A escola recebe crianças, adolescentes e jovens adultos com diferentes perspectivas de vida, habilidades e potencialidades que devem (obrigatoriamente) merecer a atenção dos atores sociais que mediarão a aquisição de conhecimentos (os professores).
Com a Educação Física, componente dessa formação social, não poderia ser diferente no entanto e infelizmente ela tem sido relegada, desvalorizada e até substituída com o processo de terceirização do ensino que algumas escolas (as particulares) assumiram para si.
Em outro ponto, apoiado por pais ou responsáveis, a escola faz marketing de seu ensino apontando para a formação de equipes representativas da instituição como sinônimo de qualidade para este componente.
Imaginemos se a escola atuasse com esta mesma perspectiva para os demais componentes escolares. Dedicar atenção apenas aos mais hábeis, aos melhores e selecionados humanos, abandonar os menos hábeis à própria sorte (alunos que ano após ano, por não gostarem da modalidade esportiva que o professor gosta, ou que não há qualquer alteração didática para a participação destes, ficam nas arquibancadas assistindo aos mais hábeis – a aula de “expectador esportivo”). Imaginem este fato ocorresse com o componente curricular Matemática. Atenção apenas aos alunos que disputarão a Olimpíada de Matemática e os demais relegados à própria sorte. Inadmissível, não? Mas, qual a razão de concordarmos que isto ocorra com nossos filhos e netos no componente curricular Educação Física? Seria por considerar que o conteúdo é lazer? Recreação? Nada se aprende de significativo? Realmente o conteúdo é para poucos, os hábeis? Seria o futebol de salão a alternativa masculina e a queimada a feminina? (Possivelmente muitos dos leitores vivenciaram estas “únicas” experiências da cultura corporal de movimento).
Obviamente que não. A questão está na visão equivocada que se formou no entorno da Educação Física Escolar. Ela, como todos os componentes, tem como objetivo desenvolver o conhecimento sobre inúmeros fatores da vida e do movimento. Somos corpo socialmente representado, vivo e atuante.
Qual a razão de anos a fio nossos alunos terem apenas experiências com quatro modalidades (basquete, voleibol, handebol e futsal) em detrimento de sua alfabetização corporal? E, pior ainda, observando o modelo do esporte performance sem qualquer modificação que se ajuste às suas competências individuais.
A Educação Física Escolar vai muito além deste denominado “quarteto hegemônico” equivocado. A cultura corporal de movimento humano é muito mais rica e promissora do que esta limitada e excludente visão.
Portanto, devemos ter a amplitude de conhecimentos sobre a corporeidade, sobre as relações com o universo das práticas corporais presentes em diferentes culturas, a oferta qualificada e individualizada para a aprendizagem (não o modelo único do esporte institucionalizado).
Um simples exemplo: em uma turma de alunos de quinta-série do ensino fundamental, temos meninos e meninas, com diferentes habilidades, competências e desejos e 40 deles em um mesmo momento. Nossa proposta é a de oferecer a oportunidade para o salto em altura. Em qual altura colocaríamos o sarrafo? Inicialmente, não deve ser um sarrafo apenas. A todos os alunos é necessária a vivência para evoluir, um caminho que seja próximo ao sucesso de cada um deles. Simples a solução, vários sarrafos colocados na perpendicular em relação ao solo. Haveria o “desafio” constante ao aprimoramento e competências de cada aluno. Não apenas os hábeis. E a didática antiga, retirava da experiência exatamente aqueles que mais precisavam dela. Lembram-se do jogo das cadeiras? O primeiro a sair era exatamente o menos hábil, o que mais precisa vivenciar para progredir, mas era o que com menor possibilidade contava. Isto pode valer para a brincadeira em uma festa, mas jamais para a aula que é para todos e com desafios condizentes.
Olá, Professor Daniel!
