Experiências positivas: há caminhos para fazer diferença (diferente)I

 

Depois de quatro anos cursando Educação Física me dedico a prestar concursos para ingressar na carreira pública e tentar desenvolver aquilo que acredito serem boas aulas. Depois de várias tentativas, ingresso na rede de Educação da São Bernardo do Campo – SP, para trabalhar na Educação de Jovens e Adultos, a EJA. Sem ter noção nenhuma de como lidar com esse público, pois, na minha formação nunca nenhum professor tinha tocado no assunto de aulas para esse público. Foi um frio na barriga, ou melhor, desespero pedagógico.

Antes de iniciar as aulas me reuni com as coordenadoras das escolas. Detalhe, eu tive que escolher na atribuição cinco escolas, ou seja, iria atender uma escola por dia, integrado a um modelo de ensino baseado em projetos, então, em conjunto com outras áreas do conhecimento, tivemos que desenvolver um projeto. A ideia era que os alunos, por opção, realizassem inscrições na oficina de interesse. Antes de iniciar as inscrições, realizávamos uma breve apresentação da oficina para as turmas, esclarecendo como se desenvolveria o trabalho naquela dada oficina.

Seguindo essa lógica, tendo como base as aulas da faculdade de prática de ensino e de qualidade de vida, e inspirado em uma ideia que surgiu de um grupo de professores recém formados, elaborei um projeto/oficina que discutiria a temática saúde numa perspectiva ampla, que superasse o restrito pressuposto de ausência de doença, trazendo elementos sociais, políticos e culturais que envolvem essa temática. O projeto foi intitulado “Educação Física ao Longo da Vida”.

Diante de tal realidade, ou realidades, fui buscar elementos que poderiam promover uma ampliação do entendimento de saúde que pudessem ser atrativos e estimuladores para os alunos. Com os conhecimentos sobre práticas pedagógicas e temas relacionados a qualidade de vida, doenças crônicas, atividade física, nutrição e entre outros apresentados na faculdade, visualizei uma boa possibilidade de aulas para as turmas da EJA.

Com muita desconfiança, ao iniciar as inscrições nas escolas, achava que ninguém iria optar pela oficina da Educação Física, pois, na apresentação deixei claro que não teria futebol e sim uma forma nova de ver a Educação Física e seus temas, rumando para discussões culturais e políticas que envolvem a temática saúde.

Quando foram liberadas as inscrições, tive a maior surpresa, uma fila bem numerosa se formou nas inscrições da oficina de Educação Física, nela, tinham jovens, pessoas de meia idade e idosos. Ao ver aquilo, fiquei novamente preocupado de como iria lidar com um público tão heterogêneo nas idades. Foi então que logo me veio à cabeça os jogos cooperativos, como tive contato com essas atividades na faculdade pude iniciar o planejamento das aulas. Detalhe, nessas oficinas, sendo uma em cada escola e dividida nos cinco dias da semana, ou seja, eu tinha um encontro por semana com duração de três horas e meia com cada turma, algo que dificultava o planejamento, por ser um encontro muito longo e que exigia uma criatividade imensa da minha parte.

Foi nesse cenário complexo, dinâmico e imprevisível que iniciei minha carreira docente na Educação Física Escolar, utilizando recursos diversos como vídeos, textos, jornais, revistas, biblioteca, música, dança, jogos, brincadeiras, jogos cooperativos, debates e passeios aos parques da cidade que pude contribuir para a área e principalmente para aqueles alunos. Me recordo de algumas falas que marcaram aquelas aulas como: “nunca achei que a saúde era política”; “professor, a Educação Física desse jeito é bem diferente”; “O professor nos mostrou uma nova forma de ver as coisas, o parque é nosso e devemos usar ele”; “Saúde depende muito de políticas públicas que atuem na causa e não na doença”.

Mais detalhes sobre esse trabalho e outros podem ser encontrados no livro “Educação Física Escolar e Saúde: perspectivas e possibilidades”, editora CRV, de autoria do professor Uirá de Siqueira Farias.

Daniel Carreira Filho

19 comentários

  1. Olá Professor, Parabéns pela matéria.

    Realmente o desafio foi grande, inicio de carreira pedagógica e já o compromisso para ministrar aulas para pessoas de idades e gostos diferentes não deve ter sido nada fácil, porém pelo resultado obtido entendo que a estratégia usada foi eficaz.
    Com base no texto vimos que quando há apoio do poder público somado a pessoas que estão dispostas a ajudar as coisas acontecem. O planejamento para este projeto foi feito de uma maneira interessante, que não visava apenas esportes tradicionais como futebol, que geralmente exclui as pessoas, talvez por não serem muito boas ou até porque o número de participantes no time é limitado. Mas sim o planejamento foi feito de forma criativa e dinâmica, utilizando diversos recursos tais como vídeos, textos, jornais, revistas, música, dança, jogos cooperativos, que estimulavam a todos os participantes destas aulas a verem e aprenderem a Educação Física de uma maneira diferente.
    É muito importante então o diálogo entre professor e aluno para que numa aula consiga a maior participação possível da turma em diferentes modalidades ou brincadeiras cooperativas.

    1. Olá, Marcela
      realmente, a diversidade e a preocupação com a individualidade e participação conduz ao sucesso para todos.

    2. Marcela, muito obrigado pela contribuição, e sim, a preocupação com participação de todos foi o grande desafio é contribuiu muito para o meu processo de reflexão. A EJA necessita de um olhar atento pela Educação Física Escolar. Obrigado

  2. Olá, professor.
    Tive o prazer em conhecer o Professor Uirá, no Congresso Nacional de Formação de Professores de Educação Física, em Londrina. E bom saber que temos colegas que estão realmente fazendo a diferença na vida dos alunos.
    Parabéns pela matéria.

