Educação levada, muito, a sério

“ Educação é uma renovação contínua que a criança faz à luz das experiências por que passa” (Dewey, 1910)

Nesses quase 30 anos trabalhando e convivendo com o sistema educacional japonês, pude tirar algumas conclusões que reforçam ainda mais o pensamento que tenho sobre a importância de oferecer à essa meninada oportunidades para buscarem e encontrarem seus respectivos rumos.

No Japão existem 15.536 escolas do Jardim da Infância, 19.652 escolas primárias, 10.199 ginásios e 4.874 colégios. Além de 2.437 faculdades e 781 Universidades, incluindo as privadas e as públicas.

O sistema educacional é dividido em: Pré-Escola, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Universitário. Com 100% de matrículas no Ensino Fundamental, que são divididos em 6 anos para o primário e 3 anos para o ginásio. Desses, 98% seguem para o Ensino Médio, que basicamente são de três anos. 76% dos alunos que terminam o ensino médio passam a frequentar uma Universidade

Não existem escolas gratuitas, nem mesmo as públicas. Mesmo não pagando pelo material didático, despesas como alimentação, uniforme, viagens e álbuns de formatura são pagos pelos pais ou responsáveis. Já nas Universidades, você paga tudo, e bem caro.

Nunca conheci e nem ouvi falar em analfabetos por aqui, mas dados de 2005 mostram que existiam 0.05% de analfabetos num país com 126 milhões de habitantes. Mas passado 15 anos, pode ser que a situação tenha melhorado, e esses dados tenham diminuídos.

Com exceção do primário, os alunos ficam aproximadamente 7 horas na escola, estudando as nove matérias básicas que são: matemática, ciências, língua japonesa, estudos sociais, estudos ambientais, música, arte e artesanato, assuntos domésticos e educação física.

Depois das aulas formais, começam as atividades extracurriculares, que podem ser escolhidas entre esportes, música, ciências e artes. É nessa hora que a escola “pega fogo” porque os alunos se empenham de uma maneira diferente, por estarem nas aulas de sua preferência.

Como professor de Educação Física, me concentrarei na área esportiva, porque quase 80% dos alunos escolhe um esporte como atividade extracurricular, e isso mostra a “força” que possui uma atividade física dirigida de maneira responsável.

Somente como ilustração, uma das escolas que trabalhei, tínhamos os seguintes esportes para serem escolhidos: tênis, futebol, beisebol, natação, badmington, basquetebol, voleibol, handebol, judô, kendô, tênis de mesa e rugby e atletismo. Algumas escolas ainda oferecem Sumô, Arco e Flecha, Esgrima e Pólo Aquático.

Todas as escolas públicas possuem ginásios cobertos, amplo espaço para brincar, play ground, piscinas, entre outras instalações. Já nas escolas particulares, as coisas são mais sofisticadas, como ter  elevador dentro do ginásio, salas para reuniões com projetores, pistas de atletismo com revestimento de última geração, quadras somente para aquecimento, piscinas com painel eletrônico, etc.

As aulas são praticamente diárias, com duração média de 2 horas, com os alunos frequentando as atividades inclusive aos sábados e domingos. São vários jogos amistosos, e os campeonatos estudantis fazem a alegria da meninada.

O lado ruim é que os alunos chegam para as aulas às 8:30 da manhã, e dependendo do horário e da atividade escolhida, saem da escola entre 18 e 19 horas, sobrando pouco tempo para outras coisas que o aluno gostaria de fazer, como estudar uma outra língua, ou até não fazer nada.

Particularmente, sempre me pego pensando se essa carga de estudos e atividades extracurriculares não sobrecarregam esses meninos/as. Por isso, sempre fico atento aos seus semblantes. Se notar alguma coisa diferente, vou lá verificar.

Por outro lado, quando vejo que o sistema educacional nipônico ficou em segundo lugar, atrás apenas da Finlândia, numa pesquisa global, e à frente de países como Dinamarca, Noruega, Suécia e Reino Unido, sou obrigado a parar para pensar um pouco mais sobre tudo isso.

Mas, tenho comigo, que independente dos resultados de pesquisas globais, há um pouco de exagero nas atividades escolares dos alunos japoneses, e acho que o sistema de ensino está precisando de uma renovação.

Mas falaremos disso numa outra oportunidade.

“A educação é um sistema de ações que dá conhecimento do mundo ao nosso redor e o transforma em algo melhor”.