Texto que descreve bem nosso cotidiano escolar. Pensamos em práticas revolucionárias, mas a escola continua arraigada aos modelos antigos. Fico feliz em saber que pessoas como o senhor trazem reflexões como essa e também em saber que há instituições que respiram uma formação de qualidade para que seus alunos possam trabalhar para melhora desse quadro. Não só a Educação Física, mas também outras áreas, mudam sua perspectiva frente ao aluno, consideram suas experiências, limites e saberes contextualizando o conhecimento para que possa ser aplicado no fito de que todos sejam incluídos e façam parte de uma escola, de uma sociedade melhor que respeita o próximo e pensa do bem do coletivo.
Grato!
Olímpio Ferreira
Professor do Município de Fortaleza
Olá, Aline
Realmente, as oportunidades para as crianças e adolescentes se apropriarem de conhecimentos sobre as práticas da cultura corporal de movimento devem ser como você aponta. No entanto, boa parte da sociedade ainda entende que a Educação Física Escolar é sinônimo de esporte com a concepção voltada para a competição esportiva.
A Educação Física é muito importante nos dias de hoje , pois com ela o aluno possui o movimento do corpo em diferentes tipos de esporte , claro se o professor ensinar corretamente, eu por exemplo em minha antiga escola a maioria apenas queria futebol na educação física e com isso a minoria acabou deixando de lado e parou de fazer a aula, isso acontece muito nas escolas.A função da Educação Física seria de investigar como grupos sociais se expressam pelo movimento, entende-las e experimenta-las. A Educação Física é muito mais do que só diversão mas é a compreensão de diferentes movimentos. E isso não acontece no Brasil e é isso que deve mudar.
Olá, Murilo
Certamente, você e seus colegas poderão mudar a realidade. Participar do processo de transformação da Educação Física Escolar, iniciando por incentivar a escola, os professores e os colegas na direção da busca de novas formas e associar ao estudo da realidade vivida.
A Educação Física escolar deve ser um fator que inspire os alunos a sempre estar evoluindo suas práticas. Um professor de Educação Física deve procurar sempre trazer uma variedade de modalidades para que não somente um grupo de alunos consiga praticá-los com satisfação, mas sim para que todos os alunos descubram quais tem mais afinidade e habilidades, e as modalidades que não tem, para que consigam se aperfeiçoar e, consequentemente, praticá-las melhor.
Com uma variedade exposta pelo professor, os alunos aprenderão sobre modalidades já conhecidas e também sobre as pouco conhecidas, ou até mesmo deixadas de lado e, quem sabe, acabar se apaixonando por alguma delas. A Educação Física não deve ser apenas uma coisa prática. Devemos aprender como o nosso corpo funciona para que possamos praticar as modalidades da melhor forma possível, sem haver problemas para nossa saúde.
Um fator comum na Educação Física escolar é o problema de gênero. Essa de “alguns esportes são só para meninas e outros só para meninos” não é válido. Muitas meninas podem ser muito boas em esportes que a sociedade julga “dos meninos”, assim como muitos meninos podem ser muito bons em esportes que a sociedade julga “das meninas”. Por isso, não deve haver uma separação de modalidades em que os meninos só podem praticar tais modalidades e as meninas só podem praticar outras. Cada pessoa tem suas habilidades e deve ser estimulada a continuar se empenhando no que é bom e a melhorar no que não é.
Olá, Rafaella
Sem dúvida, são estas as premissas que são consideradas nas aulas de Educação Física Escolar. E acrescentaria a questão do conhecimento que aguçará o senso crítico indispensável à todo cidadão ou cidadã.
A Educação Física deve buscar um modo de entreter todos os alunos, levando diversas atividades e modalidades para que todos possam se adequar e participar. O professor jamais deve passar apenas um esporte e deixar os alunos se virarem e obrigar os que não tem afinidade com o tal esporte jogar o mesmo, o professor deve passar a teoria, os fundamentos, para depois levar os alunos à prática do tal, para que assim os alunos conheçam o lado teórico dos esportes e não só o lado prático, pois há chances de alunos não terem afinidade com a prática mas ter afinidade com o lado teórico.