    1. Olá, professora Helli. Realmente vivemos momentos felizes com o crescimento de professores de Educação Física fazendo grande diferença em seus espaços de mediação do conhecimento. Quem sabe, um dia, poderemos ter o reconhecimento social que desejamos e que sejam superadas as mazelas vividas na educação. Você é a esperança de avanços. Encaminhe suas ideias, críticas e experiências, teremos enorme prazer em publicar suas provocações. Abraços

    2. Helli, obrigado pelo participação, como você indicou, estive no Congresso e sempre busco conhecer as práticas pedagógicas dos professores que estão lutando em meio a tantas dificuldades que a Educação sofre no Brasil. São nesses fóruns que podemos trocas nossas experiências e refletir sobre nossa prática. Obrigado.

  3. Professor! Um grande exemplo de projeto e trabalho, podendo lidar com uma das maiores dificuldades hoje em dia, a diferença. Entre opostos, idades e gêneros, um grande desafio assim imagino. Que conseguiu colocar bem no papel e na vida com suas experiências e sua grande imaginação ao lidar com esse público que confiou e se interessou pelo seu trabalho e ideias.
    Um plano bom desenvolvido, não só ao mexer pelo esporte Futebol , assim mostrando que também a outro jeito de ver a Educação Física, achei interessante seu modo de pensar e evoluir certos pensamentos, conseguindo assim pessoas até com mais idade e outras menos, assim conseguindo uma grande perspectiva de um projeto bem feito.
    E você conseguindo fazer isso muito bem nas Escolas, inclusive na minha onde consigo ver a Educação Física de modo diferente e único, onde pessoas de vários jeitos e modos podem se divertir e aprender.

  4. Professor! Um grande exemplo de projeto e trabalho, podendo lidar com uma das maiores dificuldades hoje em dia, a diferença. Entre opostos, idades e gêneros, um grande desafio assim imagino. Que conseguiu colocar bem no papel e na vida com suas experiências e sua grande imaginação ao lidar com esse público que confiou e se interessou pelo seu trabalho e ideias.
    Um plano bom desenvolvido, não só ao mexer pelo esporte Futebol , assim mostrando que também a outro jeito de ver a Educação Física, achei interessante seu modo de pensar e evoluir certos pensamentos, conseguindo assim pessoas até com mais idade e outras menos, assim conseguindo uma grande perspectiva de um projeto bem feito.
    E você conseguindo fazer isso muito bem nas Escolas, inclusive na minha onde consigo ver a Educação Física de modo diferente e único, onde pessoas de vários jeitos e modos podem se divertir e aprender.

    1. Olá, Thayanne
      Realmente, são projetos diferentes e audaciosos que conquistam superar os limites e favorecer o humano.

    2. Thayanne, vivemos um momento bem complexo na sociedade, a escola necessita se aproximar dessa discussão para tentar entender e traçar caminhos pedagógicos que nos ajude a formar pessoas críticas e que saibam valorizar a diferença, algo que acontece muito na EJA. A educação física também vem passando por um processo de mudança, mais acentuado a partir de 1980, e hoje notamos mudanças interessantes nas práticas pedagógicas. A educação é um campo de luta. Muito obrigado pelas contribuições no post.

  5. Olá professor.
    Ótima a sua colocação diante da educação física. Imagino como foi difícil lidar com pessoas de diferentes idades e costumes em seu início de carreira pedagógica. Hoje em dia na maiorias das aulas de educação física são trabalhados os esportes tradicionais como o futebol, vôlei, entre outros ligados nessa rede. Com o resultado foi boa a sua prosposta, grande número de participantes inteiressados nessa “nova educação física”, sobre um projeto com que todos trabalhassem o corpo fazendo-lhes perceberem que a educação física trabalha também sua política. Eu mesmo percebo isso em nossas aulas e para mim isso foi uma grande transformação, pois não se trabalhava isso em minhas antigas aulas do ensino fundamental.

    1. Olá, Stéfane
      Há, sempre, possibilidade de transformação e aprimoramentos. Temos que nos dispor à mudança o que, às vezes, é muito difícil.

    2. Olá Stéfane, muito bom saber que você também tem refletido em suas aulas, até já chama de “antigas aulas”. Legal, eu também vivo nesse constante processo de aprendizado que a prática pedagógica nos proporciona. A EJA foi o momento mais rico da minha carreira até agora, pois lá eu tive as maiores dificuldades, e aprendi muito com outros professores de outras áreas. Incluir todos os alunos dessa modalidade de ensino é desafiador. Obrigado pelas contribuições no post.

  6. nossa professor! incrível que uma pessoa como você já viveu tantas experiências assim, lendo essa matéria, percebi que não foi um caminho fácil, pois você não segue o que a maioria dos professores de educação física seguem hoje em dia, que é simplesmente dar uma bola de futebol para os meninos, e de vôlei para as meninas, e o mais legal de tudo isso é perceber que a proposta elaborada pelo senhor, foi bem aceita, nas aulas em que eu pude este junto a você foi tudo diferente do que eu era acostumado a fazer na minha antiga escola, que era simplesmente a professora dando uma matéria por bimestre, mas sempre era futebol, vôlei, basquete e handebol, contudo quando cheguei à escola e tive uma aula com o senhor mandando a gente correr de um lado pro outro, diferente de tudo o que eu tinha visto, muito interessante…. parabéns pela matéria, e pelo seu trabalho maravilhoso.

    abraços!!!

    1. Tiago
      As alterações e avanços somente serão possíveis, e o são, por existirem pessoas abertas e dispostas à transformação. Siga assim e contribua o máximo possível com todos. Grato pelos elogios.

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