A Educação Física Escolar é para todos

 

 

Historicamente as pessoas consideradas “diferentes” sempre foram excluídas nos contextos sociais. Vale lembrar que as aulas de Educação Física sempre se revelaram espaços excludentes, para crianças e jovens menos habilidosas, com deficiência, para os “gordinhos”, “os baixinhos” e, muitas vezes, para as mulheres. Contudo, vale ressaltar que a escola, e em especial, as aulas de Educação Física poderia ser considerado um microcosmo da sociedade em geral. Em parte este processo de exclusão acontece por uma dificuldade da instituição escolar em romper com os modelos e representações sociais historicamente construídos e reproduzidos em inúmeros meios de comunicação e expressão. Em outras palavras, a escola, grade parte das vezes não contribui para mudança na cultura e sim para reproduzi-la.

Cotidianamente as escolas brasileiras são desafias a olhar para a individualidade e particularidade dos processos de aprendizagem de seus alunos. Esse olhar ganha proporção quando este desafio é aceito e implica em compromisso de todos que nela trabalham. Vivemos, e isto é facilmente constatado, momento histórico de repensar nossas ações de inclusão, efetiva e afetiva, de nossos semelhantes com deficiência a ser superada (eliminar as barreiras que vão para além das físicas).

Preocupamo-nos em atender a diversidade em seu fenômeno complexo dentro do contexto escolar valorizando as diferenças, apresentando potencialidades e discutindo as diferentes possibilidades. Não se trata da padronização dos processos, mas de um olhar que parte da compreensão de cada fenômeno que compõe esse grandioso e nobre desafio, educar. Não de forma isolada, mas como um dos componentes curriculares da escola que, em suma, deve atender a todos indistinta e simultaneamente.

A Educação Física apresenta-se como área do conhecimento favorável para lidar com os conceitos inclusivos educacionais, por meio de procedimentos e propostas inclusivas que desenvolvem competências atitudinais emergentes das práticas corporais durante as aulas, seja por meio dos jogos, dos esportes, da ginástica, da dança, das lutas ou esportes de combate, habilidades circenses e inúmeras outras possibilidades da cultura corporal de movimento.

Para que se conquiste esta abrangência e a atenção a todos os alunos e alunas é indispensável que tenhamos a transformação didático pedagógica das práticas da cultura corporal de movimento que atendam às diferenças individuais, princípio básico da transição para uma Educação Física Escolar para todos e todas.

Professor Roberto Gimenez – autor e organizador do livro “Educação Física inclusiva na Educação Básica: reflexões, propostas e ações.

30 comentários

  1. A educação física me ajudou muito, principalmente na adolescência, onde era a “estranha” por ser muito alta e magra. Eu era a mais alta do time, tirava boas notas, enfim eu me sentia a estrela da escola. Foi aos 11 anos que comecei a jogar vólei na escola onde estudava e me apaixonei pelo esporte. Cheguei até a sonhar em jogar na seleção brasileira de vôlei, ganhar uma olimpíada pro meu país, dar orgulho a minha nação. Mas como não tinha times onde eu pudesse jogar tive que deixar o vólei de lado e fui estudar pra tentar passar em medicina. Posso não ter “dado certo” no vôlei, mas aprendi muito com ele.

    1. Olá, Juliana. Agradecemos sua contribuição para as discussões no Blog. Por favor, poderia esclarecer se as oportunidades para participar do que você denominou time eram nas aulas de Educação Física ou em horário especial para a formação da equipe representativa da Escola?

      1. Caro Daniel, como eu estudava no horário da tarde (das 13:00 ás 18:20), os treinamentos do time de vôlei da escola eram de segunda, quarta e sexta, das 08:00 ás 10:00 hs. Para entrar no time você tinha que ter boas notas (não podia ter nota baixa ou vermelha). Nós que eramos jogadoras do time usávamos as aulas de educação física para treinar com os meninos, já que tínhamos equipe feminina e masculina.

        1. Olá, Juliana e amigos do BLOG. Imaginávamos que sua resposta seria esta. As alunas e alunos com habilidades superiores, com destrezas desenvolvidas e com o “biotipo” adequado para os esportes e para se tornarem membros das equipes representativas, foram beneficiados ou tratados de forma diferente dos demais. É exatamente este o ponto que desejamos desenvolver no BLOG. Qual a razão de não termos atenção a todos os alunos e favorecer a todos? Veja que sua fala relata o horário especial para os treinamentos, que eram para alguns (nada contra essa proposta). O problema é utilizar a aula que é para todos em prol dos competidores e, de certa forma, abandonar os que mais necessitam. Mas, vamos dialogando pelo BLOG com muitos professores que estão se manifestando agora. Grato

  2. As aulas de educação física que fiz na escola primária,depois no saudoso parque infantil e depois no clube, fizeram de mim aos 76 anos uma senhora saudável e jovial!