O trabalho de um professor de Educação Física é ajudar o aluno a aprimorar suas habilidades, não levando em conta o esporte, o professor deve incentivar todos os alunos, para que os mesmos sempre evoluam.
Dentro da Educação Física nas escolas, há uma divisão muito grande entre meninos e meninas(desigualdade de gênero), muitos dos meninos se negam a deixar as meninas participarem de “seus” esportes(como futebol), alegando que as mesmas não possuem as mesmas capacidades, esse problema acontece ao contrário também, as meninas muitas vezes não aceitam a participação dos meninos, o professor não deve deixar isso acontecer e deve estabelecer uma colaboração de ambos os lados.
É importante também as aulas teóricas, para que os alunos aprendam como são estabelecidas as funções de seus corpos e seus limites.
Olá, Marieta
Perfeitas suas colocações. A única observação que faço é para a questão de “entreter” os alunos. A Educação Física Escolar antigamente era vista como um momento de recreação, lazer ou sem qualquer compromisso com a aprendizagem para além do “fazer” movimentos. A preocupação, como você mesmo coloca é o desenvolvimento de atividades que envolvam o conhecimento – como você disse, teórico – A isso denominamos cultura corporal de movimento humano. Fantástico!!!!
A educação física na escola é exatamente isso, não só para os mais habilidosos e sim, para todos. Infelizmente, em algumas escolas a realidade é outra, quem sabe jogar/fazer os exercícios tem acaba sempre se destacando e os que não sabem ficam de lado. Quando na verdade, os que não sabem deveriam tentar aprender, e os que sabem ajudar. Isso deveria ser dito as crianças desde a primeira aula de Ed. Física na escola, e ser reforçado todos os anos pelos professores. Eu estudei em uma escola particular por 10 anos e sempre foi assim, muitas pessoas ficavam de lado, enquanto a minoria jogava. Além disso, também tem a discriminação entre as meninas e os meninos, os meninos sempre jogam futebol e as meninas queimada. Por que as meninas não pode jogar futebol? E o meninos não podem jogar queimada ou qualquer outra coisa? E por que não um jogo misto? São perguntas que muitos professores de Ed. Física ignoram e não fazem nada a respeito. Eu tinha muitas amigas que gostavam de jogar futebol, mas não podiam entrar no jogo dos meninos e nem montar um com as meninas, porque a maioria não gostava. Todos devem experimentar todos os tipos de atividades e ter o direito de fazê-las. Ótimo post, explicou certinho o que se passa em muitas escolas.
Olá, Laura
Fantásticas observações. Vivemos um tempo de respeito a diversidade e não podemos mais aceitar as mazelas vividas.
Creio que seremos uma sociedade melhor, não?
Boa noite, professor!
Infelizmente é a realidade de muitas escolas hoje em dia. A Educação Física que deveria ser uma aula em que TODOS participassem, acaba sendo uma aula de exclusão, onde o mais habilidoso tem mais “destaque” e o que tem dificuldade, fica “apagado”. Assim, o aluno perde a oportunidade de aprender e se desenvolver… Como, por exemplo, quando formamos grupos para alguma competição, lógico que o mais habilidoso irá se destacar (e muito), sendo assim o melhor do grupo, enquanto o(s) outro(s) sera(m) “apagado(s)”. Por que ao invés de fazer uma competição para ver quem é o melhor, não formam grupos para fazer algum exercício que necessite que todos joguem igualmente? Assim, um ajudaria ao outro e todos se divertiram e aprenderiam.
Se mais professores e funcionários pensassem assim, muitos estudantes gostariam de participar das aulas…
Olá, Giovanna
O que você apresenta como proposta é o desejo dos professores de Educação Física atualmente. Parabéns!!
Boa noite professor Daniel!
De fato, a educação física na escola é vista apenas como recreação, lazer e uma disciplina sem valor ou importância. Isso infelizmente está enraizada em nossa cultura brasileira, mas felizmente, vem evoluindo nesse sentido.
