Em uma de mossas incursões pela educação básica, especificamente pelo ensino médio, tivemos a oportunidade de mediar o conhecimento entre adolescentes de 14 a 16 anos de idade. Nossa proposta foi a de desenvolver vivências de diferentes manifestações culturais e esportivas de escolha dos alunos e alunas. Entre as propostas tivemos a escolha da Capoeira. Para esta experiência individual e coletiva, os alunos convidaram um professor da modalidade para, em um dia com duas aulas de duração, vivenciarem as atividades da modalidade.
Quando discutíamos, previamente (uma semana antes da vivência) com todos os alunos tal perspectiva, um dos participantes afirmou “professor, não sou negro por qual razão devo realizar esta atividade”.
De imediato todo o grupo se voltou para o colega com ares de surpresa e indignação exigindo nossa intervenção. Foi a partir desta ocorrência que foi possível dialogar sobre diversidade, racismos e preconceitos com todos os adolescentes.
Foram momentos iniciais tensos e repletos de manifestações de repúdio ao colega. No entanto, este verbalizou que tal consideração veio do lar em que a modalidade é considerada, de forma equivocada, como resultado de atividades de vândalos, desocupados ou até de bandidos. Por último, típico dos negros escravos e, portanto, não da cultura dos homens brancos.
O tema foi discutido em conjunto com os demais docentes da escola e ampliada para as demais turmas. No final do processo, o aluno participou ativamente da vivência e desculpou-se junto aos colegas pelo preconceito que carregava consigo desde muito tempo.
A educação física escolar não se resume à prática de atividades meramente esportivas ou físicas. Temos um amplo espectro de temas para correlacionar com o mundo.
Tenho minhas críticas aos currículos pós-críticos exatamente por esse tipo de questão. Um aluno, influenciado fortemente pelo ambiente família com um preconceito nojento, vai conseguir mudar de opinião por si próprio? Devemos sempre tematizar os temas e criticar suas contradições.
Observemos a força da Educação Física, onde conseguimos vivenciar e refletir diversas culturas, questionar a cultura hegemônica e, claro, como foi dito, mostrar suas contradições. Por que um sujeito, que se formou enquanto um professor, iria preferir o movimento com o fim em si mesmo? Além de anticientífico, tira a legitimidade do componente na escola.