    1. Olá Lisette.
      Muito obrigado por sua participação aqui neste espaço.
      Sua história de vida, sua vivência com a Educação Física ultrapassa os significados que muitos atribuem à esta prática no seio da escola. Quem dera tivéssemos inúmeras “Lisettes” para encaminhar nossas crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos no caminho da prática das atividades da cultura corporal de movimento. Seria muito melhor e saudável se a escola conquistasse superar o sedentarismo.
      Abraços

  3. Caro Daniel, as aulas de educação física sempre foram úteis para mim, mas sempre fui parte do padrão e do normal, altura, peso, agilidade e interesse em atividades físicas. Mas lembrando as demais estudantes, um pouco diferentes, elas ficavam sentadas no banco, somente assistindo, pois quando tentavam participar eram motivos de risos. Havia um cadeirante que sequer ia até a quadra, para evitar que a aula lhe causasse mais tristeza.
    Há alguma entidade que hoje saiba conduzir as aulas / práticas de forma mais inclusiva? As práticas atuais já juntam os meninos das meninas? Me recordo que as aulas eram separadas.
    Abraços

    1. Olá, Priscila.
      A formação de professores para a Educação Física Escolar tem buscado oferecer condições para a existência de formas para o acolhimento de todos os participantes da aula. Muitas escolas já não separam mais seus alunos por gênero e abandonaram as práticas excludentes. No lugar surgem formas pedagógicas que estimulam a alteridade, a cooperação e a participação que observa os limites e possibilidades individuais dos alunos e alunas. Mas, como todo o processo de transformação é gradativo, convivemos com algumas instituições escolares que insistem em manterem-se no passado. Mas, as mudanças estão em curso. Grato pela provocação.

  4. Algumas escolas podem até abrir espaço e realizar outros métodos para todos participarem, assim não havendo exclusão de alguns alunos, mas na minha opinião também é preciso que os próprios alunos da escola ajudem uns aos outros, pois sempre tem aquele colega que sabe praticar algum esporte melhor, podendo ajudar o próximo que tem mais dificuldades com o mesmo ou não sabe nada. Se esse ato de ajuda dos próprios alunos fosse algo mais frequente nas escolas, acho que a exclusão iria diminuir muito, pois todos participariam com a ajuda um do outro, sem que alguns fossem ”zoados” por não saberem praticar o esporte tão bem quanto outros alunos. Até mesmo em treinos fora do horário de aula, algumas pessoas sentem receio em participar, pois acham que quem vai ao treino já sabe mais ou menos praticar o esporte, e assim acaba desistindo por medo de virar motivo de risada.
    Em algumas atividades que aconteciam na minha escola antiga, várias meninas e meninos não queriam participar, pois falavam que não sabiam jogar/praticar a atividade. Porém ninguém nasce sabendo praticar algo, é necessário aderir conhecimento e treinar, por isso é importante que todos se ajudem.
    Grande parte que se acha incapaz de praticar algo não tomam atitudes por si só para tentar aprender, mas se há alguém que esteja disposto a ajudar ao seu lado, o interesse em aprender se torna presente.

    1. Gabrielly
      Suas considerações relatam, com precisão, um dos maiores equívocos que ocorreram nas aulas de Educação Física por muitos anos.
      A principal atitude que precisamos ter em grupo é, exatamente, a aceitação do outro, com suas possibilidades, limitações e desejos.
      Saber compreender o outro e com ele progredir. Parabéns, pelas suas colocações.

  5. É muito importante que, diariamente, possamos ter a consciência do quanto a nossa área pode ajudar no processo de inclusão social… são tantas ferramentas, tantas formas, tantas atividades que não consigo compreender como existem professores mais novos que ainda insistem apenas no quarteto fantástico (ie. vôlei, futsal, handebol e basquete). A inclusão é algo tão presente que TODOS os alunos precisam dessa ideologia, mesmo os “habilidosos”, pois as práticas corporais são tão amplas e complexas, que é impossível que todos sejam aptos à tudo. Dessa forma, é ignorância pensar que só os “gordinhos”, os que possuem deficiência motora ou física necessitam de estratégias de inclusão. Por isso a importância desse texto…..Agradecemos pela fala tão relevante…
    Francisco José
    Profissional de Educação Física – licenciatura

  6. Na minha opinião, os esportes nunca deveriam ser algo que excluísse alguém de praticar, pois todos nós temos direitos iguais. Algumas pessoas tem certas dificuldades com esportes, mas não é impossível de superar isso. CRIANÇAS, principalmente crianças, não podem ser excluídas de algo só porque tem algumas deficiências ou não encaixam no tal do “padrão”. Somos todos iguais e podemos superar nossas dificuldades.