A EF não é apenas a prática de esportes, os alunos precisam vislumbrá-la como uma importante disciplina e uma área do conhecimento que engloba também os movimentos corporais e mentais.
As pessoas acabam não valorizando a EF por imaginarem ser apenas um “passa tempo”, mas não enxergam a importância que ela possui na formação de qualquer ser humano e em qualquer faixa etária.
Acontece também, que muitos alunos acabam não participando das aulas, pelo fato de haver um pensamento de que algumas atividades e esportes são apenas para meninos e outras apenas para meninas, que envolve a desigualdade de gênero e até mesmo, a exclusão daqueles que possuem mais dificuldades e menos habilidades. É importante que as aulas sejam diversificadas, pois cada um tem sua peculiaridade, potencialidade e habilidade.
A EF como processo de aprendizagem contribui para o desenvolvimento do corpo e da mente, e pode-se incluir no seu contexto, como por exemplo, danças, rodas, lutas, jogos e aulas teóricas, referentes aos aspectos biológicos e sociais.
Olá, Marcely
Se houver aproximação, discussões e oportunidades adequadas a todos os participantes certamente teremos as mudanças vividas intensamente.
O texto define muito bem como muitas escolas no Brasil tem atuado na disciplina, onde deveria haver mais diversidade não apenas nas atividades práticas mas também teóricas ou em equipamentos para que todos os alunos se sintam bem e confortáveis para praticá-las. Infelizmente, em muitas escolas, a educação física fica “excluída” ou como a “aula livre”. Em minha antiga escola, até a quinta série, o professor fazia questão que todos participassem da aula e proporcionava diferentes atividades, aos passar os anos, o mesmo professor foi substituído e o novo não fazia tanta questão que todos participassem da aula e “liberava” o futebol ou a queimada para os alunos, e quem não tivesse interesse ficava arquibancada. É bem triste ver que a educação física tenha sido assim não só para mim, mas para muitas pessoas que eu também vi aqui nos comentários… essa disciplina tem a mesma importância que as outras e não é apenas jogar futebol ou praticar exercícios, é muito mais que isto! é entender nas aulas teóricas sobre diferentes tipos de esportes ou atividades e assim dar oportunidade para eles, é entender como o nosso corpo funciona e como devemos praticar atividades corretamente e ver o seu benefício na saúde, e é compreender que a educação física é muita mais do que apenas jogar bola na quadra. Acredito que ainda podemos mudar isso nas escolas, a disciplina é boa e deveria ser mais explorada nas escolas.
Olá, Mirella
Você pode ajudar a mudar o estado da arte na Educação Física. Socialize em seus relacionamento os posicionamentos que conheceu e aprovou. Quem sabe, um dia, teremos mudanças na Educação.
Realmente, cada vez mais as aulas educação física são deixadas de lado pelos alunos. Essa limitação de esportes praticados nas aulas afasta ainda mais os alunos do que se tivesse alguma outra atividade ou esporte para praticar. Nenhum aluno deveria ser descartado por não seguir um padrão ou não ser eficiente naquele esporte ou atividade, afinal, todos são diferentes e todos são eficientes em diferentes coisas. Essa “discriminação” vem aumentando e afastando a educação física das escolas e os educadores não fazem nada à respeito.
Olá, Raquel
Você tem razão na crítica. Mas, não podemos culpar apenas os professores, há um universo de razões para tal atitude, às vezes a própria sociedade não valoriza a corporeidade. Que tal você provocar pessoas a pensarem e se apropriarem de conhecimentos para superar esta realidade?
Olá, Amanda
Realmente, o que você vivenciou pode ser resultado de compreensão equivocada sobre a Educação Física Escolar. Mas, não devemos culpar exclusivamente aos docentes por esta realidade. Há um universo de questões que merecem e devem ser considerados. Se houver maior socialização dos significados e finalidades da Educação Física Escolar, especialmente entre pais, a mudança poderá surgir.