A propósito da (in)coerência

Acreditamos que as profundas alterações promovidas na e pela Educação Física Escolar, envolvendo a proposta de apropriação, aprofundamento e ampliação da cultura corporal de movimento mediada pelo componente curricular Educação Física, nos permitem, neste momento, encaminhar algumas questões que, durante o processo de transição desse componente, não eram significativas.

Agora, porém, ouso provocar os leitores do Blog quanto a algumas observações do cotidiano escolar.

Imaginem, não é necessário ter aguçada a competência de imaginar, se um docente do componente curricular informática tivesse à sua disposição apenas um computador para a apropriação pelos alunos dos saberes básicos sobre os recursos, por exemplo, da família Office. Não, não, isso não ocorreria jamais em nossas escolas, no mínimo temos um computador para cada dois alunos em sala. No entanto, como a falta de recursos para manutenção desses equipamentos é notória e crescente, imaginem ter os 20 computadores necessários à uma turma de 40 alunos mas, todos eles, sem teclados, por exemplo.

Por outro lado, adentramos ao mundo do saber intelectual não pautado exclusivamente pela tecnologia da comunicação e informação (TIC´s) e notamos que em uma mesma sala com os mesmos quarenta alunos temos um livro “didático” para cada aluno desenvolver sua curiosidade investigativa sobre, por exemplo, a “história de seu país”. Todos os alunos podem, a um só tempo, acessar as informações contidas no documento “comum” que lhes é ofertado. Imaginem, agora, se todos os quarenta alunos tivessem acesso, a um só tempo, a textos de diferentes autores, origens e posicionamentos políticos, sociais e econômicos para a construção de seus saberes sobre o tema proposto. Magnífico, não??

Agora, vamos para o espaço que a escola denominou de quadra. Aquele que existe, sem qualquer adaptação ao ensino, ao respeito à individualidade dos aprendizes, que mantém as mesmas condições preliminares exigidas pelo esporte ou esportes institucionalizados. Pois bem, surgem os primeiros problemas. Todos os alunos, a um só tempo, apresentam diferentes domínios sobre a tarefa pretendida, rigorosamente determinada pelo professor, e devem, em um espaço construído com base na modalidade esportiva competitiva, apropriarem-se de saberes sobre aquele conhecimento desafiador.

E, para ampliar os conflitos, temos, invariavelmente em todas as escolas, apenas um material que serve ao processo de apropriação de saberes. Uma bola. Na maior parte das vezes, murcha, rasgada e que foi adquirida pelos professores ou “vaquinha” entre os alunos.

Assim é que deitam falação os gestores da educação, das políticas educacionais para a corporeidade, das políticas para o esporte rendimento que, segundo os mais astutos, tem como celeiro a escola. Pobre Escola, pobres alunos e todos os atores sociais que tentam, cada qual em seus espinhos, colher frutos para todos os quarenta alunos de uma mesma turma. Em breve tagarelaremos sobre o ano letivo e as oportunidades.

Prof. Dr. Daniel Carreira Filho

Daniel Carreira Filho

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