    1. Olá, Bruna
      Suas observações são coerentes.
      O que nos falta é, exatamente, caminhar com esta visão nas aulas de Educação Física Escolar e ampliar as possibilidades de inserção de todos e todas.

  7. Sempre foi comum na Educação Física, descartar as pessoas tidas como desiguais,no entanto não se pode achar isso normal,todos devem ter o direito de praticar atividade física sem nenhum tipo de constrangimento.
    É papel da escola e dos responsáveis ensinar para crianças e jovens que existe uma imensa diversidade de indivíduos com vários tipos de habilidades, e que ao invés de nos dividir, precisamos nos ajudar. Dessa forma é possível auxiliar os colegas e aprender com os mesmos. A Educação Física, assim como a escola num todo necessitam ser um espaço de inclusão e não de exclusão.

    1. Olá, Gabriela
      Perfeita sua colocação, a Educação Física não é diferente de todas as demais atividades na e da escola. Muito bom!!!!

  8. Olá, professor Daniel
    Excelente texto! A leitura me fez refletir e recordar das minhas experiências nas aulas de educação física. Na escola onde cursei o ensino fundamental, a educação física era dividida entre dois grupos, posso dizer assim. Haviam panelinhas de alunos que se desempenhavam bem e que adoravam as aulas, participavam, se destacavam e aqueles que simplesmente não participavam ou não se sentiam bem participando por se sentirem inferiores (eu estava inclusa nesse grupo). Eram sempre os mesmos jogos, brincadeiras, atividades, times e quando acontecia de deixar os alunos escolhe-los, eu tinha certeza que seria uma das últimas a ser chamada para jogar. Essas situações fizeram com que atividades físicas não fossem meu forte e com que eu fugisse delas. Atualmente, ainda me sinto intimidada ao participar de algumas atividades, mas aprendi a superar meus obstáculos. Sei que isso não acontece somente comigo e na escola que frequentei.
    O meu objetivo ao contar isso é mostrar que é injusto divergir as pessoas segundo seu desempenho e que deveria haver uma colaboração, não somente da parte dos docentes mas também dos discentes, para ajudar aqueles que não se saem tão bem quanto eles. Todos temos o direito de participar sem nos sentirmos oprimidos e excluídos. Assim como existem pessoas com um melhor desempenho em determinadas matérias, existem pessoas com mais talento para determinados esportes. Nós devemos nos ajudar em todos os contextos e situações, fazendo com que todos se sintam confortáveis, acolhidos e acima de tudo capazes de fazer tudo que quisermos. É preciso conhecer nossos limites e superar nossas dificuldades. A escola deveria ser um ambiente onde não precisamos fazer isso sozinhos e sabemos que temos alguém nos ajudando. As aulas de educação física deveriam significar diversão (não que elas sejam apenas um horário “livre”, somente para descontrair, mas digo isso por serem aulas mais dinâmicas) para todos e não somente para alguns.

    1. Olá, Gabriele
      Realmente, as estratégias comumente utilizadas, como as que você relata, são responsáveis pelo afastamento das pessoas das práticas da cultura corporal de movimento.
      Esperamos que através do BLOG seja possível apresentar novos olhares sobre esse componente curricular.
      Abraços

  9. A escola deve ser um lugar não só de aprendizagem mas também de inclusão, e a inclusão nada mais é do que um aprendizado. A educação física é uma parte importantíssima da escola, pois ensina aos alunos como trabalhar em equipe e como incluir a todos, de modo que sejam partes importantes. É o espaço onde alunos deveriam aprender a conciliar as características pessoais do individuo, porem esse espaço é usado muitas apenas para lazer, As aulas de Ed. Física da maioria das escolas se baseia na pratica de quatro esportes, nos quais pessoas baixas eram excluídas, ou pessoas mais gordinhas se não excluídas eram postas na defesa, de maneira que os ridicularizava dizendo que ocupariam mais espaço. Porém, as principais excluídas das aulas eram as garotas, muitas vezes as mesmas se colocavam de fora por ter um esteriótipo pré-implantado em suas cabeças de que mulheres não devem fazer esportes. O que obviamente não é verdade, já que as mulheres ganharam muito espaço no mundo dos esportes, nada mais justo, já que são igualmente aptas e habilidosas.
    Sim, esse é um momento histórico! O conceito popular deve ser mudado, pois a educação física pode e deve ser conciliada de forma pedagógica á inclusão, adaptando dificuldades com praticas que já existem porém não são utilizadas na maioria das vezes.