Texto encaminhado pelo professor Edison, atuante no Japão. Paremos para pensar no que nós, brasileiros, estamos fazendo ou deixando de fazer!!!

Daniel Carreira Filho

3 comentários

  1. Bom, nós brasileiros já fomos totalmente envergonhados na ultima Copa do Mundo em nosso país, não somente pela surra que tomamos da Alemanha dentro de campo, mas principalmente quando mostraram a torcida japonesa limpando a dita “sujeira” que eles haviam feito no estadio, durante o jogo.
    Aquilo foi simplesmente um “tapa na cara” dos brasileiros !!!
    Que fique bem claro que EDUCAÇÃO já se começa por aí.
    Mas o brasileiro prefere esquecer ou fazer vista grossa, e sim dar ênfase as convocações que o Tite faz a cada jogo da seleção.
    Só lamento digníssimo autor, que o senhor venha, de repente, ficar preocupado com a carga de estudos e atividades extracurriculares dos alunos japoneses.
    Por favor, tenha dó. Essa atitude só podia mesmo vir de um brasileiro. Coisa de gente preguiçosa e vagabunda. Saiba que é justamente essa carga elevada que faz com que eles tenham educação e principalmente bom gosto. Ou alguém já viu algum desses japoneses ouvindo Anita e Jojo Todynho ? Alguém já viu algum desses japoneses vidrado assistindo Big Brother ou A Fazenda ?
    O Brasil vai precisar de no mínimo, mais quinhentos anos pra, quem sabe Deus, conseguir arrumar alguma coisinha, se é que se pode arrumar algo por aqui.

    O texto termina com a frase “Paremos para pensar no que nós, brasileiros, estamos fazendo ou deixando de fazer!!!!”

    O brasileiro não está fazendo absolutamente NADA !!!

    E pensar que a educação é o pilar pra tudo nessa vida.

    1. Gustavo,
      A educação japonesa ainda é considerada uma das melhores do mundo, mas atualmente está enfrentando alguns problemas. O sistema foi criado utilizando como base o sistema militar, por isso, os alunos vestem uniformes muito parecido com fardas militares.
      Ela está alicerçada na disciplina e na hierarquia, mas a educação atual precisa um pouco mais do que isso. Haverá mudanças no currículo escolar e na forma como alguns valores são passados a partir de 2023. A próxima base para a educação japonesa será a criatividade e o desenvolvimento do pensamento crítico.
      Só para completar… os japoneses são os que têm o menor interesse em ter sucesso no trabalho segundo uma pesquisa da Persol Research Institute, entre 14 países da Ásia e Oceania, incluindo Tailândia, Austrália, India, Indonésia, entre outros. Num índice de O a cinco pontos, ficou com 2,9 pontos. Numa outra pesquisa para saber se havia interesse em adquirir novos conhecimentos fora do trabalho, apenas 53,7% disseram que sim, enquanto alguns países chegaram a 98%.
      Educação é um sistema móvel que, como tudo, precisa ser atualizado.

    2. Gustavo,
      Todo método de ensino precisa ser atualizado porque a sociedade também muda.
      Apesar de ter um sistema de ensino exemplar, o Japão está em mudanças de um sistema baseado na disciplina para outra que exigirá criatividade e desenvolvimento do senso crítico.
      Atualmente os japoneses não dão muita importância para adquirir novos conhecimentos após formados, e ocupam uma das últimas posições quando o assunto é crescer profissionalmente. Tudo isso, somado aos mais de 30 mil suicídios/ano, e outros 1 milhão de jovens em idade produtiva confinados dentro de suas casas por “incompatiilidade” em viver na sociedade atual.
      Dentre os membros do G7, os japoneses são os que menos dominam a língua inglesa, e os que menos interesse tem em aprender um segundo idioma.
      Por passar muitas horas nas escolas, as crianças ficam sem tempo para outras atividades extra curriculares, o que tem acarretado problemas quando chegam na idade adulta.
      Esse sistema de ensino que prioriza a disciplina funcionou até agora, mas o país carece de pessoas que saibam pensar “fora da caixa” e que tenham coragem de enfrentar novos desafios.
      Outra coisa… não existe a mínima comparação entre a educação japonesa e a brasileira, pois além de culturalmente serem muito diferentes, as condições econômicas e de infraestrutura são enormes. Apenas como ilustração, o Japão, um país tão pequeno, possui 10 montadoras de automóveis (Toyota, Nissan, Mitsubishi, Mazda, Honda, Isuzu, Hino, Subaru, Suzuki, Daihatsu).
      Um grande abraço.

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