais da sua pessoa, tanto da sua capacidade física (atlética), sua disposição na pratica das atividades, quanto na sua capacidade de ajudar no entendimento teórico e pratico dos colegas que não possuem as mesmas qualidades que vc. Sendo assim sair de uma zona de conforto e procurar experimentar fazer mais, nunca fui muito bom na pratica de esportes porém confessor interesse pelo projeto do senhor Professor, pois adicionar essas possibilidades de atividades nas aulas mesmo que por um breve momento é genial.
    Apoio muito a mudança que essas atividades iram fazer.

    1. Olá, Vitor
      Sempre haverá uma possibilidade de envolvimento, compreensão e superação dos limites pessoais impostos pela mídia e pessoas com interpretação equivocada sobre a Educação Física Escolar, você é um exemplo de que isso é, realmente, um caminho.

  7. Bom saber que à alunos que tem ideias que podem ter a presença de toda a população, e que podem ser realizadas em outras instituições de ensino!
    Na minha antiga escola não tínhamos professores que tivessem iniciativa na área da Educação Física.
    Seria muito legal se alunos de outras escolas com uma má qualidade de aula, pudessem participar de uma atividade tão bacana igual a essa em uma instituição com mais recursos!
    Carolina (REDES)

    1. Olá, Carolina
      Será possível quando tivermos a clara compreensão sobre os verdadeiros significados da Educação Física Escolar. Quem sabe, se você contribuir socializando em seus relacionamentos estas possibilidades?

  8. Sensacional ver que existe reflexão e prática diferenciada dentro do universo da Educação Física Escolar, que é um universo complicado.

    Acredito que o conhecimento construído coletivamente por todos os atores ali presentes jamais será esquecido.

    Parabéns a todos os envolvidos no projeto e em especial à Professora Valdilene Nogueira.

  9. Olá prof Daniel, achei a experiência muito interessante, e que essa reflexão dentro da Educação Física existe. Pelo meu ponto de vista você “adotou” essa experiência no IFSP de Pirituba, por enquanto esta sendo muito bom esse projeto, e isso podia acontecer mais vezes pois esse tipo de projeto pode despertar um grande interesse em uma pessoa que nunca havia visto esse tipo de esporte.

    1. Olá, Marlon
      Se esta proposta for compreendida, tivermos a oportunidade de dialogar mais e mais com todos e entre todos, há que se esperar um futuro melhor para a Educação, mas mãos de vocês.

  10. Me alegra saber que existem lugares tentando variar as possibilidades de atividades dada nas aulas de Ed. Física. Venho de uma escola que sempre passava os mesmos esportes, raras eram as aulas que mudavam, ou era basquetebol, ou vôlei, handebol e futebol. Não vou mentir, dois destes me alegrava, mas não acho que deveria ser aplicado sempre os mesmo. Quero parabenizar os responsáveis por esta iniciativa, pois não são todos o alunos que se alegram com estes. E tentar colocar em aula atividades presente na cultura dos jovens, além de deixar a aula mais dinâmica, fara com que mais alunos criem interesses em participar e não só ficar ali por obrigação, ou pela necessidade de ter que ganhar nota. Espero que mais instituições tomem esta iniciativa.

    1. Olá, Letícia Cristina
      Existem efetivos avanços na Educação Física Escolar e podemos acreditar na mudança. Mas, tudo depende do envolvimento, da compreensão e novos significados que se pretende atribuir a este componente curricular, em especial entre os jovens. Não é?

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