    1. OLá, Carlos
      A transformação da Educação Física Escolar vem ocorrendo desde os anos de 1980. Há que se conquistar avanços tanto nas práticas quanto nas discussões entre os docentes e discentes.
      Seu posicionamento confirma a importância deste Blog e sua abrangência. Grato

  10. Boa noite, professor Daniel!
    Primeiramente gostaria de parabeniza-lo pelo texto.
    Acredito que a educação física escolar realmente deva ser um ambiente inclusivo, afinal muitas das cargas que levamos para a vida surgem dali.
    Eu particularmente não tive experiências muito boas com a educação física escolar. Estudei por 11 anos em uma escola particular aqui de São Paulo e as aulas de educação física sempre se resumiram a futebol, handebol, vôlei, basquete e queimada. Desde muito cedo possuo muito medo da bola e se quer sei como supera-lo, então nunca participei das aulas práticas.
    Além disso acabei me tornando uma pessoa sedentária e que possui uma extrema dificuldade de fazer esportes nas aulas de educação física que possuo hoje.
    Mas mesmo com essas experiências negativas acredito muito em tudo que o texto disse. A escola realmente tem o poder de incluir as pessoas que geralmente são rejeitadas.
    Infelizmente nossa cultura hoje não é inclusiva com os deficientes, por exemplo, e as escolas dificilmente tentam mudar isso.
    Parabéns pelo blog e sempre muita boa sorte e vontade na sua jornada de educador, fiquei admirada com os textos.

    1. Olá, Gabriela
      Não desista. Tente aproximações, exija ser respeitada em suas limitações. Dialogue com seus colegas e faça prevalecer suas possibilidades e supere os limites hoje presentes. Abraços

  11. Quando eu comecei minha vida na educação física ( na escola mesmo, na natação e no judô) eu era particularmente bem gordinha, eu sofria bullying por causa disso e por tanto não tinha a minima vontade de fazer as atividades físicas! Minha mãe pagava a natação e o judô na minha escola a parte é mesmo assim eu ia pouquíssimas vezes.
    Mas no entanto quando eu participava da educação física ( que ocorria duas vezes por semana ou talvez uma, dependia do dia) era sempre as mesmas coisas, ou queimada, ou futebol, ou vôlei, ou basket, ou handboll, todos me excluíam, sempre a ultima a ser escolhida, e quando era 5ªfeira, eu já não aguentava mais, assim então era a minha vida.

    1. Olá, Rafaella
      Uma lamentável vivência propiciada por equivocadas visões. Mas, você pode superar esta realidade vivida. Há muito para ser feito por você.

  12. Olá Professor Daniel, Excelente este texto! Me lembrei de minhas experiências em Educação Física em meu ensino fundamental que não foram uma das melhores. Sempre fui mais individualista nas aulas pois tinha (e tenho) muita vergonha, pois não sou muito boa em esportes e fico com medo de ser motivo de piada por isso. Principalmente em minha antiga escola eu convivi com uma desigualdade nesta área de aprendizado, pois o professor quase sempre separava a turma em equipes, uma com “os melhores” praticando esportes com mais adrenalina, correria,etc, e outra com “os inferiores e desajeitado” praticando esportes mais simples e fáceis (volei, por exemplo). Ou separavam em equipes tendo uma apenas de meninos e outra de meninas praticando esportes diferentes também ( os mais simples para as meninas ) mais isso não ocorria sempre.
    Eu acho isso completamente errado pois como o próprio texto acima disse, os esportes devem ser aplicados, ensinados e tem todo o direito de ser praticado por todos e para todos igualmente.Porém isso não ocorre em todos os locais, oque é uma das causas na qual existe a desigualdade de gênero, racial, etc. Bom é isso que tinha para dizer, adorei este texto professor, parábens!.

  13. Olá professor . Você me fez lembrar da Educação física que tive no colégio em que estudei. Era de freiras, la todo sábado tinha Educação física. A professora era rígida igual as freiras mas gostava por que la eu não era excluída. Tínhamos que fazer todos os exercícios. Já na escola dos anos iniciais tinham os grupinhos e salas por letras. Não gosto muito de lembrar….sempre ficava nas letras c, d… piores salas.. la elas excluam.. só filhinhos de papai sobressaía. Educação física ninguém queria algumas quando eram equipes. E eu era uma delas. Muito errado por parte da equipe pedagógica. Esportes, sao para todos sem distinção. Mas isto tudo nao me fez desistir de estudar e ajudar a todos para que não precisem de passar por tudo que passei. Sinto orgulho por fazer trabalho voluntário em escola especial APAE aqui da minha cidade. Faço Educação Especial para nao correr o risco de ser igual a tantos professores que excluem certos estudantes. Cresci muito com tudo isso. Adorei o texto. Belo trabalho. Um grande abraço.

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